Solidariedade Anarquista: sobre as próximas eleições na Coreia do Sul

Declaração da Solidariedade Anarquista sobre as próximas eleições locais na Coreia do Sul.

1 – Na Coreia, as novas eleições para o governo e assembleia locais ocorrem em dois dias e não nos importamos com o que está acontecendo durante a disputa eleitoral.

2 – Nós negamos a possibilidade de transformação social através de eleições. Além disso, nem ao menos acreditamos que mudar o nome do comandante através do voto tem qualquer chance de gradualmente (e certamente não radicalmente) melhorar a sociedade. Acreditamos que a única forma de transformar radicalmente, ou de melhorar gradualmente a sociedade, é nada menos do que ação direta das massas populares, que estão elas mesmas organizando e lutam de acordo com seus interesses e necessidades.

3 – Mas estas novas eleições locais sul-coreanas nem ao menos merecem ter oposição lógica ou ideologicamente, pois nenhum candidato nestas eleições está falando sobre melhorar a sociedade. Eles nem se incomodam em dizer à massa popular “nós bons, eles maus”. Eles nem se importam em fingir que têm a “visão de uma sociedade melhor”. Eles continuam falando sobre julgar o governo ou sobre limpar os males antigos. Agora eles estão declarando abertamente que são os menos piores, então, que votem nos menos piores.

4 – Nós nos perguntamos o que é, basicamente, “mau”. Acreditamos que o sistema em si é mau. Esse é o sistema em que as pessoas são mestras de tudo por apenas um dia a cada período de alguns anos, quando são implorados por um voto. Enquanto isso, elas são como escravas nas outras centenas de dias. Esse é o sistema em que a greve da massa trabalhadora é oprimida pela polícia enquanto os conservadores estão no gabinete. Este é o sistema em que quem quer que esteja no gabinete, a violência estatal entra no caminho da luta popular, enquanto os capitalistas viajam de helicóptero para evitar até mesmo olhar a luta de longe. O sistema é “mau” por si só.

5 – Portanto, o problema do “pior” ou “menos pior” não simboliza o problema do mau relativo para nós. Nós o vemos como nada menos do que uma diferença estreita de maneiras de manutenção do sistema mau. Nós não nos importamos nem se os partidos conservadores mantêm o sistema banal, ou se o Partido da Revolução Nacional [1] o mantém de alguma maneira “criativa”. Isso não faz diferença alguma.

6 – Deveríamos, então, votar em candidatos “progressistas” ou do “partido dos trabalhadores”? Vamos colocar de lado a questão de se esses partidos progressistas, que tentam parasitar os partidos conservadores, ou que até mesmo são negados pelos conservadores quando fazem isso, são realmente “progressistas” [2]. Vamos nos preocupar apenas com a possibilidade de haver ascensão social, ou pelo menos alguma melhora social.

6.1 – Primeiramente, vamos imaginar o dia em que esses partidos progressistas sejam eleitos por contagem de votos. O momento seria revolucionário (pois não é possível para esses partidos serem eleitos se o momento não for revolucionário) quando as massas populares reconhecerem a necessidade de transformar a sociedade. E esse será o momento em que a vontade obstinada das pessoas contará votos …contará votos? Por que deveríamos limitar a habilidade das pessoas ao ato do voto, e não organizar as lutas das massas através de ação direta mesmo quando o momento é tão revolucionário? Essas tentativas de limitar a capacidade das pessoas não é nada além de subestimar suas reais capacidades.

6.2 – Por outro lado, e se o dia é difícil e os partidos progressistas não tiverem chance de serem eleitos? O que poderão os votos por eles significar neste mundo de “democracia representativa”, em que as leis da maioria e o conluio político são a base da decisão política? Esses partidos políticos “progressistas” e “dos trabalhadores” talvez tenham tido seus inícios em um desejo de transformar o sistema. Mas conforme o sistema de leis da maioria termina como o sistema de leis dos medianos, só existem dois futuros possíveis para esses “progressistas”. Primeiro, mudar de posição em direção à direita. Ou, ser minimizado ao ponto em que sua existência não significa mais nada. Vamos relembrar a história. Partido dos Trabalhadores da Coreia (민주노동당), Novo Partido Progressista (진보신당), Partido Progressista Unificado (통합진보당), Partido da Justiça (정의당), Partido dos Trabalhadores (노동당). Todos eles terminaram do mesmo jeito. Por qual razão podemos acreditar neles quando dizem “será diferente desta vez”, se o sistema continua o mesmo?

