[França] Germaine Berton entra em ação

O autor, Frédéric Lavignette, jornalista, escolheu seguir uma trama histórica a partir de uma revisão completa e original da imprensa da época, expondo todas as tensões, para recontar esses momentos singulares de um crime político.

Com uma vasta documentação fotográfica e iconográfica, a estrutura da obra pode ser confusa já que é incomum narrar uma história dia por dia. Mas o objetivo do autor era fazer sentir o ambiente político daquela época, feita de tensões extremas.

Ataque com tiros na Ação Francesa

Quem foi Germaine Berton? Até 22 de janeiro de 1923, uma desconhecida do público em geral. Com 20 anos, a militante anarquista atirou à queima-roupa no secretário geral da Liga de Ação Francesa e no chefe dos Camelots do Rei, Marius Plateau, onde ficava o movimento nacionalista. Germaine Berton queria atacar um líder conhecido do movimento, sendo Charles Maurras ou Léon Daudet, dois líderes nacionalistas que pressionavam a ocupação do Ruhr, cinco anos após o fim de um conflito sangrento.

Germaine Berton não era a ativista mais conhecida da época. Nasceu em 1902 numa família de classe trabalhadora. Era próxima de seu pai mecânico, republicano e anticlerical, mas tinha uma relação difícil com a mãe, uma professora congregacionista muito piedosa.

Em 1912 sua família se mudou para Tours. Germaine entrou na escola de Belas-Artes. Quando seu pai morreu, ela teve que deixar a escola para ajudar no trabalho. Tinha apenas 13 anos quando eclodiu a Primeira Guerra Mundial. Tentou se suicidar após a morte de quem estava apaixonada. Sua oposição antimilitarista estava sendo cada vez mais acentuada.

Germaine Berton entrou para a CGT (Confédération Générale du Travail – Confederação Geral do Trabalho). Fazia parte dos comitês de defesa sindical e, em 1918, reconstituiu o Sindicato dos Metalúrgicos em Tours com a ajuda de outros militantes. Em 1920, se tornou secretária adjunta do comitê sindicalista revolucionário da cidade. Aderiu ao PC, criado no congresso de Tours no mesmo ano.

Em Paris se juntou à União anarquista e a um grupo anarquista individual. Escreveu artigos antimilitaristas e revolucionários. Conheceu Louis Lecoin, que a hospedou. Trabalhou no Libertaire, onde dizem que ela teria roubado cartas e dinheiro, tendo que deixar o jornal. Em 1922, não trabalhava mais, e além de suas dificuldades financeiras tinha problemas de saúde. Abortou em condições difíceis. Em 1923, a ocupação do Ruhr pelas tropas francesas ampliou sua ação antimilitarista.

Avaliação de alto perfil

Quem foi a vítima? Marius Plateau era o secretário da Liga de Ação Francesa. Era responsável pela organização dos Camelots do Rei, uma liga monarquista. Antes de seu julgamento, Germaine Berton tentou se suicidar. Léon Blum, Marcel Cachin, Séverine, Aragon e os surrealistas a defenderam. O Le Libertaire lançou uma campanha de apoio. O julgamento terminou com sua absolvição em 1923, assim como o assassino de Jaurès, quatro anos antes.

O julgamento estava repleto de mistérios sobre o suicídio do amante de Germaine Berton, o anarquista Armand Gohary ou ainda a morte de Joseph Dumas, um policial envolvido na investigação.

Mas então por que esse julgamento foi tão divulgado na época?

Os dois protagonistas estavam completamente opostos um ao outro. Uma mulher, um homem, uma trabalhadora, um burguês, uma anarquista, um monarquista, uma antimilitarista assumida, um militarista vingativo. Segunda razão possível, em um contexto político tenso, a ocupação do Ruhr reviveu as horas sombrias da Primeira Guerra Mundial.

Germaine Berton se suicidou em 1942. Quatro dias depois da morte de Léon Daudet, ironicamente!

Dominique Sureau (UCL Angers)

Frédéric Lavignette, Germaine Berton, um anarquista entra em ação, L’Échappée, 2019, 288 páginas, 24 euros.

Fonte: https://www.unioncommunistelibertaire.org/Lire-Germaine-Berton-passe-a-l-action-8608

Tradução > Estrela

agência de notícias anarquistas-ana

Água de cristal
Forma nuvens coloridas
No meu céu de sol.

Claudia Chermikoski