As pessoas estão tão imersas no sistema estabelecido que são incapazes de conceber alternativas aos critérios impostos pelo poder. Para consegui-lo, o poder se vale do entretenimento fútil, com o objetivo de entorpecer nossa sensibilidade social, e nos acostumar a ver a vulgaridade e a estupidez como as coisas mais normais do mundo, nos tornando incapazes de alcançar uma consciência crítica da realidade. No entretenimento fútil, o comportamento tosco e irrespeitoso se considera um valor positivo, como vemos constantemente na televisão, nos repugnantes programas conhecidos como “imprensa rosa”, e nos espetáculos de massa onde a gritaria e a falta de respeito são normas, sendo o futebol a forma mais completa e eficaz que o sistema tem utilizado para entorpecer a sociedade.
Nesta subcultura do entretenimento fútil, o que se promove é um sistema baseado nos valores do individualismo possessivo, e em que a solidariedade e o apoio mútuo são considerados ingenuidade. No entretenimento fútil, tudo se passa para que o indivíduo suporte estoicamente o sistema estabelecido sem resistir. A história não existe, o futuro não existe, só existe o presente e a satisfação imediata proporcionada pelo entretenimento vago. Por isso não é estranho que os livros como os de autoajuda, autêntica psicologia depreciável, o misticismo a lá [Paulo] Coelho, ou infinitas variantes do clássico “Como se tornar milionário sem esforço” se proliferem. Em última instância, a ideia do entretenimento fútil é nos convencer de que nada pode ser feito; de que o mundo é como é e é impossível mudá-lo, e que o capitalismo e o poder opressor do Estado são tão naturais e necessários como a própria força da gravidade. Por isso é comum escutar: “É algo muito triste, sem dúvidas, mas sempre houve pobres oprimidos e ricos opressores, e sempre haverá. Não há nada que se possa fazer”.
O entretenimento fútil conseguiu a proeza extraordinária de fazer com que os valores do capitalismo sejam também os valores daqueles que se vêm escravizados por ele. Isso não é algo recente, La Boétie, no longínquo século XVI veio expressando claramente seu espanto em seu pequeno tratado sobre a servidão voluntária. No qual constata que a maior parte dos opressores perdura unicamente por ter cúmplices entre os próprios oprimidos. O sistema estabelecido é muito sutil, com sua estupidez forja nossas estruturas mentais, e para isso se vale do púlpito que todos temos em nossas casas: A televisão. Nela não há nada que seja inocente, em cada programa, em cada filme, em cada notícia, sempre resume os valores do sistema vigente, e, sem darmos conta, passamos a acreditar que a verdadeira vida é assim. Nos introduzem seus valores em nossas mentes.
O entretenimento fútil existe para ocultar a evidente relação entre o sistema econômico capitalista e as catástrofes que assolam o mundo. Por isso é necessário que exista esse espetáculo fútil, para que enquanto o indivíduo se autodegrada, afundando no lixo oferecido pelo poder através da televisão, não perceba o óbvio, não proteste e continue permitindo que os ricos e poderosos aumentem seu poder e riqueza, enquanto os oprimidos do mundo seguem padecendo e morrendo em meio a existências miseráveis.
Se seguirmos permitindo que o entretenimento fútil continue moldando nossa consciência, e por tanto o mundo ao seu capricho, ele terminará nos destruindo. Porque seu objetivo não é outro senão o de criar uma sociedade de homens e mulheres que abandonem os ideais e as aspirações que os fazem revolucionários, para conformar-se com a satisfação de umas necessidades induzidas pelos interesses das elites dominantes. Assim os seres humanos se encontram despojados de toda a personalidade, convertidos em animais vegetativos, sendo desativada por completo a ideia de lutar contra a opressão, atomizados em um enxame de egoístas desenfreados, deixando, mais do que nunca, as pessoas sozinhas e desvinculadas entre elas, focadas na exaltação de si mesmas.
Assim, dessa forma, aos indivíduos não restam mais energias para mudar as estruturas opressoras (que, aliás, não são percebidas como tais), já não lhes resta força nem coesão social para lutar por um mundo novo. Não obstante, se quisermos reverter tal situação de alienação a que estamos submetidos, só nos resta, como sempre, a luta. Só nos resta contrapor outros valores fundamentalmente opostos aos do espetáculo fútil, para que surja uma nova sociedade. Uma sociedade na qual a vida dominada pelo absurdo do entretenimento fútil seja somente uma memória dos tempos estúpidos em que os seres humanos permitiram que suas vidas fossem manipuladas de maneira tão obscena.
Fonte: http://www.despiertacultura.com/2018/06/la-idiotizacion-de-la-sociedad-como.html
Tradução > Daitoshi
agência de notícias anarquistas-ana
sol e margaridas
conversa clara
na janela da sala
Alonso Alvarez
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!