por Floreal | 10/05/2019
Seria incongruente retomar em coro o célebre refrão “eles vieram, eles estão todos lá”, aplicado aos meios de comunicação, durante a conferência de imprensa à qual a Federação Anarquista os havia convidado na quinta-feira, 9 de maio, na Livraria Publico, sede dessa organização. Apenas o enviado do jornal 20 Minutes estava presente, de fato, apesar de uma centena de convites enviados à imprensa. Esta ausência foi ainda mais surpreendente porque há dois meses, vocês perceberam, os ditos meios de comunicação se mostraram hipersensíveis à questão da violência. Ou, eles lá estiveram para buscar matérias a escrever, pois aquela reunião foi dedicada à agressão à faca ocorrida em 2 de maio naquela mesma livraria. Leva a crer que a tentativa de assassinato de um militante anarquista pesa um pouco, jornalisticamente falando, à luz de uma suposta “intrusão violenta” de bárbaros prontos a finalizar em seus leitos de hospital doentes em sala de reanimação.
Foi, então, diante de militantes e de simpatizantes que ocorreu a conferência de imprensa, onde a Livraria Quilombo, a Livre-Pensamento e Alternative Libertaire estiveram igualmente presentes. O amigo Ramon relembrou o mais fielmente os fatos ocorridos, da agressão a ele, até a partida das equipes da polícia científica. Hugues por sua vez sublinhou o desinteresse manifesto da imprensa em relação a esse caso, lembrando que toda a mídia tinha, por exemplo, evocado a recente operação de militantes veganos contra um açougue parisiense, da qual a única vítima foi a tenda de carnes diversas oferecidas à clientela, de modos que nenhuma linha foi escrita até então sobre uma tentativa de assassinato. Hugues lembrou igualmente que se já aconteceu talvez de um agitador de extrema-direita entreabrir a porta da livraria e gritar um slogan estúpido antes de sair correndo, jamais uma agressão de uma tal gravidade ocorria desde o atentado à bomba, reivindicado pela OAS, que, em 3 de março de 1962, destruiu a livraria, então situada na Rua Ternaux, no XI distrito de Paris. Hélène lembrou que Publico não é uma livraria comum, como tantas pela cidade, mas sim a sede da Federação Anarquista, da Rádio Libertária e do jornal O Mundo Libertário, um lugar organizador de atividades militantes e culturais diversas, ponto de encontro de libertários da França e do estrangeiro de passagem por Paris.
As pessoas presentes debateram, com os animadores da conferência de “imprensa”, a personalidade do agressor e suas motivações. Ato político ou de desequilíbrio? Sabe-se que o indivíduo em questão não proferiu nenhuma palavra antes, durante nem depois da agressão e sua fuga. Sabe-se igualmente que em torno de meia hora depois, o autor do atentado – supõe-se ter sido a mesma pessoa – telefonou à livraria e se exprimiu nesses termos: “Anarquistas fodidos, chamaram a polícia”. Foi então possível supor que essa pessoa, por um lado, não tem apreço pelos anarquistas, e por outro, que ele permanecia nas imediações, após haver cometido a façanha de apunhalar um homem pelas costas.
Os animadores da conferência assinalaram que em momento nenhum tiveram informações quanto ao inquérito em curso, e que a Federação Anarquista recebeu grande quantidade de mensagens de simpatia e apoio tanto de individualidades quanto de organizações políticas, sindicais e culturais. Esperando o retorno de dois camaradas presentes no momento da agressão – o próprio agredido, Christophe, e também Laurent, o atendente da loja – os dois em choque, a livraria continua aberta, onde companheiros se sucedem para substituí-los temporariamente, e as várias atividades previstas estão mantidas.
Desejo, de minha parte, antes de tudo, um restabelecimento o mais rápido possível dos dois companheiros, Christophe e Laurent, e associo-me a todos os que de uma maneira ou de outra, condenaram esse ato particularmente nojento e manifestaram seu apoio a esse lugar indispensável que é a livraria anarquista Publico.
Tradução > Allyson Bruno
Fonte: https://florealanar.wordpress.com/2019/05/10/conference-de-presse-a-la-librairie-publico/
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