Reivindicações e manifestos de uma revolucionária canibal
Théroigne de Méricourt.
Pioneira do feminismo guerreiro foi uma das figuras mais fascinantes e polêmicas durante a Revolução Francesa, ao propor a criação de batalhões de amazonas. Foi uma mulher furiosa livre, perigosa, uma figura espectral e, por vezes, aterradora.
“A coluna era dirigida pelos membros do clube feminino de Théroigne de Méricourt. Gritavam “Viva a nação!”, berravam a sua ira, agitavam facas e os seus olhos brilhavam como os das feras”, comentou um observador durante os dias mais agitados da Revolução Francesa. O nome de Théroigne de Méricourt tem estado envolvido em sombras. É uma figura incomoda, irredutível e excessiva que, sempre recebeu, os piores adjetivos de que nos podemos lembrar: amante de carnificinas, histérica, louca e canibal. Suscitou o desprezo de muitos homens do seu tempo, incluindo os que se assumiam revolucionários. Os aristocratas estavam aterrados “Esta fúria chamava-me pelo meu nome e anunciava-me que cedo, a minha cabeça cairia e beberia do meu sangue”, confessou um deles.
A quase totalidade das informações que temos sobre ela, pertencem ao “inimigo”, foram manipulados, ou são diretamente falsos. Mas qual é a razão de todo este ódio? Após séculos de obscurantismo, talvez hoje, possamos reescrever a sua história, situando-a onde merece, pois estamos perante uma figura enorme do feminismo contemporâneo. Figura que reivindica o não dar a outra face, o tomar a iniciativa e a organização sem necessidade da aprovação masculina. A bela Théroigne, aquela por quem perguntava Baudelaire “incitando, com faces e olhos de fogo, um povo descalço, ao assalto”, teve a ousadia de ressuscitar o mito das amazonas ao irromper pela Assembleia e, perante o espanto dos jacobinos, exigir a formação de batalhões de mulheres armadas, as suas temidas amazonas com armas.
Foi uma mulher furiosa, livre, perigosa, uma figura espectral e, por vezes, aterradora. Sim, essa mulher que, como Valerie Solanas e os seu célebre SCUM (as suas vidas foram em grande medida similares), faleceu só e abandonada num hospital psiquiátrico, padecendo de uma doença, descrita pelo médico que a assistia, como “melancolia”. Um final triste para todas essas aventuras protagonizadas por mulheres que caíram no esquecimento da história, por serem denominadas histéricas, loucas e mulheres sem o domínio da razão, talvez por lhes sobrarem demasiadas razões.
La Felguera Editores, Colección Memorias del Subsuelo, 31. Madrid 2015
190 págs. Rústica 19×4 cm
ISBN 9788494420801
16.00€
Veja aqui o book-trailer: https://vimeo.com/131295347
Tradução > Ophelia
agência de notícias anarquistas-ana
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