Minhas impressões sobre um documentário produzido pela Vice
por Julia Brazolim | 29/11/2018
Procurando sobre outros meios acessíveis de assistir documentários pela internet que não seja necessariamente pela Netflix, achei o site Documentary Addict que é basicamente um agregador de documentários. Infelizmente, nem todos os vídeos disponíveis possuem legendas em português e quando possuem, são traduções automáticas bem porquinhas. E surfando por esse website, um dos primeiros docs que apareceram como sugestão foi o ‘The Anarchist Commune in the Rainforest: Poole’s Land’ (ou A Comunidade Anarquista na Floresta Tropical: Poole’s Land) e foi esse que resolvi assistir — só por causa do título.
Com trinta minutos e produzido pela revista/site Vice, acompanhamos a jornalista Manisha Krishnan e o tempo que ela passou conhecendo melhor a comunidade alternativa Poole’s Land, que se localiza na fronteira ocidental do Canadá, mais precisamente em Tofino. O local está atraindo vários jovens de diferentes lugares do mundo que querem um estilo de vida diferente, abandonando o cotidiano consumista das grandes cidades. O documentário explora um convívio que aparentemente não possui leis, a cooperação entre os moradores, onde todos se aceitam do jeito que são e uma das coisas que mais prezam é a empatia.
No começo foi difícil eu entender como essa sociedade funcionava, já que tudo me parecia tão simples, fácil e cômodo. Mas com o avançar da instalação da jornalista e seus questionamentos aos moradores, entendemos que algumas regras precisam ser seguidas para a boa vivência de todos, e entre elas:
• Respeitar todos e quaisquer seres;
• Reciclar tudo o que for possível;
• Sem violência;
• Não é permitido o uso de drogas pesadas;
Quando o básico é seguido, tudo se torna mais flexível e aceitável.
O fundador da comunidade é Michael Poole, que vive há quase trinta anos no lugar. Ele comprou o local por 50 mil dólares e resolveu transformar em uma ilha ecológica de boa vivência. Simpático e excêntrico, sua filosofia de vida é viver cada segundo como se fosse o último. Preservando a natureza a sua volta, ele acredita que é possível viver facilmente de maneira sustentável e essa é a saída para reduzir os danos que ainda causamos ao planeta. A comunidade procura assim, criar novas soluções para substituir meios poluentes que fazem parte do nosso cotidiano. A relação entre eles é de respeito mútuo nas decisões e para um lugar sem nenhum acesso à internet, a aproximação entre os moradores é maior e importante. A conectividade é física, muito mais real.
Em Poole’s Land há plantação e cultivo de cogumelos e maconha — essa última em especial é abastecida com a urina dos moradores, já que a ureia possui os nutrientes necessários para a terra! ‘_’ Falando nisso, o uso de drogas naturais (como alguns definem) não são só para recriação e sim para se livrarem da monotonia e encontrar eles mesmos… ou algo do tipo.
Caso alguém passe por Tofino e encontre a comunidade, pode passar um tempo hospedado, onde cobram dos visitantes 10 dólares a noite, o dinheiro geralmente é revertido para manutenções. Mas caso alguém queira abandonar a vida de correria e viver de boas com a natureza, Poole’s Land não te cobrará quase nada por isso. Viver de graça em uma vila ecológica seria um desafio pra muita gente, mas diversas coisas que parecem agressivas, são uma forma de reduzir o nosso impacto no meio ambiente e de quebra ainda muda positivamente nossa qualidade de vida. Achei muito interessante também, como o local abriga pessoas que não tinham pra onde ir ou até quem estava em situação muito precária na cidade.
O que parece um mero movimento hippie, se torna algo mais significante com o documentário destacando os propósitos. A única coisa que se cobra é o trabalho em grupo, de agricultura, reciclagem, etc. Em uma das partes do documentário por exemplo, Manisha ajuda a fazer o almoço, onde tudo o que foi usado como alimento foi cultivado ali e coletado pelos moradores. Muita coisa do que vi ali me lembrou famílias hippies que eu conheci na época que meus pais tinham um restaurante e camping na praia. A vida é aproveitada a todo momento e suas filosofias variam, mas todos querem encontrar a paz.
Como a própria jornalista coloca, seria difícil se adaptar tão rapidamente a essa forma de vida já que certas coisas ainda não estão bem organizadas, como a questão do esgoto que a comunidade não possui. Ela mesma teve problemas em fazer suas necessidades fisiológicas de boa, já que a comunidade ainda precisava usar banheiros de compostagem e isso foi bem desagradável pra ela. Michel disse que recolher com uma pá ainda é melhor do que um esgoto que levaria as fezes e urina para o oceano. Manisha coloca em seu artigo para a Vice, que mesmo com toda uma organização coletiva, ainda é possível encontrar lixos espalhados em alguns locais e que é comum todos tomarem banho em um pequeno lago — esse lago também aparece no documentário — ou seja, a higiene não é algo muito valorizado entre os moradores.
Infelizmente, ainda não acredito que o ser humano já seja capaz de conviver em uma sociedade fora dos padrões pré estabelecidos, em trabalho mútuo, com empatia, amor ao próximo e de forma sustentável. Sempre encontramos um jeito de estragar coisas boas, mas Poole’s Land me parece um ‘lugar teste”, dessa utopia. Com muitas falhas? Talvez, dependendo do seu ponto de vista do que é uma boa qualidade de vida. Acho que nenhuma sociedade é perfeita, seja ela qual ideologia ou viés político carrega. Se a anarquia predomina o lugar, alguns moradores já não concordam muito com a denominação. A vila ao mesmo tempo nos desafia a considerar o modo como nos comportamos e o que de fato vamos deixar para as próximas gerações.
Links
• Site Documentary Addict (documentaryaddict.com/films/the-anarchist-commune-in-the-rainforest-poole-s-land).
• Assista o documentário pelo canal da Vice no YouTube: https://youtu.be/2bs24nK5er8
• Artigo “Inside the Oceanside Commune Where Young People Live In ‘Anarchy’” escrito pela jornalista Manisha Krishnan.
• Site oficial da comunidade Poole’s Land: http://www.poolesland.com/sauvage/
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!