Las Vegas & Catalunha?!

Qual a relação entre a chacina em Las Vegas e a repressão do governo central espanhol contra o plebiscito na Catalunha? Simples: em ambos os eventos ficou demonstrado, uma vez mais – entre tantos e tantos outros eventos de natureza semelhante na história – o quanto todo e qualquer governo (inclusive nas ditas ‘democracias’) formam de fato um organismo SOBRE – e apartado ‘do povo’, e não o tão alardeado (e, de fato, ‘utópico’) órgão de ‘serviço’ ao povo.

Se não, como explicar estes processos ocorridos em duas ‘democracias’ tidas como das mais ‘exemplares’ do mundo, posto serem de ‘países avançados’: nos EUA, apesar de toda a sua já longa história de eventos de chacinas domésticas promovidas por ‘atiradores gratuitos’, mesmo assim, não se promove nenhuma modificação efetiva nas legislações que regulamentam o comércio interno de armas e, na Espanha, mesmo não sendo ‘de hoje’ que a maior parte dos catalães vem manifestando seu desejo de ‘independência’ em relação ao Estado espanhol (mas, de maneira ingenuamente tautológica, apenas para criarem outro Estado/governo), o governo central eleito também por estes mesmos catalães usa do braço armado do Estado para calar aqueles de quem supostamente deveria ser apenas um ‘mandatário’.

Como explicar estes processos? Óbvio: sobreposição dos interesses da indústria de armas dos EUA aos interesses do ‘povo’ estadunidense e sobreposição dos interesses do ‘empreendimento’ Estado Nação Espanhol às escolhas de uma parte significativa dos seus ‘cidadãos’.

Os governos, na verdade, servem ao Estado – e à ‘economia’ do mercado, no capitalismo -, os quais se constituem como organismos com interesses de autorreprodução e autoperpetuação, SOBRE e – até – CONTRA os interesses da/os cidadã/os ‘súditos’ (ops, ‘servidores’) do Estado (e do capital, no capitalismo).

Mas, há também outro aspecto em que os eventos em pauta mantêm uma relação em comum, qual seja: da parte ‘dos de baixo’, a mesma demonstração de uma visão manipulada e iludida com relação ao Estado Nação (e ao capital): se nos EUA a/os cidadã/os consideram esta chacina de Las Vegas a maior já cometida por um cidadão estadunidense e ‘esquecem’ que o que o ‘Tio Sam’ tem feito em suas guerras contra outros povos (‘menos humanos’?) é mais do que chacina (são crimes contra a humanidade); por outro lado, na Espanha, a/os catalães também falam em ‘crimes contra direitos’ por parte das forcas de segurança de Madri e ‘esquecem’ também do emprego do seu braço armado que o Estado Nação Espanhol tem feito em guerras contra outros povos (com menos ‘direitos’ à ‘independência’?), sem falar que, ainda por cima, querem instituir um outro Estado Nação (catalão) cujo governo poderá num futuro qualquer lhes fazer provar novamente outra dose desse mesmo veneno que é instaurar poderes superiores sobre si mesmos, ou seja: ‘trocam seis por meia dúzia’.

Como se vê, apontar a ‘corrupção’ como sendo ‘o maior problema da política’, é desviar a atenção para longe da raiz, reduzindo a árvore apenas aos seus galhos.

Não é ‘à toa’ que a/os anarquistas sempre apontaram para a falácia da ideia do ‘governo servidor do povo’ (seja lá qual for o regime de governo).

Pena que até hoje essa falácia ainda se impõe como o discurso dominante.

A luta continua..

Vantiê Clínio Carvalho de Oliveira

agência de notícias anarquistas-ana

Sobre o telhado
um gato se perfila:
lua cheia!

Maria Santamarina