Pela terceira vez nos últimos dias, o Estado, com a ajuda da empresa pública de energia elétrica, cortou o fornecimento de energia ao Notara 26. Além disso, da última vez eles até destruíram os cabos para dificultar ainda mais a operação de reconexão. Para nós é óbvio que esse incidente recorrente não é aleatório ou por descuido. É uma tentativa indireta mas clara de despejo e expulsão da população refugiada que vive na comunidade.
Ao privar a luz do edifício, pretendem tornar insuportável a vida quotidiana do nosso povo. Dentro da ocupação vivem dezenas de famílias de refugiados com filhos pequenos, idosos e deficientes físicos, bebês recém-nascidos e mulheres grávidas. Ao cortar a energia elétrica, estão impedindo que realizem os procedimentos básicos para sua sobrevivência como cozinhar, lavar a roupa, tomar banho quente, conservar a alimentação, ler e realizar atividades recreativas realmente essenciais para sua saúde física e psicológica. Estão degradando nossa qualidade de vida que construímos e mantivemos com muito esforço, dificuldades e amor todos esses anos, na nossa convicção inabalável de que nenhum ser humano merece se afogar na miséria dos campos de concentração e que a dignidade sempre será nossa bússola de existência.
Essa é uma estratégia fria e vulgar que não nos surpreende, mas nos torna mais raivosos e teimosos. A escuridão que eles estão tentando criar em Notara é compatível com a escuridão de sua política baseada no ódio, racismo, barbárie policial e escuridão da extrema direita. Esta é uma forma de violência e desvalorização da vida.
Num momento em que pessoas em hospitais públicos morrem sem acesso às UTIs, onde prisões / instituições / campos de concentração se tornam células fechadas de perigo e desumanização, onde os trabalhadores estão mergulhados na insegurança do trabalho e no autoritarismo patronal, quando estão suprimindo uma série de conquistas e direitos, onde cidades e ruas se tornam colônias de forças policiais, o Estado tenta erradicar qualquer voz de resistência e esmagar qualquer tentativa de auto-organização.
Não vamos deixá-los. Notara 26 é a primeira porta que se abriu em setembro de 2015 para acolher refugiados e imigrantes em comunidade, acolhimento e condições horizontais, acreditando na convivência e nas lutas comuns. Mais de 10.000 refugiados de todos os cantos do globo encontraram refúgio e esperança neste edifício. Nestes cinco anos e meio, fomos submetidos a ataques fascistas, espancamentos da polícia, intimidação e operações terroristas, perseguições e ameaças constantes. Mas nós resistimos. Porque a solidariedade é mais forte. E continuaremos a perseverar porque sabemos que lutamos pela vida e pela liberdade.
Notara está brilhante, cheia de luz novamente, como ela merece. Queremos agradecer às equipes que estiveram ao nosso lado nestes dias e nos apoiaram em questões de nutrição e necessidades básicas, as pessoas que superaram todos os obstáculos e fizeram questão de trazer de volta a luz para a nossa comunidade, todos vocês que estiveram ao nosso lado por cinco anos e meio.
Apelamos ao mundo da solidariedade para estar vigilante e continuar a nos apoiar contra a violência e ameaças do poder e da autoridade.
Contra a escuridão. Vamos ganhar!
Notara 26, Ocupação de Habitação para Refugiados e Imigrantes
17/04/2021
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Tradução > Da Vinci
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!