[Rússia] Incêndios e explosões: anarquistas russos atacam o Estado

Há dois anos, ações diretas radicais e incendiárias visando os símbolos do Estado russo, e também do capitalismo, se multiplicam pelo país. Na origem dessas ações, principalmente dos incêndios, se encontra uma rede de anarquistas russos prontos a tudo para se fazer entender.

O primeiro desses ataques remonta a 2009. Próximo à celebração do 1º de maio, dia internacional dos trabalhadores, 250 anarquistas se encontraram em São Petesburgo com a autorização da prefeitura da cidade. Antes mesmo do início da marcha, os oficiais OMON, tropas especiais do ministério russo do interior, prenderam 137 dentre eles sob o motivo de que eles planejavam atacar um grupo de nacionalistas russos que se encontrariam pela mesma ocasião. Um ataque que os anarquistas sequer planejaram. Três dias após as prisões, várias viaturas de polícia foram incendiadas próximo à delegacia de Svetlanovsky em São Petesburgo. No dia seguinte, foi um posto de polícia inteiro que foi reduzido à cinzas em Nizni Novgorod.

Depois dos primeiros incidentes, os incêndios se multiplicaram pelo país. Entre 2010 e 2011, viaturas e postos de polícia, e ainda carros de luxo, centros comerciais, escritórios de inscrição militar, um escritório de amostragem de casas de luxo próximo a Moscou e as antenas locais da Rússia Unida, que é o partido no poder atualmente, foram incendiados. Último alvo programado com data foi um escritório local da Rússia Unida situado em Moscou – foi reduzido à cinzas no 22 de julho passado. Não houve queixas de vítimas, pois os edifícios, bem como as viaturas estavam sempre vazias nos momentos dos ataques.

Esses atos foram reivindicados por diferentes movimentos anarquistas que se reconhecem e agrupam-se numa rede informal Black Bloc. Os Black Bloc são agrupamentos efêmeros e não-hierarquizados de indivíduos anônimos que têm por meta ações diretas radicais principalmente contra os símbolos do capitalismo. Os membros partilham suas experiências e colaboram por definir seus alvos e seus modos de ação. Qualquer pessoa que queira ter parte aos incêndios é livre para fazê-lo. Até agora a polícia não encontrou nenhum indivíduo ligado a esta rede.

Efetivos na Europa, as redes Black Bloc têm estado particularmente ativos nas manifestações contra as medidas de austeridade tomadas em Londres e na Grécia.

Empregar métodos mais radicais nos permite atingir objetivos mais importantes com menos meios

Blacblocg escreve em inglês o blog “Black Bloc, novidades da guerrilha anárquica.

As formas pacíficas de lutas (reuniões, campanhas de comunicação, etc…) tem pouco ou nenhum efeito no nosso país porque no fim poucas pessoas estão preparadas à descer as ruas para manifestarem-se. As ações radicais e “perigosas” tomam bem mais atenção do público e das mídias. Um bom exemplo dessa teoria é o combate pela proteção da floresta de Khimki (em julho de 2010, um grupo de ecologistas russos denunciaram o projeto de construção de uma seção da nova estrada Moscou-São Petesburgo bem no meio do parque florestal de Khimki).

A campanha de sensibilização, bastante calma à princípio, recebeu bem mais atenção depois que os “antifascistas” atacaram os locais de administração de Khimki. Nós consideramos que somente após essa ação foi que a luta dos ecologistas recebeu o apoio de pessoas como Yuri Shevchuk (cantor de rock engajado que denuncia a falta de democracia na Rússia) ou Artemy Troitsky (um crítico musical de renome na Rússia) e que tudo se acelerou (os ecologistas não conseguiram impedir a construção da estrada e os anarquistas têm como alvo hoje os materiais de construção da estrada).

Então, há dois anos, nós decidimos empregar os métodos mais radicais. Nós desejamos poder atingir objetivos mais importantes, mas com menos meios. E até então, este método se revela eficaz. Graças às nossas ações nesses dois últimos anos, mais gente se reconhecem nos ideais anarquistas do que durante todo o período de anarquismo pacifista na Rússia moderna.

Até sua desaparição, nós veremos sempre o Estado como um inimigo

Há também qualquer coisa de muito pessoal, quiçá de “existencial” em nossa luta. Sendo anarquistas, no momento de sua desaparição, nós veremos o Estado como um inimigo. Imaginai seu inimigo dia após dias sem fazer qualquer outra coisa que dizer às pessoas que ficar circulando ali é mau – e que a maior parte das pessoas acham que não é e continuam ali indefinidamente. Eis como os anarquistas russos viveram nesses 25 últimos anos. Mas felizmente esse período terminou. O Estado não desapareceu ainda, mas nós podemos provocar verdadeiros desgastes.

Nossos ataques não fizeram vítimas até agora, nem mesmo um oficial de polícia ou qualquer outro representante do Estado. Evitar ferir as pessoas é nosso princípio e todas as nossas ações são claramente organizadas nesse sentido.

Nós não acreditamos que nossas ações sofrerão repressão à altura. Hoje, o Estado russo não possui meios, sequer instrumentos eficazes – e sobretudo, não têm vontade política de nos reprimir.

Tradução > Tio TAZ