[França] O anarquismo pragmático | Não contem conosco para fazer parte dos anarquistas esquerdistas

Desde as últimas eleições legislativas, temos assistido ao florescimento de uma noção de anarquismo pragmático, que seria um anarquismo mais moderno e que votaria à esquerda para impedir a extrema direita de chegar ao poder. Adeus ao parlamentarismo anarquista tradicional e bem-vindo ao mundo das pessoas responsáveis que cumprem seu dever de cidadãos colocando um voto na urna ou apertando um botão. Não discutiremos desta vez nosso abstencionismo recorrente, mas insistiremos na inconsistência da esquerda francesa, pela qual não temos qualquer responsabilidade nas guerras de egos e poder. Nossos inimigos frequentemente nos acusam de nos trancarmos em nossa torre de marfim e de que é muito fácil estar certo contra todos. No entanto, gostaríamos de dizer aos nossos detratores que a lei do trabalho e as ordens do presidente Macron são responsáveis pelo enfraquecimento da representação sindical nas empresas. E que Hollande [ex-Presidente da França] aumentou nossa idade de aposentadoria com Marisol Touraine. Que a esquerda está bem dividida e não precisa de nós para isso. Que a esquerda não é anticapitalista nem antimilitarista, ao contrário dos libertários. Que a esquerda pretende aumentar as despesas militares, etc. Que o antissemitismo borderline de Mélenchon não nos agrada; que flertar com os militantes trotskistas do seu ex-partido, a OCI, não nos entusiasma, tanto mais que muitos militantes “insubmissos” relatam uma certa violência nas relações dentro do movimento populista. Que seguir Glucksman [político francês] não nos convém, pois ele é muito social-democrata e segue os passos de Hollande. Que os ecologistas partidários são políticos que só aspiram ao poder. Que nos lembremos das trajetórias políticas de François de Rugy, Brice Lalonde… sem contar as travessuras de certos eleitos com comportamento sexista e abusador etc. Os ecologistas sempre foram os suplentes do PS [Partido Socialista]. E trabalhar com comunistas de um partido stalinista é fora de questão; decididamente, os libertários estão a milhas de distância dos microcosmos políticos. E é a estes últimos que devemos nos unir para fazer barreira à extrema direita.

Aliás, Macron, Attal e companhia fizeram mais de escada do que de barreira ao RN [Reagrupamento Nacional].

Então, os anarquistas estão confinados a ver os trens passarem? Claro que não.

Para nós, o anarquismo pragmático tem outro sentido e outra prática. Quando vários horticultores, agricultores e criadores biológicos se juntam para criar uma quinta e um restaurante associativo, mesmo que nem todos sejam anarquistas, a iniciativa é anarquista. Quando um ex-funcionário público se reconverte em padeiro biológico e o seu forno solar é construído por estudantes de engenharia mecânica, a padaria pode não se chamar “a conquista do pão”, mas o espírito libertário está bem presente. Quando um centro cultural reúne uma biblioteca operária e juvenil, um centro documental, pintores, escultores e atores… para criações e exposições, isso se inscreve em um certo espírito libertário. Quando são ministrados cursos noturnos voluntários, quando as crianças são “orientadas” por animadores e professores libertários em atividades extracurriculares, etc., isso faz parte de uma concepção ampla e prática da pedagogia libertária. Quando festividades como o centenário da greve das sardinheiras em Douarnenez fazem sentido comum, ultrapassando as barreiras partidárias, isso também faz parte do espírito libertário combativo e memorial. Quando uma creche autogerenciada é criada com pais que doam seu tempo para reduzir custos e prestar serviços, essa é mais uma prática libertária em vigor.

Quando militantes se envolvem nas ZAD [Zonas A Defender), coletivos de luta contra o extrativismo, o enterramento de resíduos nucleares etc., muitos anarquistas estão presentes nessas lutas e lhes conferem um espírito autogestionário, mesmo que seja necessário manter a guarda alta para evitar a tomada do poder por certos protagonistas.

Quando 300 a 400 pessoas montam uma mercearia solidária e cooperativa, onde os associados doam seu tempo para fazer funcionar a estrutura sem funcionários permanentes, isso reforça nossas posições libertárias. Quando outra mercearia solidária faz um cadastro de idosos e deficientes que não podem se deslocar e recebem entregas, isso contribui para a ajuda mútua. Nas associações esportivas, libertários promovem o prazer do esporte longe das competições; nas associações culturais, um vento libertário sopra às vezes em lugares onde não se esperava.

Há mil e uma maneiras de dar vida à Ideia. Inúmeras experiências de SCOP [Sociedade Cooperativa e de Produção, um modelo de empresa democrática, NDT], de retomada do controle dos meios de produção, estão se ampliando. Não é preciso esperar pelo Grande Dia e muito menos pelos políticos, que sabemos que mais cedo ou mais tarde trairão. Vimos desfilar a esquerda plural no Primeiro de Maio de 2025 em Dunkerque para ressuscitar a ideia da nacionalização da ArcelorMittal, o que permitiria salvar os empregos e o aço francês. É novamente o país da fantasia. Por que essa esquerda política deixou fechar os altos fornos de Florange quando estava no poder com Hollande? Porque esses políticos têm facilidade em dizer que “as finanças são nossas inimigas” para captar os votos dos ingênuos, mas não deixa de ser verdade que os líderes da esquerda também são defensores do sistema capitalista. 

Os planos sociais se sucedem e a LVMH, multinacional que registra lucros superiores a 12 bilhões, pagou ao mesmo tempo três bilhões de dividendos ao seu principal acionista, Bernard Arnault, e demitiu 1.200 funcionários da sua subsidiária Moët Hennessy, principalmente por não substituir os funcionários que se aposentaram.

Portanto, os libertários não querem a vergonha nem a desonra de apoiar tal sistema. Se ser anarquista pragmático é votar nesse sistema injusto, não contem conosco para fazer parte dos anarquistas esquerdistas que só querem ficar na cola de políticos em busca de reconhecimento.

Ty Wi (GLJD)

Fonte: https://le-libertaire.net/lanarchisme-pragmatique/

Tradução > Accattone

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Maré outonal.
As ondas quebram na areia
Bem devagarinho.

Benedita Silva de Azevedo

[Uruguai] A esquerda é uma droga sistêmica

Por Raúl Zibechi | 07/05/2025

No Equador e na Bolívia, estão ficando evidentes as piores atitudes das esquerdas e dos progressismos. Em ambos os casos, trata-se de um desvio pragmático que substitui a ética pela ambição de poder e luxos, deixando de lado qualquer proposta programática e transformando a política em um mero exercício de acomodações personalistas para obter vantagens. Isso não é novidade, certamente, mas nos dois países mencionados, tudo já acontece sem a menor tentativa de disfarçar.

