Esta frase, foi dita por muitos esta manhã (30/08), em um canto do bairro onde alguns de nós almoçamos, fazendo um balanço da situação. Um velho companheiro anarquista está convencido de que reviveremos 1985 ou 2008. Naqueles anos, um jovem ativista havia sido assassinado por um policial, provocando enormes distúrbios. Em dezembro de 2008, o poder tremeu. Mais de 300 bancos e lojas de luxo foram incendiadas. O Parlamento estava sitiado. Hoje, a atmosfera não é a mesma na sociedade, mas o cansaço está no auge. Algo está queimando sem chama. Como uma dor no estômago.
As forças de ocupação do bairro estão multiplicando a violência diária contra imigrantes, militantes locais, solidários vindos de outros países e, mais recentemente, um casal gay. No noroeste do bairro de acordo com a polícia, a situação se torna muito complicada, especialmente para a okupa Notara 26, que fica no centro da área em questão, quase cercada pelos postos de vigilância policial. É nessa área que um casal gay acaba de ser atacado pela MAT [polícia antidistúrbios]. Também é nessa área onde os fascistas foram vistos junto com a polícia, por exemplo, com camisetas de partidários neonazis de Roma e identitários da Defend Europe.
Mas o que está acontecendo ao redor do lugar não é melhor. A granada de gás lacrimogêneo que foi lançada no centro social autogestionado K*Vox, onde estavam muitas pessoas, poderia ter matado alguém. É uma ação ilegal, até mesmo em tempos de guerra, jogar gás em um lugar fechado. É um ato criminoso teoricamente punido por tribunais internacionais. Acontece que dentro do K*Vox, às vezes temos a visita de um velho companheiro que sofre de insuficiência respiratória. Se ele estivesse conosco naquela noite, poderia ter morrido, já que a fumaça tóxica era espessa dentro do local cujas saídas estavam bloqueadas pela polícia incontrolável. Pior ainda, um dos membros do coletivo recentemente deu à luz e às vezes passa com seu bebê: o que teria acontecido?
Isso não é tudo. Como confirmado por Giorgos Kalaïtzidis (co-fundador do Rouvikonas), um dos policiais sacou sua arma ameaçando a multidão. Não faltam testemunhas, membros do K*Vox e visitantes, quase todo mundo viu, mesmo que infelizmente não há fotos desse gesto. E se o policial tivesse disparado, o que teria acontecido com Exarchia? E Atenas? Ontem à noite, Kalaïtzidis, que conhece o bairro e sua história, escreveu em sua página no Facebook: “Isso vai acontecer. É muito provável que em breve tenhamos mortes em Exarchia“. Dada a evolução da situação, a violência da ocupação policial e o grande número de fascistas e fantasmas que vagam na esteira da invasão policial, muitos pensamos a mesma coisa. Esta manhã, pouco antes das 09h00 da manhã (hora grega), tiros foram ouvidos no leste de Exarchia. Momentos depois, atiradores da polícia foram vistos. Por enquanto, não sabemos exatamente o que aconteceu.
Quase todas as noites grupos anarquistas e revolucionários no bairro atacam postos de controle de ocupação policial. Anteontem, cerca de 50 insurgentes atacaram a delegacia localizada no cruzamento das ruas Tositsa e Spirou Trikoupi. A declaração policial fala de uma chuva de fogo e evoca a figura de “80 coquetéis molotov lançados” em poucos segundos. Os reforços policiais não conseguiram capturar os atacantes que desapareceram rapidamente nas ruas do bairro.
Em vez de controlar sua polícia e dispensar a milícia fascista que andam junto a eles, o governo grego decidiu endurecer ainda mais a situação em Exarchia! Ontem à noite, as notícias, especialmente no canal de televisão Ant1, anunciaram uma mudança de estratégia do Estado: aumento da repressão por causa da resistência e um ataque iminente e simultâneo contra 11 okupas, com base na mobilização que cresce dia a dia e que o poder quer ganhar velocidade. Segundo os rumores, Notara 26 e K*Vox estariam na lista.
Estamos falando de um ataque na segunda-feira ao amanhecer ou em um dos dias seguintes. Dado o número de locais visados pela operação, sua distribuição espalhada pelo bairro e o forte símbolo que representam para o movimento social, o Estado precisaria de uma armada policial real, muito maior que na segunda-feira passada. Essa estratégia demonstra que Kyriakos Mitsotakis não quer ter nada a ver com as consequências. Quer seduzir a extrema-direita dura e acabar com essa área que é um obstáculo ao projeto de gentrificação ateniense. Também quer satisfazer a demanda de alguns de seus colegas europeus que estão preocupados com esse símbolo de resistência e utopia no continente. Não há e não deve haver alternativa: conhecemos essa música.
Preparem-se companheiros e camaradas. As próximas horas vão ser decisivas. Precisamos do seu apoio, seu revezamento, seu protesto, onde quer que esteja. O desafio não é apenas a defesa de um bairro único na Europa pela sua concentração de lugares autogestionados, pela extensão de sua resistência a todos os poderes, pela beleza de sua solidariedade com os pobres e com os imigrantes.
Não, o problema é muito maior que isso. Defender Exarchia significa defender nosso direito de mostrar que outras maneiras são possíveis, fora do impasse atual.
Yannis Youlountas
Sábado, 31 de agosto de 2019
Fonte: http://blogyy.net/2019/08/31/nous-allons-bientot-avoir-des-morts-a-exarcheia/
Tradução > keka
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