A chegada de migrantes venezuelanos produziu um arcaico sentimento patrioteiro e nacionalista em diversos setores da sociedade peruana, que se vê traduzido em xenofobia, intolerância e racismo contra as pessoas recém chegadas. Um discurso inaceitável entre ativistas e coletivos que aspirem a construir uma sociedade menos violenta contra as pessoas mais vulneráveis. Por isto, as anarcofeministas nos pronunciamos [no Dia Internacional do Imigrante, comemorado na sexta-feira, 15 de dezembro]:
A migração é um fenômeno completamente normal ao longo da história humana. Assim como nossas mães e avós chegaram a Lima décadas atrás fugindo da violência e da miséria do interior do país, encontrando-se com racismo e discriminação por parte dos limenhos, agora os venezuelanos vem buscando um melhor porvir para suas famílias. Também como muitos peruanos que saíram do país. Não devem ser objeto de violência por parte dos governos, das forças policiais e muito menos de alguns setores intolerantes da sociedade.
Se esgrime o argumento de que uma maior quantidade de pessoas em Lima, ávidas de conseguir um trabalho decente, incrementará o desemprego, ao ter que competir mais pessoas entre si. Este argumento banal contradiz totalmente a lógica de qualquer movimento anticapitalista, no qual se tem bem claro que OS VERDADEIROS CULPADOS DO DESEMPREGO E A EXPLORAÇÃO SÃO EMPRESÁRIOS E POLÍTICOS. Os primeiros por aproveitar-se da miséria de peruanos e migrantes para optar por pagar salários cada vez mais desumanos e os segundos por debilitar cada vez mais os direitos laborais, dando mais ferramentas aos exploradores. Não é necessário recordar que a exploração capitalista é um fenômeno mundial, pelo que AS E OS TRABALHADORES DE TODAS AS NACIONALIDADES DEVEM UNIR-SE CONTRA OS EXPLORADORES.
Ante o discurso patrioteiro de suposta defesa do território contra a “invasão” migrante, cabe recordar que AS FRONTEIRAS SÃO UMA INVENÇÃO DA BURGUESIA PARA DIVIDIR AS E OS TRABALHADORES. O DISCURSO XENÓFOBO É FUNCIONAL AO CAPITALISMO, porque nada deixa mais alegre o empresário explorador que ver os pobres lutando entre si em vez de unidos lutando contra ele.
Também resulta irônico que este discurso trumpista [Donald Trump] tenha calado entre ativistas e movimentos supostamente “antissistema” e “anticapitalistas” que parecem ter esquecido o internacionalismo e a solidariedade de classe. No cúmulo da incoerência, muitos põem como exemplo as políticas migratórias de governos capitalistas e racistas que reprimem a seu próprio povo, como o Chile de Piñera, os Estados Unidos de Trump e o futuro Brasil de Bolsonaro.
A respeito das migrantes em particular, por sua condição de mulheres que são estrangeiras em uma sociedade machista e misógina como a daqui, se encontram em uma SITUAÇÃO DE DUPLA VULNERABILIDADE. Mostra disso é que duas mulheres venezuelanas foram violadas por policiais, casos que continuam impunes. Do mesmo modo, desde sua chegada, as venezuelanas foram objeto de assédio e estereótipos racistas e machistas, a respeito de suas aparências, para assim minimizar os casos de violência de gênero perpetrados contra elas. As venezuelanas foram coisificadas sexualmente por parte dos meios de comunicação e as redes sociais, reproduzindo-se nelas em maior grau os mesmos preconceitos que com as peruanas. Da mesma forma, lamentavelmente, muitas migrantes são exploradas sexualmente por máfias que as despojam de seus documentos, sabendo que qualquer crime contra elas cairá na impunidade. Algumas são separadas de seus familiares, de suas filhas. A maioria destas mulheres não tem o respaldo estatal. As feministas devemos estar alertas contra as ameaças do patriarcado para com as migrantes porque A SORORIDADE E O FEMINISMO VÃO DE MÃOS DADAS COM O INTERNACIONALISMO.
Enquanto os setores que dizem preocupar-se pelo incremento da população que poderia acarretar desemprego e pobreza, resulta curioso que chamem à violência contra as pessoas migrantes, quando estes mesmos coletivos têm sustentado um discurso antidireitos contra a DESCRIMINALIZAÇÃO DO ABORTO e do ENFOQUE DE GÊNERO NA EDUCAÇÃO, medidas que realmente sim serviriam para controlar a população sem necessidade de exercer violência contra ninguém.
Para terminar, se bem como anarquistas nos opomos às instituições e os governos opressores, sim vemos como um avanço social o reconhecimento dos direitos dos setores vulneráveis da sociedade, como as mulheres, as pessoas LGTBI, as obreiras, as indígenas, camponesas e também as migrantes. Portanto, repudiamos qualquer evento de suposto protesto contra qualquer política que proíba ao Estado, à Polícia repressora e as instituições, a exercer violência e discriminação contra as e os migrantes.
Estaremos alertas contra qualquer discurso de ódio que surja para desmascará-lo.
SORORIDADE COM AS MIGRANTES
NENHUM SER HUMANO É ILEGAL
ABAIXO AS FRONTEIRAS
Coletivo AnarcoFeminista – Lima
Tradução > Sol de Abril
agência de notícias anarquistas-ana
Procurando flores
borboleta pousa
entre minhas sardas.
Mô Schnepfleitner
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!