[França] Paremos tudo, exceto o que é vital

Obrigando milhões de trabalhadores a se submeterem ao trabalho em atividades sem sentido e sem utilidade perante a pandemia, o Estado e os patrões comportam-se como criminosos. O que é essencial e o que é vital, cabe às trabalhadoras e aos trabalhadores decidirem.

Obrigando milhões de indivíduos a se submeterem ao trabalho, em funções que não têm nenhum sentido e nenhuma utilidade perante a COVID-19, o Estado e os patrões comportam-se como criminosos.

Tentam convencer-nos de que os “maus comportamentos” individuais são os responsáveis pela epidemia.

Ainda ousam dizer que os enfermos de hoje são aquelas e aqueles que não “respeitaram” o isolamento, como disse o comissário Lallement, enquanto a ministra do trabalho conduz uma guerra a serviço da burguesia, forçando os canteiros do BTP a retomarem as obras, e enquanto o transporte nas grandes aglomerações urbanas tornam-se rodovias para o vírus, com uma frota freqüente que leva à retomada do trabalho em inúmeros setores.

Essas declarações dão vontade de vomitar. A arrogância e a indiferença do comissário Didier Lallement foram um insulto a todas aquelas e aqueles que perderam a vida, a todas aquelas e aqueles que lutam contra a doença, tanto pacientes quanto cuidadores. Mas eles são apenas a odiosa caricatura de um sistema político e econômico assassino.

A realidade é que a sede mortífera por lucros dos capitalistas é, para esse governo, uma prioridade a ser satisfeita.

Já a nossa prioridade, tanto por nós quanto por todas aquelas e aqueles que fazem girar as engrenagens desta sociedade com seus trabalhos, assim como pelas trabalhadoras e trabalhadores da saúde que buscam por todos os meios enfrentar a pandemia, é proteger todas as pessoas dessa doença.

Paremos imediatamente todas as atividades, exceto as que são vitais

Fala-se muito da Itália e da Espanha, por já terem limitado a produção dos bens e dos serviços que seus governos julgam essenciais, mas, se isso foi feito nesses países, é em parte porque as trabalhadoras e os trabalhadores revoltaram-se. Por meio da greve e das paralisações, protestaram e resistiram.

E não é bem por aí! Todo o setor de logística continua sendo considerado “essencial” pelo governo italiano. Um setor no qual encontram-se, por exemplo, inúmeros armazéns onde transitam pacotes de sapatos, de roupas, de brinquedos… Todo o setor das centrais de atendimento está igualmente mobilizado. Tudo isso é essencial? De verdade?

Pois dizemos que cabe às trabalhadoras e aos trabalhadores decidir diretamente! E utilizar toda sua força e toda sua inteligência coletiva: por meio do direito assegurado de afastamento, por meio da paralisação, da greve… mas também (por que não?) pelo “controle” da produção de bens e serviços, ou por iniciativas de reorganização das ferramentas de trabalho, em autogestão e a serviço da luta contra a doença.

É exatamente a socialização que está na ordem do dia.

Eis as nossas urgências! Eles podem até vetar o direito de greve em Portugal, licenciar os sindicalistas da Amazon, como fizeram com Chris Smalls em Nova York, mas sabemos que a nossa classe continuará a resistir e a defender-se. Porque não estamos sós.

Porque na França essas resistências já existem hoje: paralisações na Amazon já ocorrem, apoiadas por sindicalistas do SUD e da CGT. Também ocorrem convocações para greve por parte dos sindicatos dos entregadores de bicicleta. Igualmente, têm ocorrido recusas ao trabalho, até que se obtenham proteções superiores às já necessárias.

Portanto, sim, nós pedimos à população para não encomendar produtos que não são necessários e vitais, mas não esquecemos que, se a demanda é possível, é porque a oferta está mantida. A primeira responsabilidade é a dos capitalistas.

Por nós e para nós, devemos pará-los.

Union Communiste Libertaire, 8 de abril de 2020.

Fonte: https://www.unioncommunistelibertaire.org/?Arretons-tout-sauf-ce-qui-est-vital

Tradução > Dienah Gurhühor

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