Bogotá, 30 de abril de 2018
Na noite de 27 de abril do presente ano, quando uma das nossas flores estava na companhia de sua parceira, um par de sujeitos lhes ameaçaram. A ameaça, acompanhada com armas de fogo, consagra a “limpeza social” que estas pessoas estavam realizando. A flor e sua parceira, visivelmente atentando contra a norma heterossexual, foram então objeto de dita limpeza, disposta a eliminar qualquer desvio dos bons costumes tradicionais que sustentam o patriarcado. Perante este cenário e sentindo a ameaça, a opção mais sensata foi sair do lugar e buscar refúgio noutra parte, perdendo assim a possibilidade de ser e estar com quem e onde se quer.
Este ato macabro é sintomático de um momento conjuntural que se está vivendo na Colômbia. A onda reacionária que atravessou o continente tem repercussões legais na perseguição daquelas que tentam desestabilizar a ordem patriarcal e capitalista. Os discursos de ódio, vassalos do fantasma da ideologia de gênero legitimaram a ideia de que está bem “recuperar as ruas”, de que está bem “eliminar os doentes”, de que está bem “matar os diferentes”. Assim como sistematicamente se eliminam os líderes e as lideranças comunitárias, agora nas cidades começou a limpeza dos que incomodam, dos que provocam, dos que criticam, e até, dos que amam.
Entre 2013 e 2018 registraram-se mais de 440 assassinatos de pessoas com sexualidades não hegemônicas na Colômbia. Sem contar com os casos que não entram nestas estatísticas, isto demonstra a força que conseguiram os discursos homofóbicos neste país. Paradoxalmente, este período coincide com mais garantias institucionais como o matrimônio e a adoção que algumas organizações LGBT têm vindo impulsionando em alguns partidos políticos. Isto evidencia, que embora as garantias legais tenha um valor intrínseco na possibilidade de acesso a determinadas instituições, estes “triunfos” são vazios se não estão ligados a um movimento forte, de base, que questione e transforme o machismo imperante em grande parte da sociedade.
Nestes processos educativos de base, desde a raiz, que as flores trabalham para transformar essa alienação que sofrem os corpos todos os dias. Acreditamos que através destas ferramentas políticas é possível enfrentar a violência machista que se vive no coração das pessoas, incluindo nos nossos próprios corações. Embora tememos por nossa segurança, recusamo-nos a ser ameaçadas por estas vias táticas, que foram usadas pelos machos desde muito tempo para calar quem se atreve a viver de maneira diferente e lutar por mundos novos.
Não nos vão arrancar deste jardim, que passo a passo, e pouco a pouco construímos. Convidamos a todas as pessoas que partilhem os nossos sonhos que se unam conosco, pois só juntando as forças e rebeldias podemos construir espaços seguros e dignos para todos.
Temos a segurança que a dita união solidária germinará selvas que trarão uma primavera com aroma a revolução.
Coletiva Libertária Severas Flores
Fonte: http://severasflores.grupovialibre.org/2018/04/30/el-miedo-a-la-primavera/
Tradução > Rosa e Canela
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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2016/06/28/colombia-manifesto-marika-pelo-coletivo-severas-flores/
agência de notícias anarquistas-ana
O casulo feito
bicho dentro dele dorme
vestido de seda.
Urhacy Faustino
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!