[Canadá] Montreal: Relatório e notas sobre a recente marcha contra as eleições

Já bem tarde na noite das eleições, dezenas de bandeiras negras se alinhavam nas ruas ao sul do Lafontaine Park. Descartadas durante uma discussão com a tropa de choque – que jogou bombas de gás em nós, nos separou, e temporariamente abalou nossa unidade – elas permaneceram, ao menos momentaneamente, espalhadas pela calçada, ali para marcar nossa passagem. Um caminho curto até demais. Um caminho amargo.

A manifestação começou por volta das dez da noite. A luz de uma granada de fumaça rosa marcou o início do que seria uma breve, mas inflamada, demonstração de resistência. Fogos de artifício se espalharam pelo céu, desaparecendo atrás das árvores. Policiais estiveram perambulando por ali desde o início do banquete, por vezes se escondendo atrás de seus veículos à paisana, mas na maior parte do tempo estavam nos encarando à distância, como se estivessem tentando capturar a transgressão, a infração, o crime que mais tarde serviria como justificativa para os barris de gás lacrimogêneo que eles estavam preparando para descarregar em nós.

Enquanto nos dirigíamos mais ao sul, uma mulher que estava saindo do Notre-Dame Hospital tropeçou e caiu. Quase que imediatamente, uma dúzia de companheiros/as parou para oferecer a ela uma mão. Elas/es não sabiam como ajudá-la. E com a tropa de choque bem atrás de nós, eles e elas sabiam que não poderiam oferecer à mulher nada além da sua constrangedora e fugaz presença. Gás lacrimogêneo flamejante preencheu a rua Plessis e o estacionamento do hospital. Alguns de nós foram para o lado sudeste, correndo pelo estacionamento como o diabo foge da cruz. Mas era tarde demais. Nossas pedras já haviam sido lançadas. Suas preciosas viaturas já haviam sido amassadas, seu machismo agressivo e detestável, irreversivelmente neutralizado. Outros continuaram a descer a rua Plessis, destruíram uma agência do banco Desjardins, e, estando o grupo se fragmentando, chegaram ao local onde estava reunida a PQ’s Election Night na Usine C, onde dirigiram um breve “vão se foder” para os elementos da burguesia ali presentes, antes de precisarem escapar da cada vez mais significativa perseguição policial, se dispersando pelos parques, quintais e becos.

Os estragos que deixamos para trás e as bandeiras negras que fomos forçados/as a abandonar apenas alguns minutos após o início do protesto deixaram sua marca. Nossas marcas de destruição, nosso tecido negro esparramado pelas suas ruas pacíficas revelam um mundo diametricamente oposto ao seu – um mundo que impacientemente aguarda o momento de sua libertação revolucionária, um mundo em que nenhum policial da tropa de choque, nenhum gás químico jamais poderá conter. Um mundo reformulado até mesmo pelo pensamento de ser solicitado a eleger governantes.

Um mundo no qual inexplicáveis elites são substituídas por atribuições temporárias e revogáveis, abertas a todas e todos. Um mundo no qual abandonaríamos o fato de pôr nosso poder de tomar decisões nas mãos de ricos “socialistas” da classe alta, garotos-propaganda, que consideram adequado colar seus imaculados rostos pelas nossas ruas, e, em vez de protegê-las daqueles que, por baixo do pretexto do desenvolvimento e do progresso – sempre desenvolvimento e progresso – estão sempre prontos para usurpar o que é nosso por direito, ansiosos por agir em prol das massas sem nome. Garotos-propaganda ricos e da classe alta quem, nessa mesma noite (1º de outubro), e pelos próximos quatro anos, irão gananciosamente mamar champanhe das tetas do Capital sedento por sangue, enquanto o resto de nós é apaziguado com gás lacrimogêneo.

A começar por hoje, e pelos próximos quatro anos, os eleitos da CAQ [Coalizão Avenir Quebec] vão continuar a exacerbar tensões de cunho racial, implementando uma política imigratória que abertamente objetiva a subordinação das pessoas migrantes e racializadas. Ausentes quaisquer mecanismos pelos quais se podem tornar esses oficiais responsáveis, teremos que começar a fazer uso de táticas já testadas, assim como pensar e repensar táticas novas – mais adequadas a um mundo tão (ou seria o oposto?) cuidadosamente vigiado. Os mecanismos burocráticos e violentos pelos quais o Estado aciona suas políticas supremacistas brancas terão que ser neutralizados, entravados, ou rigorosamente destruídos.

Fonte: https://mtlcounterinfo.org/report-back-and-notes-on-the-big-feast-against-the-elections/

Tradução > breu

>> Nota da ANA:

A província canadense de Quebec elegeu no dia 1º de outubro, pela primeira vez, um partido nacionalista de centro direita (CAQ), que, durante a campanha, prometeu reduzir a imigração e deportar os imigrantes que não aprendam o idioma francês nos três anos posteriores a sua chegada na província.

agência de notícias anarquistas-ana

um gato perdido
olha pela janela
da casa vazia

Jeanette Stace