No Equador, os nove assembleístas do Pachakutik, partido de esquerda vinculado ao movimento indígena, assinaram um acordo com o governo de Daniel Noboa (classificado por essas correntes como ultradireitista) para lhe dar governabilidade, já que ele não tem maioria parlamentar. Eles declararam que agiram por “amor ao país”, mas escondem as prebendas que obtêm com essa atitude, que abre as portas para um governo antipopular, privatista e profundamente repressivo.

O partido de Rafael Correa não ficou atrás. Depois de firmar um acordo com a esquerda indígena e com o Pachakutik para apoiar Luisa González no segundo turno das recentes eleições, a candidata propôs ninguém menos que Jan Topic (outro ultradireitista) como futuro ministro do Interior, caso vencesse as eleições. Trapaças sobre trapaças, rasteiras por todos os lados, que só servem para desmoralizar as forças que se dizem de esquerda.

Na Bolívia, há pouco a acrescentar ao teatro do absurdo protagonizado por Evo Morales e pelo presidente Luis Arce, ambos do mesmo partido. Rafael Bautista resumiu isso claramente em um artigo recente: “Por trás de todas as ofertas de ‘salvar a Bolívia’, não há nenhuma salvação, apenas a vantagem proporcionada por uma situação criada para dar continuidade espúria ao mesmo círculo vicioso de um sistema e uma cultura política esgotados (que ainda pretendem preservar aqueles que veem o poder político apenas como um bem patrimonial).”

O pensador boliviano acrescenta que “nos 14 anos do ‘governo da mudança’, também se manteve o prebendalismo e o corporativismo dirigente para empoderar setores por pura conveniência política.” Sem diferenças programáticas, a disputa entre Morales e Arce se reduz a uma bruta e simples luta por poder pessoal, onde os caudilhos substituem propostas políticas por ambições individuais.

É a isso que a esquerda no continente foi reduzida: ambições de caudilhos e pequenos grupos para pegar as migalhas que caem da mesa do banquete neoliberal. Os povos ficam de fora dessa especulação das elites progressistas e só aparecem como recurso para derrotar o adversário. Porque já não conseguem disfarçar com palavras a crise ética que os envolve sem remédio.

O mais triste é que não há o menor sinal de autocrítica, que os líderes persistem no engano, seguindo um caminho que leva ao desastre sem consultar ninguém, a não ser sua própria sombra. Separar a ética da política foi o mesmo que se entregar ao mais cruel pragmatismo, onde se destacam as ambições pessoais. Nada mais.

Devemos entender que a esquerda é coisa do passado. Não podemos continuar presos à ideia absurda, desmentida mil vezes pelos fatos, de que existe uma contradição direita-esquerda, porque são exatamente a mesma coisa. As supostas diferenças são apenas um teatro, um show, para manter a população e os movimentos pendurados em um dilema inexistente.

O fim das esquerdas anda de mãos dadas com a crise do Ocidente, onde elas nasceram, e com as mudanças sísmicas e traumáticas do sistema-mundo, que não trazem nenhuma melhoria para os povos, mas apenas para as elites que já estão se acomodando diante das transformações que virão.

Mas, acima de tudo, devemos entender que os políticos de esquerda são parte das elites, dos de cima, que aprenderam a manipular os modos dos de baixo para enganá-los melhor. As mentiras demorarão um tempo para serem descobertas pela população que os apoia, mas não serão eternas, por mais danosas que sejam.

Uma última questão: o capitalismo não se sustentaria se não existisse a tal “esquerda”. O sistema precisa dela, assim como precisa de drogas para facilitar a dominação, porque é assim que controlam os desejos populares e suas organizações. Em suma, a esquerda é uma droga sistêmica.

Fonte: https://desinformemonos.org/la-izquierda-es-una-droga-sistemica/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Nas águas do mar
Águas-vivas flutuam
Tranqüilamente …

Miranda

Comunicado: 1ª Jornada Internacional Anarquista da Amazônia/Brasil | “Jornadas ANTI-COP”

Prezadas companheiras e prezados companheiros,

Como lembrete, e para aquelxs que possam estar interessadxs em se juntar a nós em nossa luta, a COP30 está sendo organizada em nossa cidade este ano, e ficaremos felizes em receber todxs xs ativistas libertárixs que queiram participar de atividades de protesto e denúncia da mais hipócrita das cúpulas destinadas a nos proteger das desgraças criadas pelos próprios organizadores do evento.

Teremos prazer em recebê-lxs e envolvê-lxs nos protestos planejados que estão sendo preparados no momento.

Agradecemos qualquer ajuda material que vocês possam nos fornecer (equipamentos de informática, áudio ou vídeo, por exemplo) e esperamos encontrar todxs que queiram se juntar a nós na luta que promete ser particularmente acirrada nas terras devastadas pelo agronegócio na Amazônia.

Além disso, ajudar-nos pode ser feito (e muito) compartilhando para todos os seus contatos libertários estas informações. Isso pode nos permitir conseguir levantar um verdadeiro bloco anarquista durante os dias de protestos que Belém vai conhecer durante a COP30.

Visto que os nossos povos amazônicos já estão mobilizados contra as leis que o governador do Pará tentou implementar contra eles, esperamos que a militância do Brasil como um todo e vindo dos outros países e continentes se faça presente conosco.

Para realizar isso, vamos hospedar, de modo militante, em nossas casas xs companheirxs oriundxs de fora do Pará. Para nos avisar da sua vinda, é só nos enviar uma mensagem eletrônica neste endereço: cclamazonia@gmail.com, indicando as datas de permanência em Belém e eventuais informações específicas a respeito das necessidades de hospedagem.

Em seguida, retomaremos contato para acertar os detalhes e confirmar a possibilidade de alojamento militante.

Ia JORNADA INTERNACIONAL ANARQUISTA DA AMAZÔNIA/BRASIL
“Jornadas ANTI-COP”

Data: 10 a 21 de novembro de 2025
Local: Belém / PA / Brasil


Vocês devem pensar em ter:
Uma rede
Um mosquiteiro
Repelente para mosquitos
Protetor solar
Um adaptador de tomada UE/EUA/Brasil

* Obs: em um outro chamado, pedimos um valor para a estadia dxs companheirxs. Após uma revisão dessa proposta, decidimos alojar de maneira solidária (gratuita) xs companheirxs que vão se juntar à nos nessa jornada.

