Declaração de intenções
Esta iniciativa é promovida por um conjunto de militantes e ativistas dos diferentes movimentos sociais e sindicais de Aragão. Somos pessoas que participamos a título individual em anarcosindicatos, organizações estudantis ou centros sociais assim como em outros coletivos e assembleias de base tanto de bairros como setoriais.
Entendemos que o 15M supôs um ponto de inflexão na forma de compreender a política e vivemos com entusiasmo como nas diferentes praças de nossas cidades e povoados criaram-se espaços de encontro e debate político que até então não aconteciam. No entanto vemos como a evolução do discurso do “não nos representam” desembocou em um giro eleitoralista destes movimentos sociais, consequência de não terem sido capazes de articular um discurso por fora das instituições, ao falar somente de objetivos tão abstratos como o fim do capitalismo ou a abolição do Estado quando há que ser conscientes de que não é isso o que agora mesmo está em jogo, senão que nos encontramos em um processo de acumulação de forças e de atender a nossas necessidades mais imediatas. É por isso que foram as organizações eleitoralistas as que assumiram esse papel, convertendo-se em uma opção atrativa a curto prazo para uma parte importante da população cansada de ver como suas condições materiais de vida pioram.
Analisamos que o Estado não é uma ferramenta neutra a serviço de quem queira utilizá-la senão que tem umas funções concretas, bem definidas, de manter o statu quo através do monopólio da força. Com um capitalismo cada vez mais global, suas instituições não deixam de ser ferramentas de gestão da miséria a serviço dos poderes econômicos e financeiros, de caráter supraestatal: somos conscientes de que o neoliberalismo não vai acabar com um Real Decreto.
Ante esta situação vemos a necessidade de estabelecer uma linha estratégica comum, a longo prazo, que implique definir uns objetivos táticos, assim como umas linhas de atuação e, com base em uma análise, gerar discurso em temas que nos afetam de forma cotidiana e nos que normalmente, como movimento, não nos posicionamos, no qual se traduza em um programa libertário. Para realizá-lo consideramos imprescindível a criação de uma organização, que longe de querer substituir os movimentos sociais e anarcosindicatos, complemente, reforce e enriqueça o trabalho que estes realizam.
Historicamente, nenhuma revolução social foi possível sem uma ação coletiva forte e autônoma de massas e é por isso que esta organização servirá para fortalecer e desenvolver este tipo de movimentos mediante a coordenação de quem, tendo práticas libertárias, atualmente participam neles em nosso contexto territorial. Isto nos faz mais fortes na hora de intervir socialmente e de combater as violências estruturais que se exercem sobre as pessoas e os corpos, com unidade política na organização ainda que não necessariamente plena unidade ideológica.
Para isso, pensamos em ter uma estrutura baseada nas diferentes frentes de luta em que participamos e trabalhar material teórico específico de cada frente a partir do qual gerar esse discurso graças ao debate coletivo, sem nos perdermos na teoria, para sermos capazes de estabelecer um diálogo entre a intervenção social e a reflexão.
Do mesmo modo, fazer questão no compromisso e na responsabilidade militante, acabando com a preponderância das liberdades individuais sobre as coletivas dentro do anarquismo – para alcançar o equilíbrio entre ambas –, porque cremos que é a única forma de focar os esforços coletivos até objetivos comuns. Ademais, observamos como muitas vezes investimos esforços a curto prazo em nossos espaços que ao não responder a uma estratégia pré definida se perdem e não servem como escala até uns objetivos a médio e longo prazo, o que provoca sensação de estancamento entre a militância ao não ser capazes de quantificar a evolução do movimento. Devemos avançar até uma mudança na cultura militante.
Também vemos a necessidade de resignificar ou clarificar termos do anarquismo clássico como “propaganda pelo feito” ou “ação direta” que são normalmente incompreendidos ou intencionadamente tergiversados, assim como romper com as estéticas socialmente impostas ao anarquismo para assim sair de nossos espaços de resistência e da subcultura para passar à ofensiva política.
Em resumo, queremos construir de forma coletiva uma alternativa real, territorial, forte, organizada e por fora das instituições para converter-nos em protagonistas de nossas próprias vidas na esfera política, econômica e social.
Zaragoza, junho de 2015.
Contato provisório: aunar.info@gmail.com
Tradução > Sol de Abril
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