De que forma os serviços especiais russos tentam através da tortura criar a “comunidade anarquista extremista com o objetivo de derrubar a ordem constitucional”.
Nos últimos seis meses, serviços especiais estão tentando destruir o movimento anarquista na Rússia. Eles estão usando métodos muito mais cruéis em comparação com as repressões “clássicas” contra os desordeiros na Rússia. Sequestros, tortura, fabricação de casos criminais. O mais notável é o caso da organização “Network”, no curso da qual os anarquistas de Penza e São Petersburgo estão expostos a pressões e torturas monstruosas. Explorados pela mídia oficial e acusados de “comunidade terrorista” por jogar airsoft nas florestas. Muitas informações estão sendo divulgadas sobre este caso.
Mas este caso está longe de ser o único. A repressão também alcançou os anarquistas da Crimeia. Alexander Kolchenko é um anarquista crimeu mantido encarcerado por vários anos. E a nova repressão iniciou em Março de 2018 com buscas em massa, prisões e tortura para os ativistas crimeus. O motivo foi a comunicação nas redes sociais e a notificação recebida pelas autoridades sobre a realização de uma reunião. Agora, um dos anarquistas da Crimeia – Alexey Shestakovich – foi obrigado a deixar o país. Outro – Evgeny Karakashev – está em um centro de detenção.
Além da tentativa de criação da ideia de “comunidade terrorista” e da limpeza da península da Crimeia dos anarquistas, os serviços especiais estão tentando forjar um caso criminal mais amplo, no qual eles poderiam incluir não apenas jogadores de airsoft, mas também todo ativista anarquista. Agora eles não estão mais tentando criar a falsa imagem de “terroristas”, mas sim “extremistas”. E os métodos são os mesmos. Anarquistas de diferentes cidades sofrem torturas por distribuírem leituras sobre os membros da “comunidade anarquista extremista” Narodnaja Samooborona (Autodefesa Popular). E é possível ler nos meios de comunicação de massa sobre os valentes funcionários de segurança do FSB (Serviço Federal de Segurança da Rússia) e do Centro E que informam sobre a detenção do “líder” e “membros” do Narodnaja Samooborona (NS).
Narodnaja Samooborona é a plataforma de mídia anarquista mais popular e com o mais rápido crescimento dos últimos anos. São publicados nele notícias sobre os eventos que estão acontecendo no país, no mundo e no movimento anarquista, artigos analíticos e históricos e materiais com uma tentativa de um repensar crítico da teoria anarquista. Além disso, muitos relatórios das ações anarquistas da Rússia e da Bielorrússia são publicados na plataforma. Esses relatórios não são enviados de um grupo ou de uma rede de grupos. Todos podem colaborar enviando relatórios sobre suas ações e eles serão publicados. A propósito, Narodnaja Samooborona interage de perto com o projeto Narodnaja Samooborona (Ação Direta), cujo objetivo principal é uma luta contra empregadores e golpistas inescrupulosos, confrontos com bandidos e invasores de apartamentos.
Um grande crescimento da atividade anarquista foi notado no ano passado. Campanhas anarquistas foram realizadas regularmente de Maio de 2017 a Maio de 2018 – em solidariedade aos prisioneiros políticos de protestos contra a corrupção, camaradas presos após os protestos contra o G20 em Gamburg, presos políticos anarquistas de diferentes países. Também houveram ações contra firmas de empréstimo, contra o sistema “Platon”, ações antifascistas e eventos memoriais dedicados a antifascistas assassinados, ações contra o aumento de tarifas e contra o partido governante… A atividade máxima foi em fevereiro e março de 2018 quando foram organizadas campanhas contra as eleições presidenciais e muitas ações de protesto contra a repressão do caso “Network”. Ações de diferentes formatos foram realizadas em dezenas de cidades russas. O mais notável foram ações anarquistas como a marcha não autorizada através da rua Myasnitskaya contra o terror do FSB em Moscou e a ação perto do departamento local do FSB em Chelyabinsk, quando um banner escrito “o FSB é o principal terrorista” foi pendurado e fumaça pirotécnica foi lançada no território do departamento. Exceto as ações de solidariedade para os ativistas reprimidos do caso “Network”, um pequeno ataque feito por anarquistas ao escritório do “Rússia Unida” (partido russo atualmente no poder) teve uma ressonância especial.