Centro de Cultura Libertária da Amazônia – CCLA
Rua Bruno de Menezes (antiga General Gurjão) 301 – Bairro Campina – Belém do Pará.
cclamazonia@gmail.com
cclamazonia.noblogs.org

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No frescor da sombra
Caldo pelos cotovelos —
Manga madura

Neiva Pavesi

[Finlândia] Vídeo | Principais aspectos da perseguição à comunidade LGBTQIA+ russa

Esta apresentação explora a situação atual da comunidade LGBTQIA+ na Rússia e destaca os desafios contínuos que ela enfrenta. Também inclui estatísticas de novembro de 2024, oferecendo uma visão geral do processo de refúgio para requerentes russos LGBTQIA+ na Finlândia, incluindo diretrizes gerais do procedimento oficial, a situação real e as dificuldades encontradas pelos requerentes.

Gravado no festival “Father Frost Against Putin” em 11 de janeiro de 2025.

Apresentação de Alex (Aleksandr) Nesterov – ativista LGBTQIA+ e de direitos humanos, defensor contra a guerra, fotógrafo e designer. Solicitante de asilo na Finlândia, Alex é membro ativo da QA:FI (Queer Asylum: Finland) e da Comunidade Democrática de Pessoas de Língua Russa na Finlândia. Ele esperou mais de 29 meses por uma decisão do Migri (Serviço de Imigração da Finlândia) e recebeu asilo após o festival.

>> Veja o vídeo aquihttps://www.youtube.com/watch?v=REOO3JRZSYA

Fonte: https://avtonom.org/en/news/key-aspects-persecution-russian-lgbtqia-community

Tradução > acervo trans-anarquista

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enamoradas…
as nuvens cinzentas
apagam o sol…

Rodrigo de Souza Leão

[Rússia] Apresentação do livro “Anarquismo e Filosofia da Educação. Experiência Pós-Soviética” em Yerevan

Em 11 de maio, às 20h, Maria Rakhmaninova, editora da Akrateia, PhD em Filosofia, fará uma apresentação de seu livro “Anarquismo e Filosofia da Educação. Experiência Pós-Soviética” em Yerevan, no espaço Мама джан (Spendiaryan 5).

O livro é a primeira coleção de entrevistas com educadores libertários no espaço pós-soviético e oferece ao leitor um panorama das experiências de várias práticas educacionais, desde a pedagogia da primeira infância até a educação universitária. Graças às muitas obras traduzidas que apareceram em russo nos últimos anos, não é segredo hoje que a tradição da educação anarquista tem uma extensa geografia, um rico corpo teórico e uma história impressionante. Em muitas regiões do mundo, esse campo do pensamento e da prática social vem sendo desenvolvido há muito tempo e de forma intensa. Para o mundo pós-soviético, esta tentativa de resumir a experiência contemporânea da educação libertária é a primeira. O livro explora as trajetórias de sua formação nos contextos tensos dos mundos pós-soviéticos e as possíveis direções para pesquisas futuras.

A coleção estará disponível para compra na reunião.

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Cigarras em coro
Ecoam no cemitério
Quebrando o silêncio.

Neide Rocha Portugal

Contra todas as igrejas | Poema anticlerical

Por Carlos Pereira Junior

Contra todas as igrejas

Nenhuma igreja me dirá o que pensar, / como viver, sentir e existir. / Nenhum papa, pastor ou embusteiro / me reduzirá a rebanho, / ou me porá de joelhos. / Pois não não acredito em metafísicas, / nas mentiras de um livro santo / e na sua moral duvidosa. / Repúdio a ideia de salvação, / hierarquias e ordem divina. / Contra a ilusão de vida eterna, / sou carne, mundo, finitude, / devir e imanência. / Não tentem ditar o que pode minha consciência.

. . .

Poema anticlerical

Alguma coisa morta / ainda se move / dentro de nós / através de toda metafísica. / Alguma coisa fedida, / podre e sagrada / ainda nos define a consciência da vida / como um suposto fato além matéria, / do mundo e da alegria Dionisíaca. / Nada é mais repugnante / que esta ilusão divina / que ainda sustenta o poder de estado, papas, pompas e hipocrisias.

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Ao fim da fogueira
Apenas cinco cachorros
Dormindo ao redor.

Miyoko Namikata

Sobre o Comunitarismo Ácrata 2

A adoção de um programa mínimo comum de construção de um sistema tecnológico básico de obtenção de autonomia relativa (o que poderia ser denominado de Programa “Pró Comum”) por parte dos entes comunitaristas ácratas, em todos os níveis, é algo altamente desejável, por se configurar em uma meta e desafio unívoco que por isto mesmo comporta o potencial de mobilizar conjuntamente as energias dos entes diversos das redes em torno da concretização ágil de estruturas de sustentabilidade fundamentais para a sua consolidação inicial e posteriores desenvolvimentos. Tal sistema tecnológico, para ser minimamente sustentável, deveria abranger todo um conjunto de necessidades básicas prioritárias, tais como água, energia e alimento, perfazendo todo um ciclo completo e fechado que permita a retroalimentação conjunta dos estágios produtivos da cadeia, de forma que os subprodutos de um estágio sirvam de matéria prima para outro estágio, e assim sucessivamente, até que se configure um circuito fechado, minimizando as perdas do processo. O tipo de engenho básico clássico que atende a estas características é a conhecida articulação em um mesmo circuito de equipamentos de horta artesanal – ou conjunto de cultivos por germinação, no caso de insuficiência de espaço, com sistemas de captação de águas das chuvas (ou de poços artesanais) e de filtragem/reaproveitamento naturais de água servida e equipamentos de compostagem e de biodigestores; de forma que a água servida naturalmente filtrada/reaproveitada, aliada aos produtos dos processos de compostagem, além de prover o consumo humano e/ou animal (no caso das águas pluviais ou de poços naturalmente filtradas), possam também servir de insumos para a produção artesanal de hortaliças (no caso das águas servidas naturalmente filtradas e dos produtos dos processos de compostagem), ao passo que os subprodutos destas, por sua vez, se prestam a suprir os precedentes sistemas de reaproveitamento de água e equipamentos de compostagem, bem como estes também suprem equipamentos de biodigestores, que fornecem energia de fonte biológica para, inclusive, fazer funcionar engenhos outros possivelmente necessários para incrementar o funcionamento do circuito.

