[Espanha] As ‘Doce pruebas de la inexistencia de Dios’: um folheto muito popular na Espanha até 1939

Por Sergio Giménez | 12/10/2020

Obra do pedagogo, escritor, divulgador e filósofo anarquista francês Sébastien Faure (Saint-Étienne, 1858 – Royan, 1942), as “Doce pruebas de la inexistencia de Dios” é uma conferência publicada na França em 1914, e que na Espanha foi muitíssimo lido até a Guerra Civil.

Nascido no seio de uma família muito católica de classe média, Faure foi enviado para estudar com os jesuítas, com os quais chegou a fazer um noviciado de dezoito meses em Clermont-Ferrand. No entanto, a morte de seu pai em 1875, a quem havia prometido abandonar a ideia do sacerdócio para se encarregar da família, o levará por caminhos inesperados.

Depois de dedicar-se ao comércio e de ingressar como inspetor em uma companhia de seguros, com um ano de serviço militar no meio, Faure perdeu a fé e começou seu compromisso com o socialismo. Tanto foi assim que “Sébast” foi candidato do guesdista Partido Obrero nas eleições legislativas de 1885.

Mas em três anos evoluiu para o anarquismo sob a influência de Joseph Tortelier e os escritos de Kropotkin e Reclus. A partir de então inicia sua carreira como conferencista itinerante, passando frequentemente por fadigas, e com as primeiras condenações e entradas na prisão por causa de sua decidida militância. Apesar de tudo Faure se converteu em um orador profissional que vivia principalmente de suas turnês, auxiliado durante muito tempo por seu companheiro Armand Matha. Os atos sempre eram planejados em detalhes: número e formato de cartazes, escolha e distribuição dos assentos, financiamento, etc.

Os temas escolhidos eram destinados ao público em geral, muitas vezes vinculados à atualidade, e entre estes ocupou um lugar destacado a propaganda antirreligiosa. Ele gostava sobretudo dos discursos sobre a não existência de Deus, e era habitual que em seus giros um sacerdote local fosse convidado para a réplica. Em 12 de janeiro de 1906, por exemplo, deu uma importante conferência em Paris sobre a quebra do catolicismo, convidando os abades Viollet, Garnier e Naudet, assim como o jornalista e político Marc Sangnier, criador do movimento “Le Sillon” e promotor do catolicismo democrático e progressista. Não é raro, pois, que em 1912 encontremos já impresso um folheto de resposta às teses de nosso protagonista.

O desenvolvimento de um tema em diferentes conferências com frequência resultava na publicação de um folheto. É o caso das “Doce pruebas de la inexistencia de Dios”, que sintetiza os argumentos antirreligiosos de Faure desde 1908 aproximadamente, completados mais tarde em “La impostura religiosa” (1923). Um argumento que parte das características de Deus tal e qual o definem os próprios crentes, a sua ideia e conceito de Deus, para desenvolver depois uma série de raciocínios que uma vez ou outra levam à conclusão de que Deus não existe. Um argumento, pois, que se distancia tanto da tradição ateia centrada nos ataques ao clero (Faure só o faz como conclusão ao final do opúsculo) como do marxismo e do cientificismo positivista.

Na Espanha foi publicado em 1916 na Biblioteca “Tierra y Libertad”, e foi o anarco-sindicalista leonês Ángel Pestaña quem o traduziu ao castelhano graças a seus conhecimentos de francês, fruto de seus anos de residência na França e Argélia. Mais tarde apareceriam mais três edições na mesma coleção, assim como outras em “El Obrero Moderno”, “Acracia”, “Vértice”, “El Sembrador”, “La Revista Blanca” e, de novo, “Tierra y Libertad”, que durante a Guerra Civil reeditou o texto em seus “Cuadernos de Educación Social”. Também há que destacar a edição em castelhano da “Librería Internacional de París” (1927).

Por seu caráter científico, profundamente racionalista, e seu original desmonte da doutrina cristã, as “Doce pruebas de la inexistencia de Dios” foram muito apreciadas pelos leitores obreiros e intelectuais de todo tipo, pelo que o livro foi um dos títulos mais populares de todo o movimento editorial libertário hispânico, alcançando a descomunal cifra de menos 300.000 exemplares vendidos até o ano de 1939.

Bibliografia

CIVANTOS URRUTIA, Alejandro (2015), Leer en rojo. El libro popular antiautoritario y de izquierda (1917-1931) [tesis doctoral]. Universidad de Granada. Disponible em <https://hera.ugr.es/tesisugr/2479210x.pdf>

HERNÁNDEZ LUJANO, Ismael, “Introducción” a Las doce pruebas de la inexistencia de Dios. México: El Gallo Pitagórico, 2016. Disponible en https://www.academia.edu/27450108/DOCE_PRUEBAS_DE_LA_INEXISTENCIA_DE_DIOS

MAITRON, Jean, DAVRANCHE, Guillaume, “FAURE Sébastien, Auguste, Louis”, Dictionnaire des anarchistes. Disponible en <https://maitron.fr/spip.php?article154431> (consultado el 10-10-2020).

SORIANO JIMÉNEZ, Ignacio (2016), L’anarquisme a Tarragona (1917-1924). Formós Plaja i Carme Paredes. Tarragona: Publicacions de la Universitat Rovira i Virgili. Disponible en <http://llibres.urv.cat/index.php/purv/catalog/view/379/392/900-1>

Fonte: https://serhistorico.net/2020/10/12/las-doce-pruebas-de-la-inexistencia-de-dios-un-folleto-muy-popular-en-espana-hasta-1939/

Tradução > Sol de Abril

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