Por Laura Vicente | 04/06/2021
Hoje dia 4 de junho, faz 149 anos, nasceu Teresa Claramunt Creus. Escrevi muitas vezes sobre esta mulher: dois livros, muitos artigos, pequenos textos. Dei múltiplas conferências sobre ela, as vezes falando só de sua biografia pessoal e social, outras vezes como pioneira dentro da genealogia do feminismo anarquista e, em outras ocasiões, comparando sua trajetória com a de outras mulheres.
A biografia¹ que fiz sobre ela foi o início de um longo caminho em minha maneira de entender a investigação histórica que estou percorrendo desde então. Ainda que conheçamos muito poucos dados sobre sua vida pessoal, despontam alguns aspectos que gostaria de recordar neste aniversário.
Teresa Claramunt foi uma menina obreira que conheceu as oficinas e as fábricas têxteis desde os dez anos. Esses espaços de trabalho pouco higiênicos, esgotadores, cheios de ruído dos teares de lã que soltavam pó em suspensão irrespirável, se encarnaram, como não podia ser de outra forma, nela. Sempre integrou em seu corpo os sofrimentos, as dores, o cansaço e também, os saberes que germinaram em sua constituição de mulher rebelde.
Logo ficou consciente de que as mulheres sofriam uma exploração peculiar e diferenciada de seus companheiros e, ao mesmo tempo, que os homens não as consideravam relevantes na luta sindical, quando muito, obreiras subalternas que era melhor que permanecessem caladas. Por isso, desde muito jovem contribuiu para constituir espaços sindicais de cordialidade, não mistos, onde encontrar-se com outras obreiras para viver a experiência da luta igualitária em uma sociedade de classes e patriarcal desigual.
Desde seu incipiente anarquismo cresceu como oradora e propagandista pela mão de seu parceiro, Antonio Gurri. Sua popularidade cresceu no contexto dos 1º de Maio revolucionários com a referência dos Mártires de Chicago que a convenceram da pertinência de sua luta. Ela falava desde seu corpo de obreira, desde sua vida, desde sua existência e entre suas palavras encontrava outras mulheres e homens enamorados da ideia da emancipação humanitária.
Construiu uma “família” peculiar formada por amigas com as quais percorria os bairros falando de livre pensamento, da opressão das mulheres, da exploração de homens e mulheres, de anticlericalismo, de educação, de autonomia, da anarquia. Suas palavras voavam e se converteu em uma mulher perigosa: começaram as detenções, o cárcere, a tortura, Montjuïc, a expatriação, a exclusão de uma sociedade que não tinha lugar para mulheres como ela. E todo este caudal de experiências seguía sendo encarnado enquanto perdia seus filhos/as (até cinco) pela alimentação deficitária, os trabalhos mal pagos, as estadas no cárcere, a precariedade.
Foi uma entusiasta do amor libre e o praticou por consequência com seus sentimentos e suas ideias quando a maioria dos homens não entendia o que queria aquela mulher com seu eterno coque de tecelã ainda que já não pisasse as fábricas de teares.
Quando seu corpo vulnerável já não lhe permitia trabalhar, viveu em casa alheia (ainda que de companheiros/as de ideias) em troca de ajudar e educar seus filhos/as, ela que não era professora de ofício mas professora da vida.
Faz 159 anos de seu nascimento, no entanto estes traços de sua vida são tão atuais no século XXI que nos desconcertam. Deixemos que esta mulher nos desloque e nos faça pensar na necessidade de que mergulhemos em sua postura ante a vida que soube viver com consequência, quer dizer, assumindo também suas muitas contradições e seus erros.
[1] Laura Vicente Villanueva (2006): Teresa Claramunt (1862-1931). Pionera delfeminismo obrerista anarquista.Madrid, FAL.
Fonte: http://pensarenelmargen.blogspot.com/2021/06/teresa-claramunt-creus-maestra-de-la.html
Tradução > Sol de Abril
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