Acrescente-se a este circuito de produção básica (que poderíamos chamar de “Circuito Básico de Produção”) uma tecnologia de relações econômicas comunitárias – a qual denominaremos de tecido “Ponto Com Nós” -, que se caracterizaria simplesmente pela associação de entes de redes comunitaristas ácratas de todos os níveis em torno de redes de trocas diretas (não intermediadas por nenhum tipo de moeda) de produtos por produtos, produtos por serviços e/ou serviços por serviços. A única regra regulando as relações de trocas nestes tecidos sociais seria a do “ponto único”: isso significa que todas as entidades que os integram, ao oferecerem algum produto e/ou serviço para o tecido e efetuarem uma transação de troca, obteriam um ponto de crédito que lhes permitiria continuar integrando as relações de trocas, porém, mesmo que qualquer ente ofereça vários produtos e/ou serviços e realize várias transações, só poderá obter apenas um ponto de crédito, ou seja, a pontuação máxima permitida é sempre um ponto, que se renova a cada nova oferta de produtos e/ou serviços e/ou a cada nova transação, e que permite continuar integrando o tecido, e assim celebrar qualquer tipo, número ou quantidade de trocas, ilimitadamente, contanto que livremente acordadas entre as partes (o “fiador” de toda e qualquer “negociação” deverá ser sempre a confiança mútua entre as partes e qualquer desacordo ou descontentamento em relação a alguma transação teria na “okara” da rede o fórum apropriado para a busca por uma resolução). Porém, caso algum ente ultrapasse um período de tempo mínimo sem oferecer nenhum produto e/ou serviço – que seria um período pré-estipulado pelo tecido social como sendo um prazo limite de inatividade (para o que pensamos que seis meses seja um prazo razoável) – então, isto acarretaria a anulação de seu ponto de crédito, e seu consequente afastamento do tecido por um período de tempo equivalente ao período em que ficou inativo (salvo se houver uma justificativa aceitável para a inatividade).

Com esta tecnologia de relações econômicas comunitárias – o tecido “Ponto Com Nós”, associada ao “Circuito Básico de Produção”, se completaria o programa mínimo comum (“Pró Comum”), de modo que, por um lado, haveria a previsão da construção de estruturas de produção que abrangessem um conjunto mínimo de necessidades básicas prioritárias, enquanto por outro lado haveria a previsão da construção de tecidos sociais de relações econômicas de trocas diretas que permitiriam assim multiplicar e fortalecer as capacidades de sobrevivência das redes comunitaristas ácratas, por facultarem a todas o acesso franco a produtos e serviços que atendam a outras necessidades diversas não garantidas de imediato por seus circuitos de produção, mas possivelmente atendidas em graus e diversidades tanto maiores quanto maiores forem os “tecidos” assim constituídos.  

Trecho do “Manifesto Anarquista Ácrata”, de autoria de Vantiê Clínio Carvalho de Oliveira.

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uiva à noiva nua
minguante e cheia
ri-se e flutua…

Goulart Gomes

Para Além das Datas Simbólicas – Romper a Bolha Militante

Sabemos, ou deveríamos saber, que o anarquismo não se resume apenas a bandeiras erguidas em datas históricas ou discursos inflamados em praças públicas.

A essência anarquista está na ruptura diária com as estruturas de opressão, na construção de relações horizontais que subvertam a lógica do capital e do Estado. Por mais que o Primeiro de Maio simbolize a resistência operária, reduzir a luta libertária a manifestações pontuais é perpetuar uma armadilha: a de confinar a revolução a gestos simbólicos, enquanto o sistema segue intacto em sua capacidade de reproduzir injustiças. Se queremos que o anarquismo volte a ser uma força transformadora, é preciso transbordar os círculos militantes e enraizar práticas libertárias no cotidiano, atingindo quem vive sob o peso alienante do “trabalho-morto” e da vida controlada.

A potência do anarquismo sempre esteve em sua capacidade de questionar não apenas o Estado ou o patrão, mas a própria organização da vida. Isso exige ir além dos palanques eventuais e ocupar os espaços invisíveis do dia a dia: os lares, os bairros, os locais de trabalho. Quando uma vizinhança se organiza para criar uma horta comunitária, quando trabalhadores improvisam redes de apoio mútuo para enfrentar demissões, ou quando mulheres compartilham saberes sobre autocuidado e autonomia corporal, ali está o germe da anarquia. São gestos que desmontam a dependência do poder hierárquico e revelam que outra sociabilidade é possível — uma que não depende de datas no calendário para existir.

O desafio, dessa forma, é romper a bolha militante. Muitas vezes, o discurso anarquista torna-se hermético, restrito a quem já domina suas bandeiras e jargões. Para dialogar com o “indivíduo médio”, é preciso traduzir a crítica anticapitalista em linguagens acessíveis, vinculadas às urgências concretas. Como convencer alguém sobre a necessidade de autogestão se não mostrarmos como ela pode resolver problemas imediatos, como a falta de creches ou o preço abusivo do aluguel? A propaganda pela ação, tão cara ao anarquismo clássico, só ganha sentido quando as pessoas veem na prática que a solidariedade direta é mais eficaz que a espera por políticas estatais.

Não se trata de abandonar as grandes mobilizações, mas de compreender que a revolução é um processo contínuo, alimentado por microações cotidianas. O Estado e o capital mantêm seu domínio não apenas pela repressão, mas pela naturalização de relações autoritárias em todos os âmbitos — da família ao local de trabalho. Combater isso demanda que o anarquismo infiltre-se nas brechas do ordinário: nas conversas de bar, nas assembleias de condomínio, nas redes sociais. É nos pequenos atos — como organizar um mutirão para consertar um posto de saúde abandonado ou questionar o machismo em um churrasco de família — que se mina a legitimidade das estruturas de poder.

Se o anarquismo deseja ser ameaçador, precisa deixar de ser visto como uma utopia distante e tornar-se uma prática palpável. Isso exige coragem para ocupar espaços considerados “apolíticos” e transformá-los em trincheiras de luta. Enquanto nos limitarmos a atos simbólicos, o sistema seguirá nos tolerando como folclore rebelde. Mas se transbordarmos para o cotidiano, mostrando que a autogestão, o apoio mútuo e a ação direta resolvem problemas reais, seremos perigosos. Afinal, nenhum poder sobrevive quando o povo descobre que não precisa dele para viver — e viver com dignidade.

Liberto Herrera

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Atrás do portão
um latido afoito
chegamos junto com a noite

Winston

[EUA] Prêmio Klee Benally Earth Protector Anunciado

Novo Prêmio para Melhor Cineasta Indígena Anunciado

Os povos indígenas estão entre os mais afetados pela mineração de urânio e pela indústria nuclear em geral. No entanto, até agora, apenas alguns cineastas indígenas abordaram essa questão. Por isso, o International Uranium Film Festival anuncia um prêmio especial para estimular a produção de filmes indígenas sobre energia nuclear, armas nucleares, resíduos nucleares, mineração de urânio e suas consequências.

