#JusticiaPorSantiago
Em 1º de agosto de 2017, neste mesmo lugar, Santiago foi visto pela última vez com vida durante a brutal Repressão do operativo realizado pela Gendarmeria [polícia] nacional. Desde esse dia Santiago esteve desaparecido 78 dias.
A partir desse dia na Argentina e em muitos lugares do Mundo se começou a conhecer sua cara e seu Nome, se multiplicaram os pedidos de Aparecimento com vida e a pergunta que todos nos fazíamos era, Onde está Santiago?
No País dos 30.000 onde as e os desaparecidos ocupam um lugar muito importante em nossa sociedade, que não esquece essa época obscura e nefasta, tínhamos um novo desaparecido na democracia sob o Governo de Mauricio Macri, com sua política de Estado baseada na repressão, ajuste e violações de direitos humanos levada a cabo por Patricia Bullrich e todo seu ministério de segurança.
Desde Pablo Noceti a cargo do operativo, negado durante muitos dias pela própria Ministra, dizendo que não havia participado do operativo, passando por funcionários como Gonzalo Cané delineando o expediente, Daniel Barberís preparando os testemunhos dos gendarmes, até o secretário de DH [Direitos Humanos] Claudio Abruj que negava a existência de Santiago no lugar dos fatos. Com o correr dos dias se demonstrou que mentiam, algo recorrente no discurso diário do governo Macrista.
Os gendarmes gozaram de total impunidade graças ao acionar da promotoria Ávila e do Juiz Guido Otranto.
Em 5 de agosto se realizou o primeiro rastreio, em seguida no 12 de agosto e no 18 de setembro, este último foi um mega rastreio com 400 efetivos, 3 helicópteros, vários drones e grupos de elite. O juiz Otranto não permitiu que ingressasse com minha advogada Verónica Heredia nem tampouco o ingresso de organismos de DH. O rastreio durou mais de 6 horas manietando os membros da comunidade e dispondo do lugar a vontade, sem que ninguém pudesse verificar absolutamente nada de sua ação, toda uma encenação sem nenhum resultado. Santiago não estava aí.
No meio, minha família e amigos sofremos o ataque constante dos meios de comunicação e do governo que instalavam todo tipo de mentiras. Também organizações, Sindicatos, organismos de DH e movimentos sociais foram atacados, chegando ao extremo de sancionar docentes por falar de Desaparecidos nas aulas, uma forma de perseguição que pensávamos que não voltaria a ocorrer mais na Argentina. Mas o mais terrível foi a crueldade com que trataram e desumanizaram Santiago.
Santiago era uma pessoa genuína, artista, tatuador, muralista, músico que desde seu Anarquismo se envolvia em diferentes causas. Assim é como chegou pela primeira vez em 31 de julho de 2017 à Pu Lof Cushamen a solidarizar-se com os integrantes da comunidade Mapuche. O fez desde uma forte convicção e sem nenhuma especulação, ainda que algumas pessoas que estiveram nesse 1° de agosto, sim tenham especulado com seu desaparecimento.
Cresciam as reivindicações constantes, as marchas multitudinárias a praça de Mayo davam conta do importante que era para uma grande parte de nossa sociedade não voltar a repetir a história, reclamando saber a verdade do que havia ocorrido com Santiago.
Em 17 de outubro de 2017, foi encontrado seu corpo sem vida, aqui nestas mesmas águas do rio Chubut, apareceu em um lugar que havia sido rastreado em 3 oportunidades. Foram horas de muita tristeza, angustia e incerteza de não saber se era ou não Santiago.
Em 20 de outubro se realizou a autópsia após ter sido reconhecido o corpo, o juiz Lleral apressado em encerrar o caso, disse que Santiago não tinha sinais de violência e a causa da morte era afogamento com ajuda de hipotermia, o como, onde e quando não pareceu algo importante para ele, como tampouco o contexto do desaparecimento. Esse domingo 22 de outubro o Macrismo voltou a ganhar as eleições, tudo pensado e calculado perfeitamente.
