Em 2014 cerca de 327 judeus sobreviventes do Holocausto e seus descendentes condenaram, através de uma missiva publicada no The New York Times, o massacre do povo palestino ocorrido em Gaza às mãos do Estado de Israel, “Estamos preocupados com a desumanização racista dos palestinos na sociedade israelense, que atingiu níveis extremos. Em Israel, políticos e líderes de opinião da mídia fizeram comentários públicos a favor do genocídio“, advertiu com razão aqueles que sentiam os estigmas do fascismo em sua própria carne, sabendo reconhecer os sintomas inconfundíveis de uma sociedade que caminha para a cumplicidade no genocídio.
O Estado de Israel sabe muito bem que a desumanização do povo palestino na inteligência coletiva da sociedade israelense é o primeiro passo para a cumplicidade e indiferença com o massacre indiscriminado deles, já que a desumanização de um povo se traduz, ironicamente, com a perda da humanidade por parte de quem consente, caso contrário, é impossível explicar como as imagens de pequenos cadáveres de crianças palestinas carbonizadas pelos bombardeios não suscitam uma onda de indignação na maioria do povo israelense que, por sua vez, os levaria a enfrentar tal regime de terror. O objetivo do Estado israelense é claro e evidente, de forjar uma sociedade civil sociopata incapaz de qualquer empatia, despojando-a de qualquer sensibilidade à dor do povo palestino. É por isso que hoje podemos dizer com segurança que a classe dominante política de Israel reproduz com sucesso o apartheid mesmo dentro de suas fronteiras, com décadas erguendo muros ao redor da população árabe israelense, replicando ao milímetro os bolsões de exclusão sul-africanos. O Estado de Israel, portanto, é duplamente culpado, pois instiga a limpeza étnica do povo palestino enquanto mantém a humanidade da própria sociedade israelense como refém.
Mais uma vez, a maioria dos meios de comunicação jogam enganando, tentando justificar o injustificável, aludindo às ações do Hamas – mais simbólicas do que eficazes -, que se dedica a desempenhar seu papel no intrincado tabuleiro de xadrez geopolítico do Oriente Médio – assim como a ANP, Irã, Arábia Saudita, etc. – e que pouco se importa com a realidade do povo palestino, um exemplo disso é a brutal repressão exercida em 2019 contra os protestos contra o alto custo de vida. É assim que o povo palestino é duplamente martirizado, mantido submetido e espremido até os extremos mais cruéis, de dentro e de fora de Gaza. Nada justifica o bombardeio, a matança e a tortura da população civil, assim como não há nenhuma razão que possa justificar o ataque aos edifícios das agências de notícias.
O inferno sofrido pelo povo palestino não se limita ao seu desmembramento, tortura e morte física. Após décadas de bloqueios e conflitos, há várias ONGs que alertam para o aumento de doenças e problemas mentais entre a população palestina, com o agravante de não ter os recursos materiais e humanos para aliviá-los, resultado, por sua vez, desta mesma política de bloqueio israelense, que alimenta a barbárie e a miséria, como o animal que morde sua própria cauda. Desta forma, o Estado israelense não só nega um presente, mas também dinamita a possibilidade de um futuro para um povo palestino sufocado.
Por todas essas razões, mostramos nosso apoio ao povo palestino, sentindo sua dor, e ao mesmo tempo apelamos para aquela parte do povo israelense que ainda não foi despojada de sua humanidade a se levantar em clamor popular para derrubar os tiranos que semeiam a morte entre seus irmãos palestinos, conseguindo assim um futuro livre de muros e bombas, cheio de igualdade e justiça social.
Por uma região palestina livre e igualitária
Pela a anarquia
Federação Anarquista Ibérica – FAI
Fonte: https://federacionanarquistaiberica.wordpress.com/2021/05/22/negras-tormentas-en-gaza/
Tradução > Liberto
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