Pedagogia libertária, uma proposta autogestionária

pedagogia-libertaria-uma-proposta-autogestionari-1

Por Fúlvio Pellí

A pedagogia libertária é uma proposta com vertentes anti-autoritárias, dentre elas o anarquismo, o construtivismo e os professores progressistas. Pensadores anarquistas como James Guillaume, Proudhon, Roorda, Ferrer, Bakunin, entre tantos outros intelectuais, preconizaram a pedagogia libertária como um método de ensino que oferece aos discentes um ambiente livre do autoritarismo, que os professores em determinadas situações, impõem aos seus alunos. Ao contrário da injunção, da deliberação individual do professor às questões comuns entre ele e seus discentes, vem as decisões horizontais, que a partir de assembleias, todos têm o ensejo para sugerir, opinar, justificar e argumentar suas propostas, como também o direito de contrariar ideias adversas às suas. Decisões democráticas a partir de eleições não contempla a minoria, que muitas vezes pode ter argumentos mais eloquentes do que a maioria, tornando a democracia em uma “ditadura da maioria”. Em um ambiente com práticas libertárias, as tomadas de decisões por exemplo, são discutidas entre todos a partir de assembleias, e a deliberação acontece quando a classe, de forma unanime, acorda com a proposta da pauta. Caso alguém se contraponha à maioria, esse apresenta seus argumentos, a questão é retomada e novamente discutida, podendo ou não haver mudanças nas decisões finais.

Toda e qualquer ameaça, obrigação, prêmio e punição, antagoniza a liberdade e autonomia que o estudante precisa para seu pleno desenvolvimento. Inibir a réplica, coibir uma contrariedade, sublinhar o negativo, onde o docente assume uma postura autoritária e ditadora contrapondo-se à vontade de todos, muitas vezes nem ouvida, torna o aluno incapacitado para expressar seus sentimentos, ameaçado por algum termo pejorativo ao errar uma questão que não decorou, depreciado por aquele que deveria ser seu motor de otimismo, perseverança e coragem. A ausência de afeto, amizade, ternura, entre tantas outras faltas de demonstração de carinho dos professores pelos alunos, cria um abismo imensurável na relação entre docentes e discentes. O encontro saudável entre ambos é fundamental para que efetivamente aconteça o aprendizado inesquecível, divertido, prazeroso e significativo. A pedagogia libertária sugere a comunicação não violenta para que haja uma sintonia e amorosidade diminuindo possíveis conflitos, e esses existindo, possam ser solucionados com mútuo respeito.

Os conteúdos massificados propostos nos livros didáticos são muitas vezes extenuantes e precisam obedecer um tempo que provavelmente passará tão rápido que os alunos dificilmente irão assimilar importantes conceitos e fundamentos, para aplicarem em novos desafios. Os imensos questionários apáticos não instigam a investigação, a pesquisa, nem mesmo exige o entendimento sobre o conteúdo, impermeabilizando o ensino. Na pedagogia libertária a assimilação do conteúdo acontece de forma integral, ou seja, os trabalhos intelectual e braçal facilitam para a construção do aprendizado, não há divisão entre o pensar e o agir. As questões são respondidas após os resultados evidentes de uma série de experiências realizadas durante o processo de investigação. O papel que o docente libertário assume nos encontros com seus alunos é de se posicionar como um orientador, que possa facilitar e direcionar o ensino para que o aluno seja capaz, gradualmente, de investigar e pesquisar com autonomia. O docente apenas aponta o caminho que seus estudantes podem ou não seguir para assertividade e êxito de suas experiências, e auxilia na compreensão de conceitos e fundamentos aplicados na atividade proposta. O educador libertário não sugere respostas aos alunos, pelo contrário, mais indaga do que responde, procurando estimular a busca, por eles mesmos, de soluções para os problemas propostos.

As avaliações que somam resultados, contando erros e acertos, aprovando ou reprovando, pouco contribui para o desenvolvimento do aluno, pois poderá repetir o ano com o mesmo método que “impediu” seu avanço escolar. Muitas vezes o aluno é avaliado uma única vez a cada bimestre, e de uma única forma ou seja, a escrita. Responde o questionário previamente decorado, aponta falso ou verdadeiro, assinala uma alternativa e pronto, está avaliado. Não importa as condições emocionais do aluno no momento da prova, o professor não permite que o discente expresse outra forma de aprendizado, e não realiza uma avaliação da maneira como está oferecendo o ensino para seus alunos. Diferente disso tudo, a avaliação formativa permite que o docente “avalie” seus alunos de diversas maneiras em diferentes momentos. Observa-se, nos discentes suas habilidades, seus comportamentos, a assimilação de conceitos e fundamentos a partir de atividades práticas, participação nos encontros, perguntas elaboradas por eles mesmos e respostas aos estímulos das indagações que surgem durante as investigações, sempre evidenciando os acertos e os avanços conquistados pelos alunos. Mostra-se o erro como resposta natural que ocorre no processo de qualquer aprendizado. O erro não é encarado como uma frustração, mas sim como um resultado significativo para futuros acertos, encorajando-os em novas tentativas. Portanto o medo de errar não está presente em um ambiente pedagógico libertário.

A interdisciplinaridade é intrínseca ao aprendizado. A pedagogia libertária sugere o ensino por meio de projetos. Desta forma o discente sente-se livre para abraçar uma ideia que inicialmente acredita possuir afinidade. O projeto pode ser uma horta orgânica, um protótipo de robótica, o aprimoramento de algo que já existe, um brinquedo, etc. O aluno, em um ambiente propício para o avanço de seus projetos, provavelmente terá maior interesse e consequentemente maior possibilidade em aprender e compreender conceitos que em outros momentos não permitiu.

Conclui-se que a pedagogia libertária é uma proposta anti-autoritária, em que os alunos aprendem a aprender, tornando o ensino mais significativo, divertido, prazeroso, formando seres autônomos e seguros para tomarem suas próprias decisões, livres da obediência sem sentido.

>> Contato: fulvio.gestaoambiental@gmail.com

Conteúdos relacionados:

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2018/08/14/sao-paulo-sp-escola-livre-paideia-e-tema-de-encontro-do-grupo-de-estudos-anarquismo-e-educacao-da-biblioteca-terra-livre/

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2018/07/09/espanha-escolas-livres-rurais-e-ativas-uma-realidade-apesar-dos-entraves-do-governo/

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2013/06/30/italia-o-chamamento-do-bosque/

agência de notícias anarquistas-ana

Entrada da noite
O pula pula do sapo
Também quero pular

Nicoly Stefanovicz Siqueira – 9 anos