[Portugal] Antifascista? Não, pois és nacionalista e patriota!!!

Por Emília Cerqueira

O fascismo não é uma praga anti-social, é um elemento intrínseco da sociedade. A massificação e a mentalidade da massa, a necessidade de “pertença” são carne e osso do fantasma que tem acorrentado milhões de vidas, e também é carne sua a ideia de superioridade. É esta prática distinta da do Estado que vacina aos seus súditos nacionalismo e pátria?

Os sociais consideram que o fascismo levou a sociedade para a cama enquanto esta se limita a masturbar-se.

E não são mesmo pelos sociais que anseiam as sociedades socialistas/ comunistas? Por mais que maldigam e façam a vista grossa, a verdade encontra-se perante os olhos deles. O fascismo e o comunismo (não os confundam, não estou a falar só dos do tipo autoritário) são iguais ao nível dos valores morais, salvo quando o primeiro propõe a força bruta e o segundo se rege pelo espírito servil do cristianismo.

Enquanto o fascismo é a morte do espírito, o socialismo é a morte da força.

O fascismo é, antes de tudo, uma “cultura”, uma maneira de ser, de se comportar. O fascismo é o desejo de dominar as pessoas, a natureza e o território.

O fascismo é arrogância, a negação de todos os direitos, a repressão dos que não pensam da mesma maneira, o desprezo ao diferente. Mudou de formas e representantes, mas continua a praticar o trabalho (sujo) de sempre.

Então… O que há por trás dos atuais campos de concentração para imigrantes, as deportações, a opressão e as torturas onde milhares de pessoas estão submetidas pelos Estados?

O racismo continua presente, disfarçado pelos governos, sob o lema da segurança nacional.

O que há por trás da alienação da classe trabalhadora? Uma alienação fomentada intencionalmente para desencadear uma guerra entre pessoas desesperadas? O que há por trás da contínua mitificação da história?

O poder vulnerabiliza até as mais básicas das normas democráticas e redime os fascistas. A justiça está amordaçada ao serviço dos que ostentam o poder, que são os mesmos que atacam a educação pública, a investigação e a liberdade de informação.

O que há por trás das mortes e torturas nas prisões, o crescente número de agressões e ameaças da polícia?

O Fascismo, antes de ser um regime político, é um modo de relacionamento entre as pessoas e o espaço público. É a predisposição (racional ou não) de uma comunidade a regular as suas práticas individuais e coletivas segundo uma Ordem. É o processo cotidiano de inter-coação, vigilância e medo pelo qual as condutas desviantes, a espontaneidade, as singularidades e idiossincrasias, o humor, a divergência ou a rebeldia se vêm obrigadas a optar entre justificar-se – assumindo uma discursividade institucional e fundindo-se com a unicidade da Ordem – ou desaparecer, anular-se, deixar de existir.

(A Ordem é um sistema moral e estético, responsável pela integração vertical da multiplicidade de existências, de seres e lugares, do bem e do mal, do belo e do feio, do limpo e do sujo, do crime e do pecado, que materializa, elege e glorifica na vida de uma comunidade um modo, por oposição a todos os outros modos. A Ordem é a expressão material – observável tanto na gestualidade de um encontro entre dois amantes como na disposição do asfalto, nas paredes de uma rua como nas mesas de uma esplanada, na circulação do automóvel como no tom de uma gargalhada – da ideologia que permite que uma parte reservada dessa comunidade mantenha o Poder sobre o seu todo.)

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que seja ela mesma

Alice Ruiz