Para lembrar e homenagear o músico, dançarino tradicional, artista, cineasta e anarquista indígena Diné (Navajo) Klee Benally, que faleceu aos 48 anos em 30 de dezembro de 2023, no Arizona, o prêmio recebe o nome de “Klee Benally Earth Protector Award”.

Klee é originário de Black Mesa e dedicou quase toda a sua vida às linhas de frente das lutas pela proteção das terras sagradas indígenas. Ele se destacou especialmente na defesa contra a mineração de urânio e pela limpeza das mais de 500 minas de urânio abandonadas que continuam a contaminar o território da Nação Navajo. Em seu último livro, “No Spiritual Surrender: Indigenous Anarchy in Defense of the Sacred”, ele escreve: “Se a história é escrita pelos conquistadores, ela será reescrita por aqueles que se recusam a ser conquistados.”

O “Klee Benally Earth Protector Award” oferece um prêmio em dinheiro de US$ 1.000, doado por um coletivo de indivíduos de base. Ele será entregue pela primeira vez no próximo Window Rock International Uranium Film Festival, no Museu da Nação Navajo, nos dias 13 e 14 de novembro de 2025.

Cineastas e produtores estão convidados a enviar seus filmes para o International Uranium Film Festival para concorrer ao prêmio e para exibição no Window Rock. O prazo para envio dos filmes é 17 de agosto de 2025.

Contato

International Uranium Film Festival
orbert Suchanek & Márcia Gomes de Oliveiranorbert.suchanek@uraniumfilmfestival.org
uraniofestival@gmail.com
uraniumfilmfestival.org

Tradução > Contrafatual

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portas batendo
fugindo da chuva
o vento

Alonso Alvarez

[EUA] Novo livro sobre a fundação da Anarchist Black Cross

Se você ainda não viu, não deixe de adquirir uma cópia deste novo livro sobre a história e a fundação da ABC.

Sombras na Luta pela Igualdade: A História da Anarchist Red Cross

De Cop City aos oleodutos de Dakota e da Jane’s Revenge a inúmeras lutas ao redor do mundo, organizadores anarquistas continuam sendo implacavelmente perseguidos pelo Estado hoje, como já eram há mais de um século.

Sombras na Luta pela Igualdade é o relato em primeira pessoa de Boris Yelensky, ativista da Anarchist Red Cross (mais tarde Anarchist Black Cross), durante o movimento revolucionário russo de 1905 a 1917 e a subsequente repressão leninista/stalinista.

Escrito com grande humildade e compaixão, Yelensky recorda seus cinquenta anos de incansável organização para ajudar vítimas da opressão e da injustiça estatal, começando com um retrato vívido da história do movimento revolucionário russo e do papel crucial desempenhado pelos anarquistas. Em seguida, ele apresenta a rica história da Anarchist Red Cross, desde a Revolução até seu assentamento nos EUA, onde dedicou sua vida e seu livro “aos Lutadores pela Liberdade, Humanismo e Justiça, e àqueles que se empenharam em ajudá-los aplicando o princípio da ajuda mútua.”

Ao explicar por que uma organização anarquista de apoio se tornou necessária, Yelensky chama atenção para um aspecto negligenciado da história revolucionária: o boicote e a discriminação praticados por muitos social-democratas contra seus companheiros de prisão e dentro das organizações de apoio externas. Das vastas somas arrecadadas em todo o mundo, desde os tempos czaristas até a década de 1950 (quando o livro foi escrito), muito pouco chegou aos prisioneiros anarquistas.

Com material recém-traduzido e mais de uma dúzia de belas ilustrações de N.O. Bonzo, esta deslumbrante edição de Sombras na Luta pela Igualdade pretende inspirar a continuidade da solidariedade e do apoio aos que estão encarcerados na luta por liberdade, humanismo e justiça.

Sobre os Contribuidores

Boris Yelensky (1889–1974) foi um propagandista anarquista russo que participou da Revolução Russa de 1905. Devido à repressão czarista, foi forçado a fugir do país em 1907, estabelecendo-se posteriormente nos EUA. Ajudou a fundar os núcleos de Filadélfia e Chicago da Anarchist Red Cross. Yelensky retornou à Rússia para participar da Revolução de 1917, mas, com a ascensão de Lenin e o aumento da repressão contra os anarquistas, foi obrigado a deixar novamente seu país natal, fixando-se definitivamente nos EUA. Lá, continuou a apoiar prisioneiros anarquistas através do seu trabalho no Alexander Berkman Aid Fund, uma seção da Anarchist Red Cross. Por mais de cinquenta anos, foi uma figura importante no Free Society Group de Chicago e ativo na Anarchist Red Cross.

Matthew Hart é educador e ativista trabalhista da região metropolitana de Los Angeles. Seu envolvimento no movimento político começou com o Whittier Food Not Bombs e o movimento antiglobalização em meados da década de 1990. Em 1998, ajudou a fundar o núcleo de Los Angeles da Anarchist Black Cross. Ao longo dos anos, realizou extensas pesquisas e arquivamentos sobre a história da Anarchist Black Cross. Hart passou várias décadas no movimento trabalhista como ativista de base e membro de equipe, e atualmente leciona cursos de estudos trabalhistas no Los Angeles Trade Technical College.

N.O. Bonzo é ilustrador, gravurista e muralista anarquista baseado em Portland, Oregon. É ilustrador de Mutual Aid: An Illuminated Factor of Evolution e criador de Off with Their Heads: An Antifascist Coloring Book for Adults of All Ages; Beneath the Pavement the Garden: An Anarchist Coloring Book for All Ages; e The Beautiful Idea.

Autor: Boris Yelensky,

Edição: Matthew Hart,

Ilustrações: N.O. Bonzo

ISBN: 9798887440873

Publicação: 22/04/2025

Formato: Brochura

Tamanho: 5 x 8 polegadas (aproximadamente 12,7 x 20,3 cm)

Páginas: 160

Preço: US$ 19,95

pmpress.org

Tradução > Contrafatual

agência de notícias anarquistas-ana

Eu limpo meus óculos
mas vejo que me enganei.
É lua nublada.

Neide Rocha Portugal

[Itália] Roma: Reivindicação de responsabilidade pelo ataque incendiário a 17 carros na concessionária da Tesla

Roma, 31 de março de 2025

Poucas pessoas no mundo, hoje em dia, encarnam o Mal absoluto como o infame empresário e bilionário tecnocrata Elon Musk. Seria redutivo, no entanto, considerá-lo apenas um “vilão” clássico de desenho animado, um personagem que até lhe cairia como uma luva, sem perceber que esse indivíduo desprezível é apenas produto de um sistema econômico e social que marcha rumo à autodestruição, e cujos objetivos expansionistas ele simboliza perfeitamente.

