
por Juliana Domingos de Lima | 27/09/2019
Martha Ackelsberg, autora de livro sobre o movimento, enumera para o ‘Nexo’ cinco lições dessa experiência para a luta contemporânea por igualdade
Enquanto a Espanha se encontrava dividida por uma guerra civil entre republicanos e fascistas, disputada entre 1936 e 1939, grupos de mulheres fundaram uma organização para combater o que viam como uma “escravidão tripla”: a ignorância, ser mulher e ser trabalhadora.
Era 1936 e o movimento em questão foi chamado de Mulheres Livres. Em menos de três anos de atuação, elas mobilizaram dezenas de milhares de mulheres no país e ofereceram programas de educação e capacitação, que iam desde a alfabetização e de cursos de mecânica e elétrica à educação sexual e aulas para falar bem em público.
A experiência era pouco conhecida dentro e principalmente fora da Espanha até o lançamento do livro “Free Women of Spain”, em 1991, nos Estados Unidos, resultado da pesquisa da historiadora Martha Ackelsberg, professora emérita de política e estudos de gênero do Smith College, nos EUA.
O livro ganhou em 2019 sua primeira edição brasileira, com o título “Mulheres livres: a luta pela emancipação feminina e a Guerra Civil Espanhola”.
Ackelsberg falou ao Nexo sobre as razões que levaram as espanholas a se organizar em uma entidade separada dos homens, sua relação com o feminismo que emergia ao redor do mundo, os objetivos e conquistas do movimento e as lições possíveis deixadas por ele para a luta contemporânea das mulheres por igualdade.
O surgimento da Mulheres Livres
A Mulheres Livres foi criada por militantes do movimento anarcossindicalista espanhol. Suas fundadoras atuavam principalmente na CNT (Confederación Nacional del Trabajo), entidade que reunia os sindicatos espanhóis dessa orientação política.
O que as levou a estabelecer uma organização própria foi o fato de que, embora o movimento anarcossindicalista na Espanha fosse formalmente comprometido em promover a igualdade entre mulheres e homens e alcançar um tratamento equitativo para ambos no ambiente de trabalho e na sociedade, não estava trabalhando para isso na prática.
A maioria dos sindicatos da CNT, mesmo aqueles em que as mulheres representavam a maioria dos operários, como era o caso da indústria têxtil, não levava a sério a organização das trabalhadoras.
Ackelsberg afirma que elas eram consideradas secundárias ou pelegas em potencial. “[Os sindicatos] ignoravam a exploração específica das mulheres no local de trabalho e não reconheciam as necessidades particulares (por exemplo, para a gravidez e os cuidados com os filhos) que elas poderiam ter”, diz a autora.
O mesmo ocorria nas organizações de jovens anarquistas, como a Federación Ibérica de Juventudes Libertárias, nas quais as garotas também eram frequentemente ignoradas, ridicularizadas, tratadas de maneira desrespeitosa e degradante.
“Em resumo, essas mulheres criaram uma organização separada com o objetivo geral de pressionar o movimento mais amplo a estar à altura de sua declaração de compromisso com a igualdade para as mulheres”, disse Ackelsberg.
A organização pretendia empoderar as mulheres para assumirem, ao lado dos homens, um lugar nos sindicatos, no ambiente profissional e na sociedade.
Elas acreditavam que apenas com uma organização própria, atuando de maneira auto-organizada, as mulheres poderiam se ver como capazes de participar do movimento como iguais e, por consequência, ser tratadas dessa forma pelos homens.
“A esperança – e a expectativa – delas era que, uma vez aptas a reconhecer suas próprias capacidades e a superar as múltiplas dimensões da ignorância que havia restringido suas vidas, elas poderiam lutar ao lado dos homens por uma sociedade ‘mais humana e mais justa’ para todos”, explica Ackelsberg.
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