Justiça italiana decide não renovar prisão da ativista Carola Rackete, que desafiou autoridades do país e aportou navio com refugiados em Lampedusa. Segundo juíza, capitã de 31 anos cumpriu “seu dever salvando vidas”. A capitã do navio da ONG Sea-Watch, a alemã Carola Rackete, detida na Itália após levar sem permissão cerca de 40 migrantes à ilha de Lampedusa, foi libertada nesta terça-feira (02/07), segundo informou a própria organização no Twitter.
A ativista de 31 anos havia sido detida na madrugada de sábado após atracar sem autorização no porto de Lampedusa, no sul da Itália, para desembarcar 40 migrantes resgatados no dia 12 de junho no Mediterrâneo e que estavam há 17 dias no mar esperando um porto. Depois da detenção, ela foi colocada em prisão domiciliar.
Mas nesta terça-feira a juíza da província de Agrigento, Alessandra Vella, não revalidou a detenção de Rackete e negou aceitar o indiciamento por crime de “resistência e violência a uma embarcação de guerra”, pelo qual a ativista tinha sido acusada por ignorar as ordens das autoridades e bater com sua embarcação em um navio militar.
A juíza concluiu que a capitã não cometeu nenhum ato de violência e deveria ser solta. Segundo a emissora de TV italiana Rai, a magistrada afirmou que Rackete estava “cumprindo seu dever de salvar vidas” quando decidiu aportar. A alemã, no entanto, ainda pode vir a sofrer acusações de ajudar em atos de imigração ilegal.
Luigi Patronaggio, promotor de Agrigento, havia declarado que a colisão foi “voluntária”, que os imigrantes aparentavam boas condições e que a capitã poderia ter esperado a Itália aprovar o atraque, já que há um acordo para a distribuição dos imigrantes na Europa.
Logo após saber da libertação, o vice-primeiro-ministro e ministro do Interior italiano, Matteo Salvini, do partido de extrema direita Liga, fez uma crítica velada à Justiça e pediu a expulsão da ativista por considerá-la “perigosa para a segurança nacional”.
“Para a justiça italiana, ignorar as leis e bater em uma embarcação da Guarda de Finanças não são motivos suficientes para ir à prisão. Nenhum problema. Tenho uma ordem preparada para expulsar a comandante criminosa ao seu país”, avisou o ministro.
“Voltará à sua Alemanha, onde não seriam tão tolerantes com uma italiana que atenta contra a vida de policiais alemães. A Itália levantou a cabeça, estamos orgulhosos de defender o nosso país e de ser diferentes de outros líderes europeus que acham que podem nos tratar como uma colônia”, acrescentou.
O Ministério do Interior detalhou que o governador da província de Agrigento já pediu que Rackete seja expulsa da Itália, sendo acompanhada até a fronteira, uma medida que ainda deve ser aprovada pelas autoridades judiciais.
Os refugiados resgatados ficaram por mais de duas semanas a bordo do Sea-Watch 3 no Mar Mediterrâneo até Rackete tomar a decisão de apoartar.
Rackete relatou que o desespero dos que estavam a bordo era enorme, e foi isso que a convenceu a entrar no porto de Lampedusa. Segundo ela, alguns dos refugiados estavam pensando em saltar do navio em alto mar. Vários deles foram levados à terra em estado de “emergência médica”.
“Não foi um ato de violência, foi um ato de desobediência. […] A situação era desesperadora”, disse ela em entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera, publicada no domingo. “Meu objetivo era apenas levar essas pessoas exaustas e desesperadas à costa. Minha intenção não foi colocar ninguém em perigo. Eu já pedi desculpas, e reitero minhas desculpas.”
Fonte: agências de notícias
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