Às Barricadas!
“(…) Os trabalhadores são explorados e oprimidos porque, estando desorganizados em tudo que concerne à proteção de seus interesses, são coagidos, pela fome ou pela violência brutal, a fazer o que os dominadores, em proveito dos quais a sociedade atual está organizada, querem. Os trabalhadores se oferecem, eles próprios (enquanto soldado e capital), à força que os subjuga. Nunca poderão se emancipar enquanto não tiverem encontrado na união a força moral, a força econômica e a força física que são necessárias para abater a força organizada dos opressores.”
A ORGANIZAÇÃO DAS MASSAS OPERÁRIAS CONTRA O GOVERNO E OS PATRÕES
Agitazione d’Ancone, 1897
Errico Malatesta
O mundo assiste a crescente ascensão da extrema-direita ao poder com olhares perdidos em meio à tanta desinformação. Não poderia ser diferente no Brasil, onde ainda vivemos um período pós-colonial com forças dominantes afins aos discursos de ódio que atacam as liberdades e o pensamento libertário como um todo. Este país sofre com o apagar de suas muitas identidades culturas há séculos, portanto não trata-se aqui de apontar alguma novidade. Porém, é necessário compreendermos que a imposição das classes dominantes nunca foi silenciosa ou permissiva, como muitos parecem acreditar em meio à tanta incredulidade e paralisia.
A pólvora acesa em 2013 deve seu rastilho às muitas revoltas sangrentas que nós, exploradas e explorados, enfrentamos desde a chegada dos colonizadores, e diferentemente do que argumenta a esquerda reformista institucional, a semente protofascista vem sendo cultivada por décadas e décadas com políticas vindas de governos da social democracia e ditos de esquerda e não pela insurreição nas ruas em 2013, como assim acusam os partidários da esquerda que insistem em dizer que a culpa da queda dos seus líderes foi a massiva organização popular nesse período assim como o surgimento do fascismo no país. E se a memória recente nos trás este ano emblemático, talvez seja porque nas ruas, nas avenidas e noites de barricada, conseguimos entrever uma possibilidade, uma alternativa de luta contra o que está posto enquanto status quo. Nunca começou naquele ano, mas também nunca terminou após o mesmo. Vemos companheiras e companheiros entregues ao conformismo dos tempos de Bolsonaro na presidência da república e os novos (e velhos) fascistas desfilando abertamente suas práticas de terror em toda a sociedade. De fato, mesmo nos espaços mais periféricos das capitais e cidades mais industrializadas, nunca vimos uma explosão de violência, ódio e disputas tão expressivas como vemos agora. Essa barbárie, tão bem profetizada por Rosa Luxemburgo em seus escritos, não acontece sem motivo ou por simples erros de gestão pública. A barbárie é fruto do sistema de classes que, ano após ano, cria raízes cada vez mais profundas na mentalidade do povo brasileiro. É necessário o ódio a si mesmo, ao produto que nos tornamos graças ao processo de exploração e destituição permanente de uma sociedade refém do capital global. Tal ódio estimula o afastamento, a individualização acentuada, a falsa ideia da ineficácia de tudo que se diz social. Inclusive, neste sentido, o governo de Jair Bolsonaro expõe publicamente, todos os dias, sua completa negação às ideologias de cunho social.
Na esteira do projeto de destruir o Brasil enquanto país independente dos jogos econômicos de agendas dominantes, encontramos mais um ataque ao povo: a reforma da previdência. Não é mero acaso que assistimos o desmonte da educação pública alcançar níveis alarmantes enquanto nos aproximamos da derradeira votação acerca da reforma da previdência. O governo que defende um projeto de país que seja apenas colônia de países desenvolvidos precisa atacar a educação pública, sobretudo as universidades públicas, pois é neste espaço que o pensamento livre encontra meios de fortalecimento e criação de alternativas aos discursos totalizantes que hoje espalham-se como pólen por todo o território brasileiro. A perversão está em transformar um debate tão sério em cortina de fumaça para manter as amarras acerca da reforma da previdência sobre total controle nos bastidores do poder. E não devemos nos enganar em acreditar que a imprensa empresarial está ao lado dos explorados, muito pelo contrário. Se hoje, empresas como a Rede Globo mantém um ataque sistemático ao governo e demonstram dúvida da capacidade de articulação para forçar a aprovação da reforma da previdência, é justamente porque a audiência desse conflito é de interesse destas empresas de comunicação. É óbvio que as mesmas defendem uma reforma que beneficiará grandes corporações em detrimento da sociedade. Porém, estas mesmas corporações entendem que podem lucrar tanto na via da aprovação quanto na via do falso destaque às oposições. À Rede Globo não importa se a extrema-direita ou a esquerda institucional estão brigando, o importante é a briga. E nisso, a população explorada segue perdida em nuvens de informação e falsas afirmativas, aumentando seu ódio pelas coletividades e seu afastamento das lutas sociais.
Exatamente pelas questões resumidamente apresentadas é que acreditamos na necessidade dos anarquistas apostarem na constante inserção nos meios sociais de luta contra a exploração dos governos e o fascismo latente da extrema-direita brasileira. Não é no isolamento ou em algum exílio autoimposto que conseguiremos romper a bolha criada pela mídia capitalista e pelo bombardeio de fake news dos grupos pró-Bolsonaro. A compreensão sobre os fatos e o apoio popular não se refletem em likes ou demonstração de interesse em eventos de facebook. É preciso reinventar a militância anarquista no Brasil e retomarmos a compreensão de que o anarquismo se constrói no cotidiano da vida dos trabalhadores. É preciso refazer o caminho rumo aos trabalhos de base, mas não com as falsas fantasias das organizações fantasmas. Ter uma base significa pertencimento. É preciso entender que o anarquista só exercita suas práticas se está em constante diálogo com a população, ainda que isso signifique estar só no meio de tantas opiniões e discursos diferentes. E que fique bem claro: isso não é o mesmo que abrir canal de diálogo com fascistas, pois subentende-se aqui que o diálogo defendido é com o povo explorado, exausto de tanta opressão e que almeja a luta contra o sistema dominante.
Eis aqui um chamado anarquista para a construção da greve geral. Compreendemos que esse processo não é feito de forma imediatista, tampouco acreditamos que algumas semanas sejam o suficiente para uma greve expressiva. Entretanto, o silêncio não é uma opção para os que acreditam em tudo o que dissemos até aqui. E se o dia 14 de Junho já está posto como mais uma chance, então devemos abraçar tal chamado e nos organizarmos para além dele. Fazemos aqui um chamado para as barricadas, para a sabotagem, para a construção da guerra social contra as classes que dominam e corroem as estruturas da sociedade brasileira. Convocamos aqui os anarquistas à luta, ao trabalho permanente pela libertação dos explorados!
Esmaguemos o fascismo!
Que os governos voltem a temer a anarquia!
“Hoje se exige imperiosamente uma decisão de nossa parte: ir para as massas e criar a revolução com elas, ou então abster-se e renunciar à revolução social”
Nestor Makhno
Liberdade para Rafael Braga!
“Que as chamas da insurreição iluminem o caminho para a liberdade”
R.I.A
Fonte: https://redinfoa.org/um-chamado-anarquista-a-greve-geral-de-14-de-julho-de-2019-as-barricadas/
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agência de notícias anarquistas-ana
Limpo e lavo o túmulo,
mas no fundo de minha alma,
meus íntimos vivem…
H. Masuda Goga
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!