Com sua entrada oficial no campo da política, isso tudo se exemplifica em sua servilidade a Trump, que o colocou na linha de frente da ofensiva reacionária, imperialista, sexista e supremacista em curso nos Estados Unidos. Especificamente, como recompensa por seu apoio bilionário à campanha eleitoral, o recém-eleito presidente concedeu ao seu favorito do Dark MAGA a liderança do DOGE, um órgão ad hoc que rapidamente se ocupou de cortes e reformas destinados a afetar direta ou indiretamente aquela parcela da população que a nova elite reconhece como “excedente”.

Quanto às empresas que ele comanda ou fundou, há muitos exemplos a citar:

A Neuralink é uma startup que visa criar um sistema de interfaces neurais que conectem o cérebro humano à inteligência artificial; Musk afirma ter implantado seu primeiro chip cerebral, chamado *Telepathy*, em janeiro de 2024. O sonho transumanista que se torna realidade: a utopia da supressão dos componentes “defeituosos” da humanidade por meio da integração homem-máquina, a criação das engrenagens eficientes das quais o capitalismo tecnocrático sempre precisou, e sempre precisará.

A OpenAI, empresa fundada por Musk como um laboratório de pesquisa em inteligência artificial, produziu o primeiro chatbot famoso da história: o ChatGPT. Após abandonar sua liderança devido a um possível conflito de interesses com seu papel no desenvolvimento de IA para carros autônomos da Tesla em 2023, Musk fundou uma startup rival, a xAI, cujo objetivo declarado é treinar um chatbot de IA generativa (Grok) que aprenda automaticamente a responder de forma racista, em oposição à “cultura woke”, da qual o ChatGPT seria expressão. Por meio da xAI, Musk adquiriu recentemente a própria plataforma X, antigo serviço de mensagens instantâneas conhecido como Twitter, um exemplo claro do uso das redes sociais como ferramenta de manipulação algorítmica da opinião pública para os propósitos políticos mais vis, além de revelar de forma incontestável o uso das redes sociais como fonte inesgotável de dados para o consumo das Big Techs de IA.

Sem esquecer da SpaceX e suas (aparentemente insanas) perspectivas de colonialismo interplanetário, que lançam as bases para a continuidade do saque de recursos, necessidade permanente do sistema, mesmo quando as reservas do planeta Terra estiverem esgotadas: uma empresa que, no momento, parece estar se tornando mais rica e poderosa que a própria NASA. Seu produto mais conhecido é o sistema de satélites Starlink, que, além de entulhar a órbita baixa da Terra com lixo tecnológico, busca garantir conexão à internet mesmo na ausência de infraestrutura terrestre. Essas constelações artificiais, portanto, estão se tornando uma ferramenta essencial para exércitos em teatros de guerra; a Starlink prospera fornecendo seus serviços aos exércitos da Ucrânia e de Israel, tornando-se cúmplice de massacres e genocídios presentes e futuros.

Por fim, encerramos com a Tesla, a famosa empresa de carros elétricos hiper-tecnológicos, símbolo de status por excelência dos tecnofascistas ricos de todas as latitudes, emblema da mentira ecológica que busca eletrificar o planeta, destruindo-o de forma definitiva em nome do lucro. A própria Tesla, com suas 8 câmeras contínuas em cada carro e dispositivos interconectados para condução automática (futura), somada ao trabalho das empresas menos conhecidas de Musk, Hyperloop e The Boring Company (respectivamente voltadas ao desenvolvimento de um sistema de transporte futurista de alta velocidade e à escavação de túneis subterrâneos para reduzir o tráfego), participa do plano totalitário de controle urbano das Smart Cities: um projeto distópico que, graças ao desenvolvimento das infraestruturas digitais, pretende transformar a vida urbana em um fluxo constante de dados.

Tecno-fascismo, transumanismo, inteligência artificial, conquista espacial, guerra, vigilância tecnológica e destruição do planeta: precisamos de mais motivos para atacar os interesses de Elon Musk em qualquer lugar e a qualquer hora?

Por essas e muitas outras razões, na noite entre 30 e 31 de março, decidimos também dar boas-vindas à primavera, numa noite fria… aquecida pelo fogo de 17 carros na única concessionária da Tesla em Roma. Porque nós reivindicamos ser aquelas falhas que projetos como os de Musk querem erradicar.

Num mundo de cabos de fibra ótica e torres de alta tensão, plantemos a semente da rebelião, pois a única coisa que realmente faz sentido, diante do cenário que se avizinha, é lutar com unhas e dentes, até o último suspiro, pela liberdade.

Porque o único Tesla de que gostamos é aquele que queima… E como queima bem!
Solidariedade com os presos anarquistas de todo o mundo, contra toda jaula e contra o infame 41-bis!
Anna, Alfredo, Stecco, Giulio, Ghespe, Tonio, Juan, Daivid: estamos ao lado de vocês!
Kyriakos vive no fogo de nossas ações!

Tradução > Contrafatual

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agência de notícias anarquistas-ana

Até mesmo o céu
Embriagado pelas flores?
Nuvens cambaleantes.

Nonoguchi Ryûho

[Espanha] Quinta-feira, 8 de maio: Exposição ‘Tierra y Libertad. 22 años de una publicación centenaria’

O Grupo Anarquista Albatros – FAI organizou uma mostra dos últimos 22 anos de vida da publicação em papel de Tierra y Libertad, um dos títulos libertários mais antigos do mundo. A exposição será inaugurada na quinta-feira, 8 de maio, às 17:00 horas, na sede da FAL em Madrid. Ao ato irão membros da equipe responsável durante aqueles anos: Alfredo González e Héctor Valdelbira, que farão uma palestra inaugural às 19:00 horas.

O horário de visitas coincidirá com o de abertura ao público de nossa sede; de segunda à sexta, das 10 às 14 horas, e de terça à quinta, das 17 às 20 horas. Incentivamos a visita.

Resumo da mostra:

Queremos expor uma mostra dos últimos 22 anos de vida em papel de Tierra y Libertad, publicação anarquista criada em 1888, título mais antigo da imprensa libertária em língua espanhola e uma das mais antigas do mundo. Tratamos 22 anos de sua história, de 2000 a 2022, porque é a etapa em que nós, o Grupo Anarquista Albatros, da Federação Anarquista Ibérica (FAI) de Madrid, nos encarregamos de editá-lo.

