[Reino Unido] Manifesto da Green Anti-Capitalist Front e Carta Aberta à Extinction Rebellion

A Green Anti-Capitalist Front (Frente Verde Anticapitalista) é uma aliança de grupos e indivíduos unidos pela crença de que o capitalismo é uma das principais causas da crise ambiental que ameaça todos nós, e que, se não agirmos logo, os custos dessa crise cairão sobre os pobres e sem poder.

No fato desta crise, os governos do mundo parecem mais interessados em sustentar os lucros capitalistas do que em evitar o desastre, por isso também acreditamos que uma campanha disruptiva de ação direta será necessária para evitar a destruição ambiental em andamento e impedir que aqueles que lucram com essa destruição transfiram os custos para a classe trabalhadora.

Nosso Manifesto

Nós somos encorajados pela capacidade da Extinction Rebellion (Rebelião de Extinção) de chamar as pessoas para as ruas e impulsionar suas demandas por emissões zero. No entanto, acreditamos que atender a essas demandas não será possível sem abolir o capitalismo, um sistema que depende da exploração total da natureza; seja isso sacrificando nossa água limpa para frear os hidrocarbonetos ou sacrificando nossos filhos à linha de produção. Precisamos desenvolver nossas ideias de como um futuro diferente pode parecer fora das restrições do capital e de combustíveis fósseis. Devemos também criticar as falsas soluções oferecidas pelo “capitalismo verde” e o aumento do controle estatal. É nossa opinião que o mundo daqui a cinquenta anos será radicalmente diferente do que vemos agora. A questão é se estamos caminhando para um futuro sustentável para a humanidade ou uma catástrofe. Estamos pedindo por um amplo movimento ambiental anticapitalista baseado nos seguintes pontos de unidade.

1. Uma ameaça existencial – A mudança climática induzida pelo ser humano e a destruição ambiental de forma mais ampla são uma ameaça aos ecossistemas globais. A ação deve ser tomada agora para garantir não apenas que sobrevivamos, mas prosperemos no futuro.

2. O capitalismo é a crise – O capitalismo é parte do problema. Um sistema econômico global baseado em capitalistas concorrentes não pode ser confiável para combater a mudança climática quando isso ameaça seus lucros. Devemos fazer a ligação entre o capitalismo e a degradação ambiental explícita em nossa política e criticar o papel do Estado em facilitar isso.

3. Solidariedade de classe internacional – Devemos ser internacionalistas em nosso escopo e garantir que as vitórias para os trabalhadores em MEDCs não significa apenas empurrar problemas ambientais para os trabalhadores em LEDCs que fizeram o mínimo para contribuir para a mudança climática. Devemos incitar nossos sindicatos a adotar uma postura ambientalista e anticapitalista que defenda uma transição justa, mas rápida, para os trabalhadores das indústrias extrativas. Devemos assumir uma posição dura contra o nacionalismo e procurar, em vez disso, a unidade global.

4. Construindo o poder coletivo – Devemos assegurar que as ações que tomamos, e as lutas pelas quais nos unimos, nos deixem e aos que participam mais fortes e não mais fracos. Devemos evitar qualquer pretensa vitória que se baseie na “boa vontade” de um político ou na “perícia” de uma ONG. Ganhar ou perder, cada ação e campanha deve nos deixar mais conscientes do mundo ao nosso redor, mais confiantes de nosso poder coletivo e mais experientes em nossa capacidade de nos auto-organizar.

5. Diversidade de táticas – Devemos desenvolver uma diversidade de táticas que não depende das ações de políticos ou corporações que desenvolvam uma consciência para atingir seus objetivos. Nós planejamos trabalhar juntos com a Extinction Rebellion enquanto mantemos certas críticas deles

6. Estruturas horizontais de baixo para cima – Não podemos recriar as estruturas que sabemos que não funcionam dentro do nosso próprio movimento. Nosso movimento deve ser horizontal e autônomo para que represente verdadeiramente os interesses daqueles que nossos atuais governantes consideram dispensáveis. Devemos também adotar uma abordagem intersetorial para nossa solidariedade e nos preocuparmos uns com os outros em todos os momentos.

