Protestar contra os Jogos Olímpicos é protestar contra um sistema global de patrocínios corporativos e o capital que toma preferência em relação às necessidades das pessoas locais e que são, na realidade, quem, no final, paga a milionária conta. Deste modo os grupos anti-olimpíadas são, cada vez mais, transnacionais e é através dos movimentos de protesto nas cidades que hospedam este evento que os grupos se juntam aos pares e aliados de todo o mundo para trabalharem em conjunto.
Tóquio não é exceção e os principais grupos que lideram a campanha anti-2020 – Hangorin no Kai e Okotowa Link – são parceiros entusiasmados com uma variedade de ativistas dispersos por todo o planeta: o movimento NOlympics Anywhere.
Marcar o ano que falta antes da arrancada das Olimpíada de Tóquio 2020: este movimento de base transnacional está a descer à capital japonesa numa semana em que há uma série de eventos sem precedente – de 20 de julho até 27 de julho – com organizadores de 8 cidades Olímpicas, recentes e futuras.
O primeiro dia será de visitas com guias locais ao imensamente controverso novo Estádio Nacional, que envolveu com a sua construção a expulsão de várias comunidades de sem-teto do parque Meiji e residentes dos apartamentos de Kasumigaoka. (E isto pondo de parte o não menos significante tema do estádio em si, em que o projeto original da arquiteta Zaha Hadid foi terminantemente odiado pela maioria dos arquitetos japoneses e foi escolhido em desabono de um arquiteto nativo, com um projeto “mais barato”). A tour continuará à volta da área da baía, que foi transformada por “cortesia” de uma série de financiamentos para edifícios que hospedarão a Vila Olímpica, acompanhada, claro, posteriormente, pela comercialização de condomínios, isto para que o setor privado possa lucrar com a especulação imobiliária dessa área. (Algo similar está a acontecer ao redor do estádio, também, onde um bloco de apartamentos muito caros e um hotel estão a ser construídos, numa área formalmente definida e protegida, pela sua beleza paisagística).
Este trabalho de campo inaugural é seguido por outra tour – fora da “distopia de Tóquio” – desta vez, em Fukushima em 22 de julho. Este animado por ativistas locais que organizaram várias ações no passado, a sua maioria no ano passado quando a tocha anti-olímpica chegou da Coreia do Sul.
Em 21 de julho, um simpósio terá lugar na universidade de Waseda com o proeminente estudioso anti-olimpíadas Jules Boykoff, como orador. A sua intervenção irá focar-se na sua frequentemente citada ideia dos Jogos Olímpicos como “celebração do capitalismo” (em si, uma extensão da ideia de Naomi Klein de “desastre capitalista”), onde muitos níveis inaceitáveis de intervenção do Estado na sociedade civil e militarização das cidades são permitidas em nome da tal segurança e do sucesso do espetáculo olímpico, ou onde a esfera pública é invadida e permite que o setor privado seja o grande beneficiado com os Jogos Olímpicos.
Uma conferência de imprensa terá lugar (uma tentativa) no Clube dos Correspondentes do Japão, em 23 de julho, seguida de uma ação solidária na noite de 24 de julho que está a ser tida como o mais quente protesto de rua em Shinjuku. Esta é uma referência provocativa ao perigo real que atletas, população, voluntários e espectadores encontrarão em Tóquio 2020: os jogos acontecerão no pico do verão, do calor e da umidade na cidade, que poderá resultar em fatalidades. Nos últimos verões, temperaturas recordes foram registradas no Japão
Outros eventos durante esta semana incluem um “picnic” noturno para ativistas num parque em Tóquio – o tipo de espaço público cada vez mais em risco à medida que 2020 se aproxima – bem como palestras de acadêmicos convidados e um seminário sobre habitação e meio-ambiente. A semana culminará com um painel de discussões na Universidade Sophia sob o tema “Make Olympic History” (fazer história olímpica) onde grupos de base do Comitê Popular Rio Copa e Olimpíadas, Anti-PyeongChang Olympics Alliance Action, NON aos JO 2024 em Paris, Olympics LA e Hangorin no Kai irão partilhar o seu saber e recursos para a construção de estratégias para os protestos e interações vindouras para os Jogos Olímpicos.
William Andrews
Tradução > Ophelia
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!