Passava da uma da manhã quando o general, montado sobre seu cavalo, pairava nas alturas. Eles foram erguidos por um guincho, diante de pelo menos uma dúzia de militares prestando continência. O clima cerimonial, musicalizado por uma corneta, era interrompido por gritos de “assassino” vindos dos arredores. No edifício mais alto da praça, era projetada a frase “Extirpar de Raiz”, referência a uma analogia usada pela ditadura do general Augusto Pinochet, que comparou o comunismo a um “câncer”.
A projeção pôde ser lida somente por cerca de três minutos. Rápido, mas suficiente para figurar nas fotos da remoção histórica. Depois de 93 anos, a estátua do general Manuel Baquedano, considerado por muitos um herói do Exército chileno pelo desempenho na Guerra do Pacífico, era retirada do centro da Praça Itália — rebatizada por manifestantes da insurreição social chilena como “Praça da Dignidade”.
Disputa de narrativas
“Tinha tantos militares que até dava medo”, diz Octavio Gana, que realizou a projeção durante a retirada do monumento. Seu coletivo artístico e de design, o Delight Lab, realizou diversos mappings no local — como o da a palavra “Renasce”, que marcou, no plebiscito do ano passado, a aprovação da reforma constitucional chilena herdada da ditadura.
A Praça Itália, outrora utilizada para comemorações de torcidas de futebol, virou o espaço central das manifestações iniciadas com o reajuste do transporte público em 2019, mas que acabaram expressando diversas demandas por direitos, como acesso à educação, à saúde, à aposentadoria e até à água, que no Chile é privatizada.
Em um país que decidiu, com quase 80% dos votos, reescrever suas regras, o simbolismo do general no centro da praça também foi colocado em xeque. Baquedano atuou na ocupação do sul do país e, apesar de não haver consenso na historiografia sobre seu grau de participação nas campanhas militares, seu nome acabou vinculado ao massacre da população mapuche. Algo que, após diversas tentativas de derrubar as duas toneladas de bronze da sua estátua, parece não poder conviver com manifestações por uma vida digna.
“Queria que a gente tivesse derrubado, tentamos muitas vezes”, diz Mons, pedreiro e grafiteiro de 40 anos, sobre o sentimento ao ver a remoção da estátua do centro da praça. Pai de dois filhos e morador da periferia de Santiago, ele vai à capital todas as sextas-feiras para protestar. Com outras seis pessoas, Mons integra um coletivo anarcoartístico que promove ações “vandálicas e antissistêmicas”.
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Alonso Alvarez
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!