7. Precisamos de um novo sistema – Em última análise, enquanto a ameaça iminente da mudança climática pode nos limitar a pressionar o Estado e o capital no curto prazo, a longo prazo precisamos substituir essas instituições para resolver os problemas sistemáticos que criaram essa crise.

Estamos entrando em território inexplorado, em termos de como os ecossistemas da Terra podem responder às pressões sempre crescentes que o capitalismo coloca sobre eles. Se não for controlada, a atual economia de combustível fóssil continuará a destruir o clima, com a carga dos impactos caindo sobre a classe trabalhadora e os LEDCs. Nós não temos fé que os capitalistas – ou seus representantes parlamentares – agirão a tempo de limitar as mudanças climáticas de forma significativa. A crise que eles perpetuam só pode levar a um aumento do controle estatal da economia, das nossas vidas, das fronteiras, já que a classe dominante procura conter a inquietação social e afastar os refugiados do clima. Devemos retomar o controle de nossos sistemas de energia e produção para criar um novo modela de igualdade entre os povos e harmonia com a natureza.

Carta Aberta à Extinction Rebellion

À medida que a catástrofe climática se aproxima, ficamos impressionados e encorajados pelo movimento que a Extinction Rebellion (XR) está construindo. Essa mobilização revigorou o ativismo ambiental no momento em que mais precisamos. A XR tem sido ousada em seus objetivos quando grande parte do movimento estabelecido tem sido cínico e conseguiu ter um senso mais amplo de alarme sobre a degradação ambiental e mobilizou muitas pessoas que não estavam envolvidas anteriormente. XR cresceu a uma velocidade que muitas pessoas teriam pensado impossível antes de vermos acontecer. A XR também tem sido muito mais radical nesse amplo apelo do que muitos pensariam, seguindo uma estratégia construída em torno da ação direta local, mantendo uma orientação internacional. Não podemos exagerar o efeito esmagadoramente positivo que a XR está tendo sobre a política ambiental.

Aqueles de nós já envolvidos em vários movimentos radicais e ecológicos participaram de reuniões e ações da XR e as acharam profundamente inspiradoras. No entanto, ao mesmo tempo, também temos dúvidas sobre algumas das táticas que a XR adotou em sua busca por um futuro verde, e discutimos como devemos superar as diferenças entre nossas visões e as da XR. Não queremos prejudicar o importante trabalho que a XR está realizando, mas também sentimos que há uma conversa que precisa ser feita sobre algumas das táticas da XR.

Enquanto esperamos que essas táticas funcionem, duvidamos que elas sejam suficientes. Nós tememos que o governo estará menos disposto a negociar de boa fé e mais disposto a usar a repressão violenta contra uma campanha verdadeiramente disruptiva do que se supõe. O capitalismo sistematicamente incentiva a destruição ambiental, e nos preocupamos que os custos de qualquer iniciativa do governo para combater a mudança climática caiam nos pobres e sem poder, a menos que uma clara postura anticapitalista seja articulada. Nós nunca seremos livres do espectro da crise ambiental enquanto o lucro de poucos é colocado acima das vidas de todos os outros.

Contra a ameaça existencial da extinção humana que paira sobre todos nós, a cooperação é nossa maior força. Acreditamos que uma organização separada que trabalhe ao lado da XR, permitindo uma maior diversidade de táticas, é a maneira mais honesta de fazer isso. Queremos apoiar a XR com uma mobilização paralela que tenha um foco maior nas raízes capitalistas da catástrofe climática.

Acreditamos que essas ações podem se apoiar mutuamente e trazer um mundo de emissões zero para mais perto da realidade. Vejo vocês nas ruas.

Fonte: https://earthfirstjournal.org/newswire/2019/03/06/green-anti-capitalist-front-manifesto/

Tradução > sapat@

agência de notícias anarquistas-ana

O campo queimado –
Na árvore de um só galho
um cacho de flores.

Teruko Oda