Por Mumia Abu-Jamal | 19/06/2020
Nasceu com o nome de Delbert Orr, mas é conhecido no mundo como Delbert Africa, um proeminente integrante da Organização MOVE.
Nos anos 70 na Filadélfia ele era, talvez, seu integrante mais conhecido e citado com mais frequência. Com mais anos que a maioria, era adepto de usar os meios de comunicação para difundir informação e promover os propósitos do MOVE.
Seu sotaque campestre dos arredores de Chicago e seu engenhoso jogo de palavras fizeram seus comentários interessantes e lhes deu valor jornalístico.
Lamento informar-lhes que Delbert Africa, que ganhou sua liberdade em janeiro de 2020 depois de 41 anos encarcerado, perdeu sua vida faz uns dias pelos estragos do câncer.
Mas esta não é toda a história. No final do ano passado, Delbert foi levado com urgência a um hospital próximo devido a um transtorno não divulgado.
Ao sair da prisão, Delbert consultou com alguns médicos que estavam horrorizados ao saber das drogas que lhe deram enquanto estava na prisão Dallas no estado da Pensilvânia. Um médico disse: “Os medicamentos que usavam nessa prisão eram veneno”.
Ainda assim, Delbert terminou sua estada na prisão forte em espírito. Amava a Organização MOVE e odiava o sistema podre.
Delbert criticou as pessoas negras que apoiavam o sistema e se opunham à revolução. Costumava chamá-los “niggapeans”, uma palavra que eu nunca escutei da boca de alguém mais.
Mais de uma década antes do golpe policial desferido em Rodney King e gravado em vídeo em Los Angeles, Delbert foi golpeado por quatro policiais da Filadélfia em 8 de agosto de 1978, e o golpe foi gravado por uma emissora local.
O vídeo mostra que Delbert saiu sem armas de uma janela do porão de sua casa depois de um enfrentamento com a polícia. Com seu torso desnudo, havia levantado os braços em um gesto de aceitar a detenção.
Imediatamente quatro policiais o rodearam e o golpearam selvagemente, batendo com o cabo de seus rifles, esmagando sua cabeça com um capacete de motocicleta, e chutando-o até que perdeu a consciência.
Sim, é o que fizeram.
Delbert sofreu uma fratura de mandíbula e um olho inchado do tamanho de um ovo de Páscoa.
Houve um julgamento branqueado de três dos policiais, no qual o juiz pôs o caso abaixo ao destituir o jurado composto de pessoas de áreas rurais da Pensilvânia, para logo declarar uma absolvição dos policiais apesar da evidência gravada em vídeo da brutalidade do Estado.
E essa brutalidade não se limitou às ruas do Oeste da Filadélfia, tampouco ao injusto julgamento e condenação de Delbert e outros integrantes do MOVE.
Continuou durante 41 anos em uma clausura esgota almas e de uma atenção médica vergonhosa. Delbert aguentou tudo e saiu livre com sua alma de revolucionário negro intacta.
Como um integrante do MOVE até o final, seguiu sendo seguidor dos ensinamentos de John Africa, e viveu abraçado pelo amor de sua família MOVE e de sua filha Yvonne Orr-El.
No fim das contas, o amor é o mais próximo que chegamos da liberdade.
Delbert Africa, depois de 72 verões, voltou para seus antepassados.
Desde a nação encarcerada, sou Mumia Abu-Jamal.
Tradução > Sol de Abril
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agência de notícias anarquistas-ana
Partida, hora amarga
Enche-se alma de saudades
E os olhos de lágrimas…
Ulisses Cuiabano
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!