Foram anos carregados de acontecimentos, tanto a nível nacional como mundial (valem como exemplos mais destacados o 15M e a pandemia) e tentamos revisá-los nesta mídia de propaganda para a análise. Em ocasiões nos servimos de publicações irmãs de outros países como Umanià Nova, Le Revolución mexicana que, ao grito de ¡Tierra y libertad! ergueu-se contra a opressão, sendo traída por uma camarilha demagógica que dominou o país à vontade. Na Espanha, em 1977, com a reorganização libertária após a morte de Franco, os grupos da FAI decidem voltar a editar Tierra y Libertad mensalmente. A redação passou por grupos de diferentes cidades: Barcelona, Madrid, Castellón, La Puebla del Río…

Inauguração: Quinta-feira, 8 de maio

Horário da inauguração: 17:00 horas

Horário da palestra: 19:00 horas

Horário de visitas: Segunda e sexta-feira, das 10 às 14 horas. Terça a quarta-feira, das 17 às 20 horas

fal.cnt.es

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

cama macia
corpo se espreguiça
nasce o dia

Carlos Seabra         

[Itália] Primeiro de Maio Anarquista em Friuli-Venezia Giulia

Como todos os anos, três foram os eventos voltados às realidades do anarquismo social na região.

Em Trieste, o tradicional cortejo da manhã contou com a participação de algumas milhares de pessoas: na frente estavam os três principais sindicatos e os grupos da esquerda mais ou menos institucional, e atrás, o cortejo convocado de forma autônoma pelos sindicatos de base Cobas, USB e USI, que reuniu algumas centenas de participantes. Como Grupo Anarquista Germinal, estivemos presentes com nosso bloco e bandeiras dentro dessa parte da manifestação, além de termos distribuído massivamente a nova edição do Germinal. Ao final, o cortejo do sindicalismo de base encerrou o trajeto em uma praça alternativa em relação ao cortejo “oficial”, onde ocorreram algumas falas, entre as quais a nossa.

Em Monfalcone, grande sucesso do ato convocado pelo Caffè Esperanto no centro da cidade, que contou com cerca de cem participantes — número ainda maior na festa autogestionada realizada em um parque à tarde.

Em Cervignano, por fim, houve boa participação no setor do cortejo promovido pelas realidades de base da baixa Friulana, pelos comitês ambientais, pelo sindicalismo de base e pela área libertária.

Após as iniciativas bem-sucedidas e a presença nas ruas no dia 25 de abril em Pordenone, Udine e Trieste, mais um dia que confirma o enraizamento da nossa área política na região.

Um companheiro de Trieste

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

A lua da montanha
Gentilmente ilumina
O ladrão de flores.

Issa

[Internacional] Ajude a Comprar uma Impressora para os Anarquistas Sudaneses

Por Black Rose Anarchist Federation

Em meio a uma das crises mais mortais do mundo, camaradas anarquistas estão lutando bravamente, tanto pela sobrevivência quanto pela revolução. Desde fevereiro de 2022, nossa rede internacional de organizações anarquistas tem colaborado com a Federação Anarquista do Sudão, que começou a se organizar pouco antes dos levantes revolucionários que tiveram início em 2018.

Graças ao apoio de muitos camaradas que contribuíram para nossa campanha anterior, conseguimos ajudar alguns camaradas sudaneses a escapar de situações perigosas e a continuar seu trabalho, seja dentro ou fora do país. Tragicamente, pelo menos uma camarada, Sarah, foi perdida devido às privações assassinas e feminicidas da RSF. Honramos sua memória e a de todos os mártires revolucionários que morreram na luta pela liberdade no Sudão.

Agora, apesar das dificuldades, vários membros da federação conseguiram se reagrupar em uma área estável do Sudão e estão em posição de reiniciar o trabalho político clandestino. Estamos pedindo apoio internacional para ajudar a reestabelecer suas atividades e desenvolver empreendimentos que possam sustentar financeiramente seus membros, muitos dos quais são deslocados internos em uma região com uma economia devastada.

O plano dos nossos camaradas no Sudão é estabelecer uma gráfica comercial que será administrada como uma cooperativa de trabalhadores, proporcionando um meio de subsistência sustentável e funcionando como ferramenta para imprimir materiais educativos políticos. No Sudão, é quase impossível importar textos revolucionários, e a atividade na internet é fortemente censurada e monitorada, por isso é fundamental ajudar a desenvolver a capacidade local de imprimir textos para distribuição.

Nossos camaradas só podem ter sucesso nesse projeto com solidariedade internacional. Os custos estimados para este projeto são de $15.000. Qualquer valor excedente será destinado ao tesouro geral dos camaradas e usado para despesas organizacionais, como ajudar camaradas deslocados a retornar para casa. Com o apoio de amigos da liberdade ao redor do mundo, podemos facilmente atender a essas necessidades e apoiar a sobrevivência e o crescimento do anarquismo no Sudão.

Esta campanha é organizada e apoiada pela Black Rose/Rosa Negra Anarchist Federation (EUA) em colaboração com outras organizações políticas anarquistas ao redor do mundo.

>> Apoie aqui:

https://chuffed.org/project/printing-press-for-sudanese-anarchists  

Tradução > Contrafatual

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agência de notícias anarquistas-ana

um atrás do outro
cactus florescem
enquanto a lua não vem

Nenpuku Sato

“Vamos perfurar, baby”, diz presidente da Petrobras sobre petróleo na Margem Equatorial e no Amapá

Durante a Offshore Technology Conference (OTC) 2025, maior conferência mundial do setor de petróleo e gás, realizada nesta terça-feira (06/05) em Houston, nos Estados Unidos, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, defendeu com entusiasmo a exploração na Margem Equatorial, na costa do Amapá. Ao lado do governador do Amapá Clécio Luís, ela afirmou que a região representa uma grande oportunidade para o Brasil e para o estado, encerrando sua fala com a frase em inglês: “Let’s drill, baby!” – ou “Vamos perfurar, baby!”. O mote “drill, baby, drill” era proferido com frequência por Donald Trump desde a campanha presidencial nos EUA – a expressão denota um incentivo do republicano ao aumento da exploração de petróleo.
 
“Celebro a presença do governador Clécio porque ele representa a oportunidade que temos na Margem Equatorial e no estado do Amapá, onde realmente acreditamos que teremos boas surpresas assim que tivermos a licença para perfurar”, disse, em painel promovido pelo Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP).
 
“Para nós do Amapá, isso é uma virada de chave na economia. Queremos e precisamos muito dos recursos oriundos desse petróleo. E acreditamos que é possível fazer isso de forma muito segura”, afirmou o governador.
 
>> Foto em destaque: Lula e a presidente da Petrobras, Magda Chambriard.
 
