Anteontem, 29 de março, foi o Dia do Jovem Combatente, data em que se justifica a memória de todos aqueles que foram assassinados lutando contra o Estado e o Capital, em diferentes lugares da Região Metropolitana – Macul, Maipú, Pudahuel, Quinta Normal, Estación Central, Buin, Melipilla, Lo Espejo, Puente Alto, entre outros – grupos coordenados de anarquistas e anticapitalistas realizaram diversas atividades de agitação, reivindicando liberdade para todxs xs presxs da revolta e afirmando que o pior vírus é este sistema que espalha a morte por toda parte. A seguir, reproduzimos carta escrita por um camarada revolucionário anarquista preso por participação ativa na revolta.
PALAVRAS DA PRISÃO PARA O DIA DO JOVEM COMBATENTE
Estas palavras de amor e guerra vão para Johnny Cariqueus e seu pai à prova de fogo.
Nunca te conheci pessoalmente, Johnny, eu sabia que eras um habitante de Pudahuel que como muitos jovens saíram uma noite para comemorar mais um ano do Dia do Jovem Combatente em 2008.
Os esbirros não suportam a insolência de desafiá-los, nem com palavras nem com armas caseiras, e se atiram a selvagem carga daqueles a quem o Estado confia. Eles levam-te depois de um ato numa praça da tua comuna. Imagino esses momentos, gritos, armas à sua cabeça, imobilidade, olhares de ódio entre os dois lados. Você é reduzido e levado junto com outras pessoas corajosas para as masmorras da 26ª Delegacia de Polícia sádica, espancado e humilhado por aqueles que só são corajosos por abuso, mas não por combate. Eles continuam batendo em você, seu coração se aperta, você o comunica aos seus captores, eles na sua crueldade só o ignoram e zombam de você. O meu espírito arde de fúria enquanto imagino isto. Eles deixaram-te ir. Imagino você voltando para casa, com a sua família preocupada, cansada, querendo dormir, o amor do seu pai. A noite passa e imagino que você se sinta mal, seu peito se aperta, sem mesmo saber que a mão dos mortos toca seu ombro. Você morre por causa dos golpes na delegacia e da falta de atenção onde seu grande coração parou de funcionar. Um companheiro que foi ASSASSINADO pela polícia e que vai andar conosco para o resto da sua vida.
Fui ao seu funeral, abraços entre amigos, rostos de raiva e tristeza, fizemos uma arrecadação e compramos uma coroa de flores. Uma bandeira vermelha e preta foi desenhada na diagonal, bandeira da Anarquia, como o teu grito, como o teu rap, como as tuas ideias.
As palavras do teu pai foram a coisa mais doce e dolorosa que eu ouvi naquele dia. Não me lembro bem delas, mas o orgulho do seu filho turvou por um momento a dor da sua ausência. Lembro-me que fiquei impressionado nos corredores estreitos do cemitério. A multidão ouviu cada palavra, de seu pai, de Dona Luisa e Don Manuel. O luto deu lugar à raiva.
Sabemos que o caminho que escolhemos como revolucionários está cheio de infortúnios, que opor-se de qualquer forma a este mundo de miséria tem custos elevados. Que cada morte e prisão é outro espinho no nosso espírito. Que a vida é pesada e dói para os explorados, mas como isso é verdade também é o amor e solidariedade, olhos e sorrisos que são cúmplices, a capacidade de se organizar sem senhores ou escravos, o gozo da vida, xs filhxs, dos amores e xs compas, o fogo inextinguível da liberdade abrindo caminho para tudo.
Um desses momentos preciosos foi o dia em que conheci seu pai na Plaza Dignidad, ele sempre abraçou seu espírito indomável desde seu assassinato, sempre deu um rosto para seus assassinos, a polícia imunda e seus patrões. Naquele dia o teu pai não me viu, só havia olhos, mas debaixo da máscara o meu rosto sorria de novidade e felicidade. Esse e todos os dias eu luto contigo, com os nossos mortos no meu coração, na minha mente e nas minhas mãos.
Porque nem tu nem os outros camaradas caídos estão mortos. Eles vivem nos ataques, nas barricadas, nos confrontos, nas assembleias. Eles são combustíveis para a chama que acabará com este mundo autoritário ao som da anarquia e da liberdade.
Com a Juventude Combatente.
Avivando a Ressurreição Permanente.
Enfrentando o advento do fascismo e do controle. O Estado e os ricos só pensam em nos manter como escravos, vamos jogar fora a institucionalidade pela causa da organização ilegal e antiautoritária.
Camaradas Rafael e Eduardo, Norma, Paulina, Jhonny, Claudia, Maury, Angry, Pablo, Aracely, Chaka e todo o povo caído lutando pela libertação.
Uma e mil vezes presente!
Abraços de fogo para dona Luisa e don Manuel, que têm sido mãe/pai de muitxs. Sei que eles vêem os seus filhos refletidos nos olhos dos jovens lutadores.
Viva a Anarquia!
Prisioneiro político anarquista
29 de Março, 2020
Tradução > Liberto
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agência de notícias anarquistas-ana
Juntos,
um homem e a brisa
viram uma página
Betty Drevniok
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!