Baseada nos modelos de educação livre, quer oferecer um tipo de educação diferente daquela que se pode encontrar na educação pública. O centro, que abrirá suas portas em Can Batlló em 2018, orientará crianças de 3 a 16 anos e se localizará na continuação do Bloco 11 do antigo recinto fabril.
“Nem pública nem privada, será uma escola autogerida”. Assim definiu seu projeto a equipe educativa da escola Arcadia na primeira apresentação pública realizada pelo coletivo na última sexta-feira no Auditório de Can Batlló. A escola, que acolherá as etapas do segundo ciclo de educação infantil, primária e Educação Secundária Obrigatória (ESO), já conta com a aprovação da Assembleia de Can Batlló e do Município, e tem previsão para começar a funcionar em 2018 com as primeiras matrículas para crianças de 3 a 5 anos. A incorporação ao projeto será progressiva, ampliando-se os níveis até 2028, quando a escola já contará com alunos de todas as idades programadas.
Segundo Juan, técnico de [educação] infantil, “Can Batlló nos oferece um entorno ideal para levar a cabo o projeto, já que queremos que a escola seja um espaço autogerido e muito vinculado ao bairro”. A Arcadia, que será constituída legalmente como cooperativa, estará orientada às classes populares e pretende criar “pessoas autônomas, críticas e com a mente flexível que se integrem na sociedade para mudá-la”. Para tanto, o projeto pretende demonstrar que “o público também pode ser formado a partir da autogestão”, que estará presente nos três pilares do projeto: o financiamento, a organização e a aprendizagem.
A vida comunitária e a relação com o entorno e o bairro também serão fundamentais para o centro, que compartilhará espaço com outros projetos de Can Batlló, como a biblioteca, a carpintaria, as hortas comunitárias, as oficinas e a imprensa. Segundo Noemí, coordenadora do projeto e professora infantil, “será um grande recurso educativo para as alunas, já que nos localizaremos num ambiente que propiciará uma aprendizagem direta com profissionais de diferentes âmbitos”.
Educação integral e centrada na pessoa
Nos últimos anos, o surgimento de projetos mais respeitosos para com os processos de aprendizagem de meninos e meninas estão se estendendo por todo o território, a partir das inquietações pedagógicas de muitas e muitos profissionais, que não encontram na educação pública as respostas às necessidades nem a suas preocupações, em muitos casos se limitando a memorizar e reproduzir conteúdos ano após ano sem que haja tempo para trabalhar aspectos importantes como as emoções, a autonomia ou a criatividade.
Segundo Juan, “a mão, a cabeça e o coração se educam ao mesmo tempo”. Por isso será importante que as crianças adquiram habilidades instrumentais para buscar respostas a perguntas que lhes surgem num ambiente enriquecedor como o da escola. “Não estamos aqui para dar resposta a nada, são elas mesmas que devem buscar as respostas depois de uma investigação”. O processo, segundo o técnico de primário, “conduzirá a uma gratificação pelo menino ou menina e fará com que se motive para futuras investigações ou aprendizagens”.
Para favorecer esta aprendizagem personalizada e comunitária, a escola contará com uma só linha e se dividirá em três ‘bairros’: infantil, primária e ESO. Estes bairros estarão divididos em laboratórios (aulas), espaços de consulta voltados para o pátio e que estarão sempre abertos para que os meninos e meninas possam entrar e sair livremente. Segundo Noemí, “esta organização permite que eles aprendam através da investigação” e fomenta “a cooperação entre os meninos e meninas”, ao mesmo tempo em que os ensina a “desenvolver a capacidade de escolha”.
As necessidades individuais e o acompanhamento emocional também marcarão os ritmos de aprendizagem, já que a equipe educativa parte do princípio de “que cada criança é diferente”. Por isso, os conteúdos e as habilidades vão se ampliando “no momento em que o menino ou menina está preparada, e não quando o currículo determina”. Para observar estes processos, Noemí considera que “um tutor por etapa é essencial para reforçar a confiança e o conhecimento do grupo e de suas necessidades”.
Quanto à avaliação dos conhecimentos, eles deixam claro: “Nem exames, nem castigos”. Segundo Juan, “um bom clima favorecerá que alunas e alunos não tenham medo de se arriscarem e possam formar uma imagem real de si mesmas como aprendizes”, ao mesmo tempo que se criam pessoas “livres, maduras e conscientes de seus limites”.
Ainda que o projeto se enquadre fora da oferta oficial de escolas públicas, a Arcadia não pretende ir de encontro à educação pública, e sim oferecer uma alternativa, já que, segundo a equipe educativa, “deve haver tantas escolas quanto seja a vontade das famílias”. Segundo Juan, “propomos um modelo de democracia radical aplicado à escola, e acreditamos que somos capazes de autogerir os serviços públicos sem que o Estado tenha que fazer tudo”. Quanto à possibilidade de receber subvenções no futuro, afirma que “queremos poder levar nosso projeto a cabo com nossa equipe e nossos métodos. Assim, não queremos que ninguém o condicione por contribuir com fundos ou subvenções. No futuro veremos qual é a sintonia com as instituições”.
Obras, financiamento e despesas
As obras de adaptação do Bloco 11 se realizarão em duas fases e começarão assim que se conseguir a modificação do Plano Geral Metropolitano (PGM) e a cessão do solar por parte do Município, que já deu visto positivo ao projeto no último mês de abril, seguindo as exigências do comitê local e da Assembleia de Can Batlló.
A primeira fase das obras, que consistirá na adequação do espaço para a compra de mobiliário, permitirá colocar em marcha o segundo ciclo de educação infantil e primária para o curso 2018-2019 e terá um custo aproximado de um milhão de euros. A cozinha, o refeitório e a adaptação do espaço para as alunas da ESO será feita mais adiante, ao redor de 2024, o que fará com que o investimento inicial no projeto seja mais acessível para as participantes do centro educativo.
Para financiar esta primeira fase das obras, o coletivo conta com as economias pessoais de todas as sócias da cooperativa que formam parte do projeto e que fornecem fundos desde 2011, a participação em capital vindo dos movimentos sociais e projetos semelhantes, a emissão de títulos participativos e um empréstimo através da banca ética.
A respeito das despesas com as quais as famílias deverão contribuir para inscrever suas filhas, o coletivo considera que não superarão 350 euros, custo aproximado por aluno que se observa hoje em dia. Contudo, serão tomadas medidas para baratear os custos, para que “cada família pague de acordo com suas possibilidades e possa haver retornos não econômicos”. O coletivo considera que “é responsabilidade de todos e todas que o projeto possa chegar a mais ou menos gente”, e esperam que este projeto educativo autogerido seja a semente “para que se criem muitas outras escolas assim”.
Twitter: https://twitter.com/escolaarcadia
Tradução > PF
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