Fonte: agências de notícias
 
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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2024/06/18/nova-presidente-da-petrobras-defende-passar-o-petroleo-na-bacia-da-foz-do-amazonas/
 
agência de notícias anarquistas-ana
 
Sombra de árvore –
Até mesmo a companhia de uma borboleta
É karma de uma vida anterior.
 
Issa

Lula: “Ninguém nesse País tem mais responsabilidade climática do que eu”.

Defensor da exploração de petróleo, incentivador da indústria da carne, da mineração, dos carros, das estradas, dos portos… atividades que direta ou indiretamente respondem por mais de 70% das emissões de gases do efeito estufa, recentemente o presidente Lula disse: “Ninguém nesse País tem mais responsabilidade climática do que eu“.


Esse senhor é contraditório, cara de pau, ignorante, megalomaníaco, egocêntrico, ultrapassado ou tudo misturado?  Alguns anarquistas-libertários comentaram. A seguir…


“Lula é o reflexo perfeito do cinismo estatal: defende um modelo econômico predatório que destrói o meio ambiente e submete as populações ao capitalismo selvagem. Ao apoiar a exploração de petróleo, a indústria da carne e a mineração, ele é cúmplice direto da devastação ecológica e da concentração de riqueza. Sua afirmação sobre a “responsabilidade climática” é uma piada de mau gosto, uma tentativa patética de mascarar sua agenda neocolonial e insustentável. Lula não passa de mais um representante da classe dominante, que fala de “responsabilidade” enquanto faz acordos com quem mais destrói a natureza e explora o povo. É a velha política, com novos disfarces.” – Liberto Herrera


“Vem de longe e é de larga aceitação entre as esquerdas a tese de que Lula é um conciliador. Independente do campo que se ocupa ou matiz ideológico do universo socialista, tal conclusão é uma questão de honestidade intelectual. Não é igualmente novidade o fato de que o projeto petista é conveniente à manutenção do capitalismo, servindo antes como regulador do que como vetor reformista. As contradições desse governo são, portanto, aspectos didáticos do papel que desempenha a social democracia em tempos de crise.” – Caralâmpio Trillas


“O sujeito despeja veneno, petróleo e gado no planeta e ainda posa de “responsável climático”. Cinismo em estado bruto. A política é a arte de mentir com palanque e crachá. Governos são fábricas de desastre com verniz verde. O clima padece — e eles discursam.” – C.I.S.C.O.


“Ele é um “mala”! Malandro, agente dos “donos do mundo” cuja especialidade é “difundir narrativas” onde, supostamente, seria “o mais esclarecido de todos os governantes” (quase as suas próprias palavras: “a alma mais honesta”), enquanto na prática faz avançar os projetos desenvolvimentistas ecogenocidas das elites globais.” –Vantiê Oliveira


“Tudo misturado. E não podemos esquecer, no governo Lula 1 foi aberto o espaço para a Monsanto introduzir os alimentos transgênicos no país. Responsável pelo envenenamento do solo, da água e do ar.” – Sol de Abril


“Não é possível aceitar toda a desordem do progresso, muito menos o eterno regresso que estamos vivendo. As promessas e tratados assinados em campanha, como a #DemarcaçãoJá das Terras Indígenas, foram substituídas por uma sequência de violências: Parentes queimados vivos, degolados, e territórios ancestrais negociados à sombra do poder. A desculpa oficial é o Congresso ser de direita, mas a verdade é que existem muito mais de quatrocentas terras já reconhecidas aguardando apenas a assinatura presidencial, pastas e pastas avolumam-se tanto no Ministério da Justiça como na mesa do chefe de estado atual, o Lula. Bolsonaro não demarcou nenhuma, prometeu e cumpriu a maldade que lhe cabe, andava sempre com sua caneta BIC para posar, iludir. Qual caneta é essa que Lula não quer usar, hein? O ciclo se repete. Esquerda, direita… volver! O partido militar, o latifúndio, o necroagronegócio, a mineração predatória e o narcoestado continuam operando juntos, rifando direitos ancestrais, destruindo o planeta em troca de moedas e cargos. Nós resistiremos! É hora de agir para impedir a queda do céu e garantir a vida. Não há tempo para conciliação com quem lucra com sangue e devastação.” – Autonomia Indígena Libertária (AIL)


“É um país de neuróticos e psicopatas. Não tem lógica em nada, a Amazônia já ultrapassou a linha de destruição. E ainda estão liberando a exploração de petróleo na floresta amazônica. Não haverá retorno.” – César A. G. Pereira


“Esse sujeito é um cretino, um arrogante, cínico de marca maior. Um vaidoso que se acha a última palavra. Perdeu totalmente o senso do ridículo ao se achar a “cereja do bolo da responsabilidade climática”. Recentemente ele teve a pachorra de elogiar e sentir orgulho dos bilionários irmãos Joesley e Wesley Batista, proprietários da JBS, a maior produtora global de carnes, empresa de alimentação relacionada à poluição e às mudanças climáticas, principalmente devido à expansão de suas atividades e à origem de seus produtos, especialmente o gado, que muitas vezes está associado ao desmatamento da Amazônia. Enfim, a sorte desse sujeitinho hipócrita é que não há no Brasil um movimento ambientalista ruidoso e radical nas ruas para emparedá-lo, botar pressão. Ah, antes que eu me esqueça. Lula nasceu no sindicalismo com pensamentos “ambientalmente toscos”. Ou seja, em uma época que muitos sindicalistas diziam que ecologia era “coisa de veado”. E a minha impressão é que em quatro paredes muitos ainda seguem com o mesmo pensamento.” – El Pececito Chuva de Fogo


“Engraçado é que quando se fala de petróleo Lula e Donald Trump, aparentemente diferentes, vão na mesma direção. Ambos gostam de petróleo, do mundo petrolífero, da ideia que todos devem ter carros e queimar litros e litros de gasolina. Se deixar ambos vão mandar perfurar até a Lua pra ver se tem petróleo. São duas bestas que só pensam em “desenvolvimento”, crescimento infinito, consumo, destruição.” – Mônica Texeira


“Lula se acha o maioral da “responsabilidade climática”, mas só anda de carro e de avião, modais que tem um impacto significativo nas mudanças climáticas, na poluição do ar. E faz isso há décadas e décadas. Aliás, será que ele sabe andar de bicicleta? Resumindo, Lula é um hipócrita, oportunista. Só fala de ecologia para “sair bem na foto”‘ ou obter ganhos eleitorais, votos.” – Bia Duarte


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agência de notícias anarquistas-ana

Brisa de outono
Como flechas de sombras
Os pássaros voltam.


Jorge Lescano