Su su! Dannati della terra! Su! Derelitti e senza pan, la giustizia rugge sottoterra, il tracollo non è lontan. Il passato sepolto giaccia, folla di schiavi! Sorgi, or su!
Il mondo sta permutar faccia, tutto sarà chi nulla fu!
E’ la lotta finale! Tutti uniti, e sarà l’internazionale, l’intera umanità.
(A internacional: canção nascida em 1871 na França – do poeta e anarquista Eugène Pottier)
Olá a todxs xs amigxs e companheirxs! Sou Juan, preso em 22 de maio depois de três anos de clandestinidade. Escrevo da seção AS2 da prisão de Terni, onde estou preso. Estou calmo, minha moral é estável e estou decidido a seguir em frente.
Todos os dias que passei escondido estava ciente de que poderia acabar na cadeia; por outro lado, sempre fui, desde o dia em que decidi lutar do lado dxs oprimidxs.
Minha captura foi devido à falta de uma série de precauções que normalmente tomava. Abaixei minha guarda na hora e lugar errado.
Não me arrependo, presumo, vou mais longe e é uma lição. Vou escrever sobre como minha captura ocorreu em outro momento.
Mas primeiro explicarei minha situação legal para dar uma ideia geral. Estou preso por duas linhas de investigação. A primeira diz respeito a uma condenação cumulativa de nove anos (três dos quais já cumpri) relacionada à minha luta/vida nos últimos vinte anos na Itália.
As condenações são por vários crimes, como furtos, resistência, roubos, desacato, danos, ocupação de lugares públicos e privados, agressão, falsificação de identidade. Entre essas condenações finais há também a do processo NO TAV¹ (três anos e nove meses), no qual futuramente farei alguns esclarecimentos como um réu anarquista acusado.
Sabendo que algumas dessas condenações seriam executadas, passei três anos fugindo (e não por causa da investigação de um atentado contra o POL GAI² (centro de formação da polícia) de Brescia, como insistem xs magistradxs). Sem qualquer remorso, reivindico minha fuga como um ato de recuperação de minha liberdade, que vai além de toda autoridade e lei.
Na segunda linha, iniciada no meu período de clandestinidade, me acusam dos artigos 270, 280, 285 (massacre) e me acusam especificamente dois ataques. O primeiro contra a POL GAI, reivindicado pela Célula ACCA no contexto do DEZEMBRO NEGRO de 2015. O segundo ataque de 12/08/2018³, se refere a dois artefatos explosivos, um que explodiu e outro cheio de pregos de madeira, encontrado por especialistas na desativação de bombas e destinados a ser uma armadilha para atrair xs ocupantes do edifício e a polícia; estes foram colocados na sede da Lega Nord (Liga Norte, partido de extrema-direita italiano) de Treviso e foram reivindicados pela Célula de Haris Hatzimihelakis – Internacional Negra 1881-2018. Não estava ciente dessa investigação até o dia da minha captura, ao contrário do que dizem xs juizxs para piorar a medida cautelar de Manu, acusado de instigar e ser cúmplice. No entanto, esperamos ter uma visão mais completa assim que a investigação for encerrada.
Já uma rápida leitura da DIGOS (força especial da polícia italiana) e das investigações preliminares dxs promotorxs me deram uma ideia do que querem reprimir. Especificamente contra mim como um anarquista e, em geral, contra a realidade anarquista como um todo. Nada de novo que ainda não tenha sido feito pelxs juízxs de todas as maneiras possíveis. Reconhecer as intenções repressivas é uma bússola para entender o que realmente querem atingir e, consequentemente, como se movimentar.
(A partir deste ponto, as aspas são frases retiradas dos documentos de investigação preliminar)
Segundo a investigação, as reivindicações dos dois atentados estariam ligadas à entrevista com Alfredo Cospito no jornal anarquista Vetriolo 2019 e representariam “o mesmo conteúdo e as mesmas linhas operacionais”… como se houvesse ordens de cima. As acusações estariam em competição com o usual desconhecido porque, além do meu DNA parcialmente identificado, haveria outro DNA desconhecido rastreado até meu suposto cúmplice. Por um lado, os crimes associados são colocados em jogo, por outro, eu seria o único criador, organizador e autor. Em suma, nem carne nem peixe.
Deixando de lado minhas piadas cínicas, fica clara a sutil intenção dxs magistradxs, com sua aberrante ideologia de Estado, de construir ideólogos-líderes da realidade anarquista, com diretrizes operacionais a seguir e estruturas hierárquicas. Estratégia adotada neste caso específico, bem como em investigações recentes que atingiram as realidades anarquistas. Neste caso, Alfredo seria “um dos maiores e reconhecidos expoentes do movimento terrorista anarquista atualmente encarcerado na prisão de Ferrara, cumprindo uma condenação imposta pelo atentado ao engenheiro Adinolfi”.
