Ainda que certamente se trata de um lugar comum, nem por isso convêm esquecer que a história geralmente é escrita pelos vencedores. E estes não duvidaram nunca em sepultar a memória dos vencidos nem em impor sua versão triunfante. Prova disso é, na Espanha, a sistemática tentativa da historiografia franquista e “pós franquista” de apagar os nomes e a história das vítimas da ditadura. Frente a isso, não cabe mais resposta que a que emana de uma profunda convicção ética e de uma dignidade que nunca poderão ser derrotadas; uma resposta que implica recuperar os nomes e as histórias, os compromissos e as traições, as derrotas e suas causas verdadeiras. Bom exemplo desta forma de fazer nos dá o grupo de trabalho “Recuperando la Memoria Histórica e Social de Andalucía” (RMHSA) ou o projeto “Todos los nomes“, cujo trabalho tanto tem colaborado na exumação do que se queria, e acreditava, enterrado e bem enterrado.
Por outra parte, os conflitos em torno às interpretações do passado estão longe de ser um fenômeno exclusivamente espanhol. No que concerne à Revolução Russa, que completa agora cem anos, cabe afirmar que escreveram infinidade de livros, ainda que não sejam tantos os que abordam com rigor histórico as verdadeiras causas de seu fracasso e assinalam os que impuseram um viés autoritário, repressivo e contra revolucionário ao desejo de liberdade e de emancipação do povo russo. Poucas pesquisas analisaram em profundidade a dura repressão para com os anarquistas por parte do poder bolchevique e, em todo caso, a maioria ficou na mistificação de assinalar o estalinismo como causa, e não como consequência, do viés autoritário e repressivo da nova elite soviética.
De fato, em nosso país houve que esperar muitos anos para poder acessar a essa outra história, a sepultada, da Revolução Russa. Aos quarenta anos de ditadura houve que somar o interessado esforço de quem seguia louvando as “virtudes” do bolchevismo e justificando os meios sobre a base de fins que haviam ficado definitivamente fora de seu alcance. La Revolución desconocida, de Volin (Campo Abierto Ediciones, 1977) foi uma refrescante oportunidade de olhar com seriedade a acontecimentos e a dados sistematicamente silenciados pela historiografia soviética e, por extensão, por quem a aceitavam totalmente. No entanto, e afortunadamente, o panorama atual é muito mais rico e a bibliografia existente sobre essa “Revolución desconocida” inclui numerosos títulos de qualidade e rigor inquestionáveis. Graças a isso, assim como ao crescente interesse pelo papel desempenhado pelo anarquismo na história do movimento obreiro e, em geral, da luta pela liberdade e a emancipação do ser humano, o panorama mudou substancialmente.
Assim, acreditamos muito pertinente aproveitar a apresentação do Ateneu Libertário Guillermina Rojas para abordar, desde perspectivas diversas, o significado que a Revolução (ou as revoluções) de 1917 teve em seu momento histórico, assim como a memória da mesma um século depois, fazendo especial ênfase nas consequências que os acontecimentos que se autodenominaria “o primeiro estado obreiro da História” tiveram para o movimento libertário, tanto dentro como fora da Rússia. Para isso, contamos com a generosa colaboração de pessoas que colaboraram com sólidas e rigorosas reflexões a respeito: Carlos Taibo, Eloy Arias Castañón, José Luis Gutiérrez Molina e Miguel Vázquez Liñán.
O Centenário da Revolução, assim como a celebração destas Jornadas, brindam uma boa oportunidade para apresentar o Ateneu Libertário Guillermina Rojas, que tem como principal objetivo a recuperação de espaços de reflexão, análise, discussão e criação, tão necessários em um mundo no qual imperam os “produtos” culturais e intelectuais engarrafados assepticamente à vácuo, com data de validade e toda classe de aditamentos indesejáveis.
Esperando vossa participação ativa nas Jornadas, os indicamos o programa:
JORNADAS “ANARQUISMO E A REVOLUÇÃO RUSSA”. 10 e 11 de outubro (17h-21h).
Dia 10
– Eloy Arias: “O impacto internacional da Revolução Russa”.
– Carlos Taibo: “Anarquismo e Revolução Russa”.
– Laura Tirado: Apresentação do Ateneu Libertário.
Día 11
– José Luis Gutiérrez: “A Revolução e os anarquistas espanhóis”.
– Miguel Vázquez: “A memória da Revolução de Outubro na Rússia de hoje”.
ateneoguillerminarojas.wordpre ss.com
Tradução > Sol de Abril
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!