
Em tempos de uma crise mundial devido à pandemia do coronavírus, o projeto da clínica de Jinwar não só aborda a necessidade de centros médicos para salvaguardar a saúde das pessoas, mas que trás à luz necessidades muito mais profundas.
Por Sara Ainhoa de Ceano-Vivas Núñez | 29/03/2020
Jinwar, conhecido como o povoado das mulheres em Rojava, é um projeto organizado pelo movimento de mulheres no norte e leste da Síria. Começou a erigir-se desde as raízes com uma perspectiva ecologista e autossustentável, onde todas as suas construções são feitas de adobe, de maneira tradicional e protegendo o meio ambiente.
O lugar tem grandes extensões de hortas e árvores frutíferas, um forno de pão e uma tenda de alimentação, além de um colégio primário onde participam as meninas e os meninos de Jinwar, mas também dos povoados vizinhos. Não é o único espaço de docência: uma academia transmite formação, como inglês ou informática às mulheres.
Jinwar está habitado por mulheres, algumas viúvas e sem recursos, ou mães de famílias numerosas e deslocadas da guerra ou que sofreram violência machista, e meninos e meninas em situações vulneráveis. Sua organização o faz configurar-se como o projeto pioneiro mais importante para o movimento de mulheres em Rojava: um protótipo de comunidade que deseja aspirar a uma convivência livre entre elas e com o entorno que habitam.
DEFENDER A SAÚDE DA COMUNIDADE
Em 4 de março passado abriu-se no povoado um novo centro médico focado no cuidado da saúde de mulheres, meninos e meninas. O centro oferece atenção médica mesclando a medicina convencional, as plantas medicinais e a terapia baseada em exercícios físicos e massagens. Desejam ser um centro de referência, onde não só se ofereça uma atenção primária, dizem, mas também um centro de investigação para promover a medicina natural e alternativa.
Em tempos de uma crise mundial devido à pandemia do coronavírus, o projeto da clínica de Jinwar não só aborda a necessidade de centros médicos para salvaguardar a saúde das pessoas, mas que traz à luz uma verdade e necessidade muito mais profunda e importante. “Uma sociedade que não é capaz de defender sua saúde e cuidar dela nunca poderá ser livre”, sustenta o líder curdo Abdullah Öcalan.
MK, doutora internacionalista, que se deslocou à Rojava para participar da revolução das mulheres, é agora uma das responsáveis da nova clínica de Jinwar. Com vários anos de estudo e trabalho na saúde ocidental, MK afirma que “a saúde é o espelho da sociedade em que vivemos, e, portanto das opressões que sofremos, sustenta. Atualmente nossa saúde está totalmente em mãos dos Estados, os quais nos fazem totalmente dependentes deles e nos deixa à mercê de seus interesses”. O novo centro médico em Jinwar é parte de um plano estratégico sobre a saúde, onde mudar a perspectiva da saúde e dotar a população de ferramentas para poder cuidar e defender a saúde da comunidade é o objetivo a longo prazo.
A clínica está dando seus primeiros passos e a difusão sobre o projeto é uma parte muito importante do mesmo. Por isso informam às mulheres da zona, casa por casa, sobre a iniciativa e as animam a utilizar o centro e a participar das formações que vão realizar, com o objetivo de aumentar o autoconhecimento sobre a saúde das mulheres e crianças.
Atualmente o centro conta com seis mulheres entre seu pessoal médico: uma doutora de medicina geral, duas enfermeiras e uma especialista em medicina natural e alternativa que conta com uma aprendiz e ajudante. Mas o objetivo a médio e curto prazo é, declaram, contar também com uma parteira e mais especialistas em terapias naturais, assim como adquirir um laboratório e uma ambulância para casos de emergência.
TRATAMENTOS
A investigação e recuperação de tratamentos com plantas medicinais é um dos pilares do novo centro, segundo explica o pessoal. Defendem que devido ao monopólio da medicina química e de sistemas de saúde dominados por homens, empresas e Estados, os tratamentos naturais ficaram praticamente esquecidos ou foram desprestigiados pela ciência moderna: “É indispensável resgatar os conhecimentos sobre medicina natural que estão sendo enterrados e recuperar o importante papel que as mulheres, durante milhares de anos, tivemos em torno a este tema, e que nos foi expropriado com a aparição da ciência (moderna)”, nos explica MK.
O fundamento é que os tratamentos com plantas medicinais locais potencializam a autonomia para o cuidado da saúde das pessoas e as tornam menos dependentes dos sistemas de saúde estatais ou das grandes corporações farmacêuticas. É por isso que o centro conta com um jardim de plantas medicinais, assim como investigações em plantas locais e sua utilidade para diferentes tratamentos.
O centro impulsiona o intercâmbio de remédios naturais tradicionais e trabalham em um arquivo de todo o conhecimento que usualmente foi praticado pelas mulheres idosas dos povoados. “Creio que a construção deste projeto tem uma importância chave em fazer da saúde uma ferramenta que libere a sociedade e ao mesmo tempo no caminho que nos una e fortaleça como mulheres”, sentencia MK.
Tradução > Sol de Abril
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Anônimo, não só isso. Acredito que serve também para aqueles que usam os movimentos sociais no ES para capturar almas…
Esse texto é uma paulada nos ongueiros de plantão!
não...
Força aos compas da UAF! Com certeza vou apoiar. e convido aos demais compa tbm a fortalecer!
Não entendi uma coisa: hoje ele tá preso?