O Estado e a lei (como sempre) querem agravar as acusações fabricando líderes de uma organização terrorista hierárquica imaginária, a fim de manipular e unificar tudo em um caldeirão inquisitivo e jogar nele xs “expoentes” da galáxia anarquista. Desta forma tentam criar uma atmosfera espetacular, preparando o terreno para fazer terra arrasada e fazer qualquer ação autônoma e de ação direta da luta anarquista desaparecer.
Mas tem mais. O poder judiciário quer incorporar a prática da ação direta anônima ao combinar essas ações na investigação “embora a reivindicação de acrônimos específicos (a ação foi reivindicada pela chamada Célula Haris Hatzimihelakis – Internacional Negra 1881-2018) não é considerado essencial no contexto das iniciativas anarquistas que também admitem iniciativas anônimas com eventos similares e com os métodos já utilizadas em outros ataques atribuídos ao grupo FAI/FRI”. Assim, a intenção é criar precedentes para ações de ataque anônimos, incluindo-as em várias investigações quando lhes convier melhor, para construir suas imaginativas organizações terroristas completas com líderes criados ad hoc. Além disso, o aspecto da solidariedade com xs presxs anarquistas é enfatizado e com aquelxs que se encontram presxs e com xs que se rebelam.
Estes são os pontos-chave sobre os quais habitam e que querem atacar e silenciar, pois representam as bases com as quais xs anarquistas continuam a apoiar publicamente certas práticas (algumxs anarquistas são investigadxs por várias publicações e condenadxs a años de prisão). Nessa investigação, como em todas as realizadas contra xs anarquistas, querem reprimir os conceitos básicos da teoria e ação anarquista, tais como a rejeição da delegação, ação direta, solidariedade com xs presxs revolucionárixs, práticas de ataque multiformes não hierárquicas, rebelião permanente e aversão a toda forma de autoridade.
Desta maneira, o poder indiretamente nos diz que esses últimos conceitos básicos permanecem qualitativamente contundentes, se não forem acompanhados por uma projeção na luta junto axs exploradxs; é aqui onde estão nos atacando preventivamente.
Precisamos ter uma visão e um sentimento comum que inclua o indivíduo e o coletivo numa alquimia de lutas locais e específicas (como as anarquistas) que são propostas como táticas de lutas diferentes e diversificadas que nascem e são reconhecidas no conjunto da luta geral e na riqueza de sua diversidade metodológica e projetual. Que constantemente precisa estar em equilíbrio com uma perspectiva internacionalista e harmonizada com o caos de infinitas táticas e estratégias do anarquismo que levam à luta universal pela anarquia. Tudo isso temperado com a essência fundamental da Anarquia; solidariedade universal em todos os níveis da luta/vida.
O Estado faz esse jogo para nos atingir com mais força e reafirmar que não pode haver outra forma de organização social, exceto a organização autoritária e hierárquica da sociedade atual.
O revisionismo do passado é uma arma poderosa que os estados usam para enfraquecer as diversas formas de revolta do presente e criar um vácuo em torno dxs revolucionárixs de hoje e deixá-lxs sem raízes e alma. É por isso que é importante não esquecer e propagar as épocas passadas, e valorizar a memória das lutas de nossxs companheirxs como um estímulo para as lutas de hoje.
Basta dar uma olhada no nosso passado para perceber que certas tensões e métodos sempre foram usados na luta anarquista, mesmo antes do nascimento da internacional antiautoritária em 1871.
Reivindico essas bases fundamentais! Rechaço qualquer teorema no qual querem me classificar, ao contrário dos meus princípios mais básicos como anarquista.
E aqui não se trata de dizer que a luta não é violenta, ou que se faz passar por anjos ou almas piedosas. É sobre chamar as coisas por seu nome e reivindicar as instâncias de luta que xs anarquistas, rebeldes e revolucionárixs usam e sempre usaram em todo o mundo.
Disse tudo isso aberta e publicamente desde que decidi lutar através da minha concepção especial do anarquismo. Independentemente de ser o responsável pelos fatos de que me acusam ou não, compartilho e sou solidário com a luta e as ações de ataque ao capital e ao Estado. Que por sua própria natureza é sempre responsável por massacres e genocídios em todo o mundo.
E seja qual for o caminho que tomemos, sempre com o coração!
Pela Anarquia!
Juan Sorroche – Prisão de Terni AS2
Julho 2019
>> Notas:
[1] NO TAV (Não ao Trem de Alta Velocidade) é um movimento de protesto italiano, originou-se no Vale de Susa no início dos anos 90, espontaneamente a partir de protestos contra a construção da nova linha férrea de Turim-Lyon, adquirindo maior importância em 2005 também em nível de mídia e estendendo-se, em menor grau, em outros regiões da Itália (Mugello, Gênova-Alessandria, Florença, Brenner, etc.) e em outros países europeus.
Tradução > keka
agência de notícias anarquistas-ana
cortinas de seda
o vento entra
sem pedir licença
Paulo Leminski
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!