6.3 – A respeito dos auto-intitulados “radicais”, que estão dizendo que não esperam serem eleitos, mas só estão utilizando as eleições para divulgação e organização? A despeito do fato de que não há motivo para votar neles, pois a contagem de votos não afeta a motivação deles de serem candidatos, achamos essencialmente uma contradição. Por que eles não podem usar as despesas, o tempo, a capacidade de seu partido para organizar a massa popular e sua ação direta, em vez de concorrer pelo escritório? Eles não conseguem construir organizações trabalhistas somente para organizar a luta da classe trabalhadora, não para fazer campanhas para a eleição?

7 – O mais importante é que, de acordo com o que escrevemos acima, não consideramos um partido político específico, um candidato específico, ou uma ideologia específica como mau ou má. É no sistema em que eles estão que está o “mal”. Portanto, deveríamos sempre buscar e aplicar a tática que pode atacar o sistema, efetivamente, em sua essência.

8 – O direito de votar em nossos próprios representantes, ou o sufrágio universal, certamente é a instituição construída na luta sangrenta das massas populares. E é nosso direito político valioso, também. Mas ao mesmo tempo, é uma instituição que mantém este sistema. Para nós, a essência do sufrágio universal é simples: criar a fantasia de que “aquele maldito deve ter se transformado em um fascista de direita, mas ainda é o maldito em quem votamos”, criar a expectativa de que “perdemos esta eleição, mas talvez ganhemos da próxima vez”, e empurrar as pessoas dentro dessa falsa fantasia e expectativa para mantê-las esperando pela próxima eleição para que a sociedade se transforme, e não com ação direta.

9 – Portanto, nós usamos nosso valioso direito de voto ativa e abertamente para recusar o ato de votar. Quando a pergunta “quem você prefere que seja seu comandante?” é feita para nós, decidimos responder: NINGUÉM. Não nos importamos com quem é “pior” ou “menos pior”. Nós nos recusamos a estabelecer o “mau” como um todo. Isso não significa que vamos fazer votar nulo, pois acreditamos que até mesmo o aumento de contagem de votos significa que ainda estamos interessados nos meios de eleição. Isso não significa que vamos simplesmente nos abster de voto. Estamos intencionalmente negligenciando a enganação da eleição. Nós estamos orgulhosamente declarando que a transformação e a melhora de uma sociedade só pode ser feita através de ação direta da massa, não com um pedacinho de papel chamado cédula.

10 – Este é um apelo aos membros da Solidariedade Anarquista, os nossos apoiadores, aos camaradas coreanos anarquistas. Vamos rejeitar o voto, ativamente organizar essa rejeição, abertamente declarar a vontade de rejeitar. Vamos mostrar a essa classe dominante, que está acreditando que a fantasia e expectativa fornecida pela eleição pode impedir a luta popular, que ISSO NÃO FUNCIONA MAIS PARA NÓS.

11 – A revolução social não pode ser feita por um partido revolucionário que chegue ao gabinete. Acreditamos que quando de maneira organizada e concreta negligenciarmos o enganoso sufrágio universal, esse será o início da transformação da sociedade.

N o t a s

[1] Partido de extrema direita da Coreia do Sul, liderado por um líder pseudo-religioso.

[2] Na época da última eleição para a assembleia, uma representação mista e proporcional foi introduzida ao sistema eleitoral coreano. E esses “partidos progressistas” da Coreia, que desesperadamente acreditavam que essa era a chance de estar na Assembleia Nacional, colocaram os nomes de seus candidatos em uma lista de partido conservador (chamado de liberal). A parte mais hilária dessa comédia política foi que os conservadores “inesperadamente” deram suas costas a esses “progressistas” pelo motivo de serem “seguidores do regime da Coreia do Norte” ou de “registrar um candidato transgênero”.

Fonte: https://blog.naver.com/anarchistleague/222291231012

Tradução > DesTroya

agência de notícias anarquistas-ana

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