Todas essas ações atraíram a atenção dos serviços especiais, que tentaram uni-los como ações do Narodnaya Samooborona. Anteriormente, Narodnaya Samooborona também foi objeto de uma atenção especial do FSB e do Centro E, que fez incursões em eventos anarquistas e intimidou os ativistas que poderiam estar conectados com esse movimento. Agora, o crescimento da atividade anarquista chamou sua atenção por ações ativas contra a “NS”. Além disso, em março de 2018, antes do início das repressões contra os anarquistas de Moscou, o presidente russo Vladimir Putin ordenou aos serviços especiais para detectar e punir os organizadores de ações não autorizadas.
Em fevereiro, vários anarquistas de Moscou foram presos como suspeitos de atacar o escritório do “Rússia Unida”, e também anarquistas de Chelyabinsk foram condenados por atacar o departamento do FSB. Os anarquistas de Chelyabinsk depois de presos foram torturados no departamento do FSB. Durante toda a noite eles sofreram choques elétricos para confirmar sua participação na ação. Além disso, os terroristas do FSB exigiram que dissessem que a ideia da ação havia sido encontrada no Narodnaya Samooborona. E um dos camaradas presos – Dmitry Tsibukovsky – foi designado pelo FSB como líder do ramo Chelyabinsk da “organização anarquista extremista” Narodnaya Samooborona.
Em Março, as repressões continuaram em Moscou. O Centro E e o SOBR (serviço russo de resposta rápida à força) fizeram buscas e prisões nas casas de anarquistas de Moscou antes das eleições presidenciais de 14 de Março. Um deles – Svyatoslav Rechkalov – foi torturado na minivan da SOBR. Ele foi obrigado a confirmar sua participação e liderança na “NS”, organizando ações e campanhas anarquistas no território de toda a Rússia. Agentes do Centro E declararam que a razão das torturas é a crescente atividade anarquista, “os anarquistas rapidamente iniciaram suas ações em todos os lugares”.
Claramente os serviços especiais estão se preparando para abrir um novo grande caso criminal contra os anarquistas, eles estão tentando obter através de tortura dos anarquistas de diferentes cidades o reconhecimento de que todas as ações anarquistas atuais na Rússia foram organizadas e coordenadas por “NS”. Isso não é verdade. O recurso de mídia de Narodnaya Samooborona é, antes de tudo, uma plataforma e todo grupo anarquista pode enviar conteúdos para ela. É óbvio que os serviços especiais torturam os anarquistas presos e exigem que eles confirmem que a ação foi preparada e realizada por “NS” porque eles querem criar uma “organização extremista”.
As razões de tal interesse para nós são claras. As tentativas de limpar a esfera política dos dissidentes na Rússia foram feitas por várias décadas. Recentemente, serviços especiais prestaram muita atenção aos anarquistas. E, é claro, eles não poderiam deixar passar a plataforma de mídia anarquista mais popular – especialmente no momento do aumento do nível de atividade anarquista e da crescente quantidade de relatórios publicados.
O ataque ao Narodnaja Samooborona é uma tentativa de destruir a info-estrutura anarquista, desabilitando a plataforma de mídia mais popular que espalha as informações sobre eventos de vários grupos separados.
Também é óbvio que as repressões são os indicadores da efetividade das atividades anarquistas na Rússia. Por que os serviços especiais capturam pessoas que poderiam ser anarquistas e tentam designá-las como “ativistas” ou “líderes” do Narodnaja Samooborona e do anarquismo russo?
Isto acontece porque o Estado tem medo do crescimento e atividade do movimento anarquista. Toda atividade efetiva, todo movimento ascendente vai de encontro às repressões e pressões do Estado. Estamos chamando para continuar as ações de solidariedade com os anarquistas russos e lembrar de todos os anarquistas que foram reprimidos. Resistir à repressão só é possível se formos todos juntos, e a luta deve ser travada contra a política repressiva do Estado na atitude para com todos os anarquistas. Então, estamos chamando para surgir em seus atos todos os casos de repressões em Penza, São Petersburgo, Crimeia, Chelyabinsk e Moscou. Todas essas repressões são os elos de uma cadeia para nós.
Mas também é muito importante não focar apenas neste tema ao fazer ações de solidariedade com os anarquistas reprimidos. Se isso acontecer e nos esquecermos de outros problemas da nossa sociedade, o Estado alcançará seus objetivos, desviará nossa atenção e interromperá a disseminação de nossas ideias.
E é claro que nenhum tipo de repressão pode suprimir nosso desejo de liberdade e equidade. Estamos chamando os anarquistas a não ter medo de nada e continuar sua luta. Se nos entregarmos e recuarmos agora, não conseguiremos nada e eles vão pensar que é fácil nos reprimir. E, claro, toda vez que o movimento anarquista crescer, as repressões crescerão. Só a dedicação em nossa luta e solidariedade pode nos ajudar a nos levantarmos neste momento difícil.
Tradução > Gabriel Assis
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