45 dias de norte: dois punks brasileiros sem dinheiro pela Europa – dia 45, dia 44 e dia 43

Dia 45 – O adeus é um Kick-Off

Podemos até jogar pelo FC Vova, mas isso não nos faz lituanos. Toda a cerveja e o skunk apagaram nós dois, e acordamos com a Rê nos chamando às 3h10. Já era o busão pro aeroporto. Na internet, lemos que o bilhete pode ser usado até 60 minutos antes e depois. Teríamos que pegar o das 4h20, mas torcendo pra ter lugar. A outra opção é um táxi pro aeroporto: 40 libras. Escolhemos essa opção. Rê nos ajuda a conseguir o táxi, levanta, vai com a gente até o ponto de busão. Foda, Rê, foda, sem palavras pra agradecer tudo. Pegamos o táxi e chegamos no aeroporto com tempo de sobra.

 Vim pra Europa com três agasalhos, volto com oito. Deu pra entender? Tive que vestir quatro deles, os outros quatro foram na cintura. Tudo pra não rodar no vôo da RyanAir, o último deles, finalmente. Passo um calor desgraçado, então dentro do avião tiro tudo e já aviso o Allan que ao chegar vamos ter calma, ser os últimos a sair se for o caso. Feito isso, eu fui o último, só que não sabia que o avião parava na pista e de lá tinha ônibus pra nos levar ao desembarque, então uma das comissárias de bordo disse no microfone, o avião vazio, só eu dentro:

 – Sir, there are two buses waiting just for you, thank you.

 Saí meio pensando “foda-se” e meio envergonhado, nem olhei na cara de ninguém no bus, que demorou menos de 30 segundos pra chegar ao desembarque. Gente apressada sem motivo fode. Milão e São Paulo, tudo a ver. No desembarque, termino de me arrumar. Somos os últimos na imigração. Depois de passar por ela, um policial brinca com seu cão farejador, fazendo ele correr na esteira de malas. Cena bizarra, a Itália é um pouco Brasil mesmo. Pegamos o busão pro metrô e lá não dá pra manguear o metrô, tem fiscal, então pagamos 1,50 euro pra chegar de novo no Villa Vegan, squat do qual não tínhamos muitas saudades dada a pouca hospitalidade dos moradores.

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Dia 44 – O dia em que Allan rodou

Conforme combinado, às 9h30 Jesse chega. Pra nossa surpresa, de van, emprestada do Simon. Facilita bastante a nossa vida, as malas estão pesadas. Vamos conversando e nos sentindo sempre em risco de morte por conta da mão inglesa, hehe, e Jesse confirma que vai pra Argentina “haja o que hajar”. Fico feliz com isso, o dublê de Tom Cruise bom de bola pela ponta esquerda voltará ao Brasil. Entramos no Megabus às 10h30 e dormimos bastante, acordando já em Londres, curiosamente em frente à Tite Street, escrito assim mesmo, T-I-T-E.

Descemos na estação Victoria, lotada, e conseguimos entrar no metrô sem pagar. Em Londres dá mais medo que em outros lugares, medo que no final do dia se tornará palpável, vocês verão. O combinado era ir pra casa da Rê, em Archway, então rumamos pra lá e quando chegamos, tento mandar SMS achando que ainda tenho crédito no celular, mas não rola: uma SMS custa 0,10, eu tenho 0,08. Uso o orelhão público, que me rouba 2 libras, mas consigo falar com ela, que vem nos buscar no metrô.

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Dia 43 – Re-conhecendo Bristol

Acordo e lá embaixo João assiste na TV pela internet, qualidade impecável, Atlético de Madrid x Athletic Bilbao. Reprise do dia anterior. Estamos preguiçosos e lamentosos, vendo fotos no Facebook dos dias do campeonato. Paulo Júnior já está em casa, e conversamos sobre escrever um jornalizinho do Auto, contar da Copa, escrever pro Impedimento. Pensamos que esse uniforme do Vova merece ser o uniforme dois do Auto. Idéia do Piva, listras negras e brancas contra o racismo, na horizontal pra simbolizar a horizontalidade das decisões, número e símbolo em vermelho. Vai ficar foda. Assunto pra tratar com o resto do time. Briso também em fazer faixas das parcerias, Auto-Vova, Auto-Easton, Auto-Che. Piva relembra a história do vômito enquadrado de Regi. Assim como em 2010, histórias repercutirão por muito tempo. Talvez pra sempre. Virarão mitos, marcos, referências na história autônoma.

De tarde, resolvemos sair, dar uma volta por Bristol pra quem não conhece conhecer e quem já conhece relembrar. A primeira parada é no Kebele, centro social, onde ficamos algum tempo vendo tudo, compramos livros e bottons. A biblioteca deles é muito foda, tem Paulo Freire traduzido, seção de ciências, seção de marxismo. Rola também uma sala de terapia/farmácia, com remédios feitos de ervas naturais. Inspirações mil pra Mafalda. Jesse aparece com camisas de presente pro pessoal em São Paulo, de times diversos. Não são muitas, algumas ele destina pra pessoas específicas, as outras a gente vê depois na hora.

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Carlos Seabra