Poucos dias depois de atos de protestos vandálicos em Guadalajara, San Luis Potosi, Cidade do México e Xalapa devido à brutalidade policial e ao assassinato de Giovanni Lopez, as mobilizações se replicam novamente na Cidade do México, Guadalajara e Xalapa.
Guadalajara terceira jornada de protestos (6 de junho)
Um terceiro dia de protestos aconteceu em Guadalajara. Cerca de 400 pessoas se manifestaram na rotatória Minerva no centro da cidade e avançaram pela avenida Vallarta-Juarez, onde realizaram pichações e houve uma tentativa de violência no final da manifestação que não prosperou. O governo estadual de Enrique Alfaro tem se caracterizado pela brutalidade policial e nos lembra a brutal repressão vivida em 28 de maio na luta antiglobalização contra a ALCUE em 2004. O desaparecimento de detentos, o abuso sexual e a tortura continuam.
Distúrbios na Cidade do México (8 de junho)
Os ânimos estavam altos depois que a companheira Melanie foi espancada por policiais nos tumultos de 5 de junho durante a convocação para uma concentração na Embaixada dos Estados Unidos. Aqueles que não viram a violência policial ao vivo puderam ver as fotos na internet e acudiram ao chamado para ação. Levantando o tom anti-polícia, manifestantes marcharam armados com bastões, foguetes, chaves de fenda, martelos e latas de aerossol pelo Paseo Reforma derrubando cercas, atacando monumentos, vandalizando as instalações do KFC, o Hotel Fiesta Americana, Banco do México e câmeras de vigilância privada e pública (C5), provocando saques e deixando na rua livre acesso a pilhas de produtos que eram extraídos das lojas, uma das lojas mais atingidas foi a da marca “adidas”, as paredes do Hemiciclo Juárez foram derrubadas, e vários repórteres da imprensa foram atacados e intimidados.
Uma nota escrita pelo jornalista Hector de Mauleón (atenção com isto) datada de 11 de junho do jornal Universal deu a conhecer os nomes e sobrenomes de vários companheiros e até mesmo declarou o currículo criminal e político de cada um, demonstrando uma vez o papel cúmplice da imprensa com o Estado e porque eles devem ser atacados durante e fora das manifestações.
Distúrbios em Xalapa (8 de junho)
Duas marchas são chamadas, uma pacífica e a outra com sugestões de ação direta. A manifestação percorreu a Avenida Ávila Camacho até chegar ao centro da cidade, destruindo diversos símbolos capitalistas, estatais e religiosos. Grupos de pessoas vestidas de preto e com capuzes atacaram vários escritórios bancários, três igrejas foram danificadas por grafite e seus vitrais, portas e estátuas de ídolos religiosos foram destruídos, os escritórios do jornal Diário de Xalapa foram atacados com força, vários centros de especulação e lojas de penhores foram destruídos, assim como o palácio do governo onde incendiaram uma porta. Um prédio policial (SSP) foi igualmente vandalizado e ao final da marcha, letreiros ornamentais de Veracruz foram destruídos na praça principal e um boneco representando um policial foi incendiado. Além de Giovanni Lopez, Carlos Andres Navarro e George Floyd, os ativistas de Veracruz foram lembrados por seus assassinatos, como Nadia Vera, Ruben Gonzales, o anarcopunk de Oaxaca Salvador Olmos, bem como demandas feministas e anarquistas.
Uma breve reflexão
Diante de todas essas expressões de violência contra a polícia e a normalidade, é importante ressaltar que uma perspectiva anarquista consistente não pode limitar-se a lutar circunstancial e monotematicamente por um determinado ato de brutalidade policial, como neste caso foi desencadeado pela disseminação pelas redes sociais do assassinato de Giovanni Lopez em Jalisco, pois não é nem será a primeira morte perpetrada pelo Estado e pela polícia, não é o único fato que indigna. No México, este é o pão nosso de cada dia, e mesmo que a polícia aja com apego ao Estado de direito, vamos combatê-lo, somos contra o Estado, o capital, sua civilização e a nova normalidade a que ele quer nos levar. Se os parentes que pedem justiça aos mesmos policiais e governantes que assassinaram um dos seus, sobrepondo-os e repudiando os atos de vandalismo e o anarquismo violentamente propagado, isso deveria nos ajudar a remover o véu de “heróis do povo”, para podermos nos entender como verdadeiros vândalos e delinquentes (muito à nossa maneira) desencantados com o mundo e a sociedade atual, em busca de uma dignidade que negue o existente que se coloca aos opressores. Estamos acostumados a não ser ninguém e sermos apontados, e melhor que seja assim, no dia em que as massas de consumidores começarem a nos aplaudir, estaremos fazendo algo errado. Nem as lutas entre os poderosos nem a ignorância dos cidadãos conseguirão sair da narrativa conspiratória da luta entre partidos políticos: Que somos pagos pelos conservadores para desestabilizar o governo do presidente Andrés Manuel López Obrador (também conhecido como AMLO), que somos bandidos, que se o AMLO está por trás das marchas, que esta é novamente a mão negra do PRIAN, etc… É a estupidez se disfarçando de cientista político. Nunca entenderão a essência da velha frase “nossos sonhos não cabem nas urnas”, muito menos que “levamos um mundo novo em nossos corações”, e muito menos “a negação do que existe”.
Então:
Nenhuma agressão sem resposta!
Solidariedade e cumplicidade!
Não vamos nos juntar aos seus apelos por justiça, não vamos lamber botas!
Contra o reformismo e a cidadania!
Pela propagação do ataque à autoridade!
Contra sua nova normalidade: nossa eterna e irredutível anarquia!
Vamos aproveitar os tumultos para roubar em benefício dos nossos projetos!
Contra o sequestro voluntário: saúde e conspiração!
Que a pandemia não o aprisione física ou mentalmente!
Pela propagação do conflito: Não ao trem Maia ou a qualquer novo empreendimento do poder e da tecno-indústria!
ACAB!
V í d e o s
Cidade do México:
https://www.youtube.com/watch?v=DZRpbycR9ks&feature=emb_rel_pause
https://twitter.com/i/status/1270089679216324618
Xalapa:
https://www.youtube.com/watch?v=X7whRs8vkXM
https://www.youtube.com/watch?v=zdD1UnsnLFI
Tradução > Liberto
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