Desde esse dia não se fez absolutamente nada para saber o que aconteceu com Santiago, todas as apresentações que realizamos solicitando provas e ampliações da autópsia foram rechaçadas, ao juiz nunca interessou investigar o Desaparecimento Forçado, todas as perícias realizadas pelo juiz LLeral só foram feitas com o fim de querer encerrar a causa, como exemplo posso citar a tomada de dados de temperatura e medições do caudal do rio Chubut no dia 12 de dezembro de 2017, perícia que deveria ser feita em 1°de agosto para aproximar-se das mesmas condições do dia em que desapareceu Santiago. Não se fez nem sequer uma reconstrução dos fatos ocorridos faz 4 anos.
A causa está totalmente paralisada na Corte Suprema, à espera que resolvam a designação de um novo juiz e que se investigue como um Desaparecimento Forçado, garantindo assim a impunidade.
Faz 4 anos que seguimos sem saber o que aconteceu com Santiago.
Desde o começo pedimos ao Governo de Mauricio Macri, a formação de um grupo de especialistas independentes que garantissem a investigação, esse mesmo pedido foi reiterado ao atual governo de Alberto Fernández através da Secretaria de DH e Ministério de Justiça da Nação em janeiro de 2020, esse pedido se reiterou durante o mês de julho deste ano sem ter resposta até esta data, nem tampouco um pronunciamento concreto sobre o desaparecimento forçado seguido de morte de Santiago.
Algumas Funcionárias, Funcionários, Políticas e Políticos que atualmente integram o governo da Frente de Todos e que nos acompanharam durante o governo de Mauricio Macri, assinaram a petição para a formação do grupo de especialistas independentes e fazem silêncio a 20 meses. Esse silêncio de alguma maneira também os faz cúmplices.
Este é um Governo que entende mais do que nenhum outro de Direitos Humanos, que sabe perfeitamente o que se necessita para avançar na busca da verdade e justiça.
Não estou pedindo que o poder executivo intervenha no poder judicial, meu pedido é que tenham uma firme decisão e vontade política, para que haja avanços na causa. Isto é necessário e urgente, para garantir o nunca mais na democracia e que não voltem a ocorrer desaparecimentos forçados como aconteceu no ano passado com Luis Espinoza e Facundo Castro. O acompanhamento aos familiares das vítimas de violência do estado não só é por uma mensagem nas redes sociais quando é um novo aniversário, mas garantir um acesso real à justiça para que possamos chegar à verdade. Deveriam ter uma postura clara e mantê-la não só quando se é oposição mas quando se é governo.
Entendo que o que estou dizendo incomode a muitos setores, eu tenho, como a maioria das pessoas uma postura política, que deixe de lado desde agosto de 2017. O tempo passa, se esgota a paciência, e com cada ano vamos nos distanciando mais da verdade.
Assumi esta luta por Santiago e por Mim, sei que estou fazendo o correto, do contrário o estaria traindo. Ele é meu irmão e não um simples expediente. Vou questionar este governo tanto como o fiz com o governo anterior, até que encontre justiça por Santiago. Não me move o ódio, só o interesse de saber a verdade sobre o que aconteceu.
Hoje desde este lugar, onde desapareceu Santiago, um fato terrível que mudou nossas vidas por completo, quero agradecer a todas as minhas amigas e amigos por seu amor incondicional, a todas as pessoas que nos acompanham todos os dias, que nos brindam seu apoio, que realmente querem saber o que aconteceu com Santiago e que esperam que se castigue os culpados tanto materiais como ideológicos.
Também agradeço o acompanhamento de Mães, Avós, Organismos de DH, Sindicatos e Organizações Sociais.
Nestes 4 anos aprendi que só não se pode, que é importante estar acompanhado e que a luta é coletiva. Não vamos baixar os braços apesar de que às vezes o caminho se torne muito difícil mas agora mais do que nunca necessitamos de todo esse apoio.
Agradecimentos por estar.
Santiago Maldonado Presente
Agora e Sempre
Saúde e Liberdade a Santiago Maldonado!!!
Justicia Por Santiago
Tradução > Sol de Abril
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Alice Ruiz
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Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!