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[Espanha] Cine e autogestão: Entrevista ao Coletivo Cámara Negra de Madri

By A.N.A. on 3 de Março de 2015

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Redação periódico CNT

[O coletivo de cine libertário Cámara Negra realizou seu primeiro curta-metragem, “Ibrahim”, partindo da ideia do cine como ferramenta de transformação social. Uma história que pretende conscientizar sobre adversidades que enfrentam os estrangeiros em nosso país cotidianamente, em uma realidade que os meios de comunicação de massa apenas retratam.]

Pergunta > Como, quando e por quê nasceu Cámara Negra?

Resposta < Cámara Negra nasceu da ideia de fazer um breve roteiro que um dos membros tinha na cabeça; quisemos produzir o curta-metragem rompendo com as formas convencionais de fazer cinema na atualidade. Tínhamos claro que queríamos que o processo fosse horizontal, sem dinheiro e sem reivindicar a figura do autor, nem, claro, seu copyright, mas da coletividade. Por isso que decidimos usar um nome como coletivo, ainda que o nome fosse um pouco secundário, e de fato começamos chamando o coletivo Alhurria e faz uns meses que mudamos para Cámara Negra.

Pergunta > “Ibrahim” é vosso primeiro projeto. Por quê decidiram por esta ideia? O quê vai ser o próximo a fazer?

Resposta < O roteiro estava a alguns anos rondando pela cabeça de um dos membros, que escreveu com outras pessoas. Nos decidimos por ele porque vários de nós vivíamos no bairro de Lavapiés (Madri) e era uma realidade que podíamos retratar de dentro, não como meros espectadores. Uma realidade, a do racismo, as fronteiras e a migração, que se vive hoje em dia de muitas formas, em muitos lugares, mas o que mantêm o nexo comum da repressão para com o diferente, até o que não interessa nem nutre o sistema. Todos os atores têm algo de sua pessoa dentro do papel que interpretam, e é por isso que em algumas cenas o curta-metragem esbarra no gênero documentário através de diálogos reais entre as pessoas que aqui retratamos. Depois de Ibrahim o coletivo realizou um documentário sobre a revolução síria, narrado através das vozes de ativistas sírios, exilados na Turquia. Nele tenta-se mostra a revolução que viveu e vive o povo sírio, não a visão dos grupos poderosos que é a que a mídia nos conta. O documentário se chama “Ecos del desgarro”. A história de uma revolução impossível, e atualmente está sendo projetado em diferentes cidades. Logo estará disponível na webcamaranegra.net.

Pergunta > Como se organiza o coletivo? Como é financiado?

Resposta < Nos organizamos por projetos que surgem ou nos são propostos e que nos são afins. Não só para fazer vídeos, mas também desenho de cartazes, adesivos, fanzines… E bom, não seguimos umas regras de organização constante, mas para cada projeto participam as pessoas que quiserem e da forma que queiram participar. O tema do dinheiro sempre é espinhoso, porque o odiamos. Depois de muitas reflexões e debates em torno do financiamento, decidimos tentar que não seja um problema; quer dizer, que tentamos realizar os trabalhos com o material que temos (nossas câmaras, tripés e outras coisas), reciclando (filtros e gelatinas para os focos, e tudo o que possamos), trocando (objetivos ou equipamentos por trabalhos de edição…), expropriando (desde a okupação e não pagar luz, até a expropriação de material às grandes produtoras e grandes comércios, no que somos escrupulosos)… Tentamos não depender do dinheiro na medida do possível; quando o material ou os meios não são suficientes nos autogestionamos realizando eventos (festivais, palestras, concertos…) ou vendendo DVD dos projetos do coletivo.

Pergunta > Onde encontraram vossas referências? Tens fonte de inspiração ou seguem algum movimento?

Resposta < A maioria dos membros do coletivo veio de um trabalho prévio nas mídias livres e/ou comunicação comunitária e de uma ideologia libertária e anarquista, e com base nestas experiências prévias, pessoais e de fora mas que estão documentadas, nos baseamos para a organização e realização dos projetos. Temos muitas referências tanto organizativas como cinematográficas, às quais recorremos na hora de realizar os projetos. Nenhum em concreto, mas nos nutrimos das experiências do cinema anarquista e coletivizado que houve durante a Guerra Civil, de experiências de comunicação comunitária e mídias livres na América Latina, de experiências de resistência em povoados árabes, latinos e europeus e de autores e diretores que contam as histórias de uma forma não comercial nem convencional. Nós pretendemos que o importante do processo não seja tanto o “produto” em si, senão a forma de trabalhar entre nós e os debates que possam surgir com as pessoas depois de assistir. Vamos provando e aprendendo. Sendo nossas máximas a horizontalidade, a autonomia, a autogestão, sentirmos gosto com o que fazemos e contar as histórias que nos movem.

Fonte: periódico CNT # 416, fevereiro 2015.

Tradução > Sol de Abril

Conteúdo relacionado:

http://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2014/09/23/espanha-curta-metragem-ibrahim/

agência de notícias anarquistas-ana

De que árvore florida

chega? Não sei.

Mas é seu perfume…

Matsuo Bashô

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