por Arthur Dantas | 03/10/2019
Lá vou eu com meu post anual de enaltecimento ao Chumbawamba. Apertem os cintos e lá vamos nós!
Tempos estranhos os nossos: tudo começa em boas ideias e acaba em negócios – e com essa faca nas costas chamada “empreendedorismo” disseminada pros de baixo (o que, na verdade, é o bom e velho “se vira como pode” característico da luta por sobrevivência em tempos sombrios).
O Chumbawamba, o mais bem sucedido empreendimento cultural ANARQUISTA na história da humanidade, de certa maneira, rompeu com essa escrita, numa carreira novelesca (de 1982 a 2012), iniciada em shows em ocupações urbanas, chegando ao Madison Square Gardens em Nova Iorque, e finalizando no circuito de música folk de protesto do norte da Inglaterra. E nesses 30 anos de trajetória, espalhou boas ideias, rompeu fronteiras tidas como sagradas, lançou discos memoráveis, financiou muitos movimentos radicais – inclusive no Brasil! -, gerou polêmicas que deram algum ânimo ao anarquismo contemporâneo e à crítica cultural, e ainda emplacaram um hit #1 global.
A trajetória pouco ortodoxa do Chumbawamba rumo ao estrelato global – e se tornar um tipo de paradigma de One Hit Wonder noventista – começou como é comum a 100% dos grupos punks politizados: shows em bibocas, turnês espremidas em vans, dormindo no chão da casa de estranhos, bebida barata, vida comunitária e roupas comuns, enquanto discutiam temas como liberação animal, sindicalismo, luta de classes, a mitologia em torno de Elvis Presley e a cultura de raves. Por 15 anos preservaram com tenacidade sua independência, apoiados por uma base de fãs/ativistas fiéis e muita camaradagem. Aí eis que chega o ano de 1997.
Apóa assinar um controverso contrato com a multinacional EMI, pensaram que com isso poderiam ajudar a tornar o mundo melhor, mas sem idealismo do tipo “vamos propagar ideias radicais”: ainda que subsistisse este elemento, havia uma prática política das mais ferozes e vivazes: dentre outras coisas, a banda em suas turnês, funcionava em esquema cooperativo, incluindo técnicos etc, financiaram causas variadas mundo afora com o dinheiro das suas músicas usadas em publicidade (uma delas, usada em um comercial da Hyundai, ajudou a financiar o CMI Brasil no fim dos 1990, por exemplo), além de usar todo seu espaço na mídia para agitação e propaganda explícita. Evidentemente, atraíram o ódio da mídia musical ora conservadora ora trabalhista na Inglaterra. O single “Tubthumping” se tornou um sucesso mundial e ainda hoje é obrigatório para animar convidados em casamentos no auge da bebedeira.
Enfim, uma vida de novela que nenhum bando de anarquistas do norte da Inglaterra – ou em qualquer outro lugar do mundo – poderia imaginar.
Musicalmente, o estilo inicial segue a ortodoxia do anarcopunk inglês do período exatamente anterior à sua fundação.
Muito rapidamente, absorvem a seminal influência do grupo pós punk Mekons (da mesma região deles, Leeds, e estudantes da escola de arte de onde saiu o Gang Of Four e o Delta 5), tornando-se uma espécie de cabaré revolucionário, adicionando expedientes brechtianos rudimentares – inclusive nas letras de suas músicas – e muita performance agit prop.
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https://arthurdantas.wordpress.com/2019/10/03/inspiracao-anarquista-no-front-cultural/
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!