[Espanha] O livro anarquista

Por Carlos Taibo | 10/06/2020

Eu poderia dizer que você está prestes a estudar a relação muito poderosa do mundo anarquista com a palavra escrita. Na verdade, e ainda assim, há poucos estudos sobre este assunto. Desde tempos imemoriais, onde tem havido, e onde há, um grupo anarquista também há uma gráfica, uma editora, uma revista e uma vietnamita que permitiu a multiplicação de folhetos. O peso do fenômeno tem sido tal que ouso dizer que a imagem saudável que muitos de nossos avós libertários – e avôs – ainda têm entre nós se deve a um esforço de alfabetização e construção de cultura intimamente ligado a livros e panfletos, e liderado por pessoas que se ergueram clara e maravilhosamente acima de suas possibilidades.

Parte disso chegou até nós hoje e, em minha opinião, isso foi feito através de três canais diferentes. O primeiro nos fala da sobrevivência de um mundo editorial surpreendentemente forte. Há ainda muitos editores libertários que publicam com talento e com muito, muito trabalho voluntário. A este respeito, não é supérfluo comparar o que é publicado neste mundo com o que é retirado da imprensa gráfica pelas forças políticas habituais. Apesar de sua aparente modéstia, quantitativamente e – acredito – qualitativamente o mundo libertário está ganhando abertamente.

O segundo desses canais que invoquei refere-se à condição de um punhado de livrarias que resistem heroicamente. Mesmo sabendo que a lista é mais longa, penso no que significam La Malatesta em Madrid e La Rosa de Foc em Barcelona. Mas eu poderia propor exemplos de outros locais e de outras cidades ao redor do mundo. Em tal cenário, e enquanto isso, não parece que os maus momentos que são comumente previstos para o livro tenham chegado para aqueles que demonstraram tanto esforço para continuar divulgando as obras de Bakunin, Kropotkin, Louise Michel ou Emma Goldman.

Estou interessado, porém, em prestar atenção especial ao terceiro canal, que não é outro que o fornecido pelas feiras do livro anarquista, reuniões que, no caso da Espanha, são realizadas a cada ano há algum tempo em cerca de uma centena de locais. Elas não servem apenas, a propósito, para divulgar as publicações dos editores libertários: elas se tornaram ao mesmo tempo um espaço genuíno e transversal para a troca de opiniões em um mundo muitas vezes dividido e sectário. Como seria bonito se um movimento como aquele em que estou envolvido levantasse voo, em um grau ou outro, graças ao livro.

Fonte: https://www.carlostaibo.com/articulos/texto/?id=685

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

que flor é esta,
que perfuma assim
toda a floresta?

Carlos Seabra