[EUA] Um olhar para a cidade anarquista no parque Kelly Butte, em Portland

O PDX Houseless Radicals Collective (Coletivo de Radicais Sem-teto) transformou o parque em uma base isolada em sua luta para resolver os problemas dos sem-teto

Por Henry Brannan| 14/07/2021

O que os sem-teto podem fazer para lutar e melhorar suas próprias vidas? Porque ninguém mais vai fazer isso por nós.” Essas foram as palavras que deram início ao Coletivo PDX Houseless Radicals, de acordo com Jean-Jacques Michell, um dos membros fundadores.

Michell disse ao Street Roots que o coletivo considerou outras áreas onde eles poderiam ser úteis enquanto os protestos noturnos do levante de George Floyd diminuíam no início deste ano, finalmente olhando para dentro de suas próprias experiências.

“Passei a maior parte da minha vida adulta sem casa. Eu também fiz faculdade de serviço social e trabalhei no sistema de jovens sem-teto por um tempo, então eu vi os dois lados”, disse Michell, que é não-binárie e usa pronomes neutros (“they” singular, em inglês). “Então, eu desisti do meu lugar e comecei a falar com as pessoas, e isso simplesmente cresceu.”

Meses depois, o coletivo tem cerca de 30 membros, com 10 a 12 morando em um acampamento isolado sob as árvores conhecidas como abeto-de-douglas e bordos (também conhecidas como ácer) na área natural Kelly Butte, no sudeste de Portland.

A declaração de missão postada no site do grupo descreve-o como um coletivo de esquerda, sem liderança, de antifascistas, solidário com as pessoas em todo o mundo na luta por igualdade, justiça social, iniciativas verdes, antifascismo, anti-imperialismo e devolução de terras às populações indígenas, comumente referido como o movimento “terra de volta”. Em última análise, o grupo defende uma sociedade socialista sem governantes, classes ou fronteiras.

Um fluxo constante de apoiadores e voluntários entrega suprimentos e ajuda com projetos de acampamento entre conversas sobre política e eventos atuais. O anarquismo é a ideologia mais prevalente no campo e se reflete em sua bandeira preta e vermelha e no logotipo do HRC.

“Esta é basicamente uma terra não utilizada, então não vejo por que haveria um problema com alguém usando-a para abrigar pessoas que precisam de abrigo”, disse Michell, observando que, como os proprietários locais querem que essas pessoas fiquem escondidas, isso deve ser um arranjo agradável para todas as partes.

Além de evitar a ira dos proprietários de casas nas proximidades, e com os esforços de varredura contenciosos e contestados da cidade em Laurelhurst Park frescos na mente dos membros, o local também foi uma escolha defensiva. Pessoas sem casa e seus aliados muitas vezes evitavam ou adiavam as varreduras em Laurelhurst, mas era “apenas uma posição possível porque obteve publicidade até agora”, disse Michell.

“Não acho que isso possa ser possível a longo prazo”, acrescentou Michell. “Eventualmente, Ted (Wheeler) vai se cansar disso e vai mandar policiais de choque, e então será o fim.”

O isolamento do parque de 23 acres também mantém os campistas longe da violência dos vigilantes.

“Alguns dos meus amigos literalmente apareceram mortos no centro da cidade”, disse Alex, um jovem membro do coletivo que se juntou a seu parceiro em busca de segurança, comunidade e alcance de ajuda mútua. “Suas barracas são queimadas ou coisas são roubadas… barracas são cortadas por facas.”

Os membros variam em idade, formação e ideologia política específica, mas estão unidos na dedicação à realização de seus valores por meio de ações cotidianas. Isso é expresso principalmente por meio de uma mistura de ajuda mútua e trabalho de defesa de varredura militante.

“Nós saímos algumas vezes por semana, trocamos seringas e distribuímos suprimentos e outras coisas para as pessoas”, disse um membro do acampamento que atende pelo nome de Kracken, que disse que estiveram nas ruas durante grande parte da vida.

O coletivo distribui suprimentos de acampamento e outras “coisas de necessidade básica”, disse Michell, acrescentando que, embora tudo deva ser comprado ou doado porque vivemos em um “sistema baseado em capital”, o coletivo está “tentando mostrar que há outra maneira, que não envolve [tanto] capital”.

Michell disse que o coletivo postou panfletos com suas informações de contato para ajudar a organizar uma defesa para quem for destacado para varreduras. Michell disse que eles também realizaram treinamentos de autodefesa com outros campos para lidar com a violência dos vigilantes.

O coletivo enfatiza aproximar-se de outras pessoas sem casa como pares e não ser afiliado a uma organização religiosa ou sem fins lucrativos, muitas das quais são vistas pelo grupo como agindo com interesse próprio e têm ligações com autoridades municipais e policiais.

“Uma das razões pelas quais eu escolhi fazer deste um coletivo sem-teto, em vez de apenas um coletivo ajudando pessoas sem-teto, foi que eu senti que seria uma vantagem poder comparecer a um acampamento que precisa de assistência e armar uma barraca”, disse Michell. “Coisas como ajuda mútua são a prova e a prática e o conceito de que há outra maneira de fazer as coisas, com pessoas apoiando umas às outras.”

Entrando em outros acampamentos para oferecer apoio, eles costumam dizer aos residentes: “Não somos assistentes sociais e não estamos com o governo, mas temos coisas e é grátis”. Michell disse que o refrão comum dentro do grupo começou como uma piada.

Desde que Street Roots conversou pela primeira vez com Michell, eles anunciaram publicamente que estão se afastando de um papel de liderança no grupo devido a uma doença com risco de vida, embora permaneçam residentes em Kelly Butte.

Outro membro do grupo que atende pelo nome de Fantasmo disse que encontrou a comunidade, apesar de vir de uma formação muito diferente – estudar filosofia na faculdade. Ele queria colocar em prática as teorias sobre as quais estava lendo.

“Não acho que posso me rebelar contra o sistema permanecendo parte dele”, disse ele. “Eu quero ir até o fim e quero participar. A única maneira de realmente entrar na luta de classes é entrar na classe que está fazendo a luta”.

Os Park Rangers de Portland pediram aos campistas que saíssem – um pedido que eles negaram firmemente – abrindo a possibilidade de uma remoção forçada pela administração da cidade. Em nota ao Street Roots, o porta-voz Tim Collier da agência de parques e recreação de Portland, responsável pela manutenção das áreas naturais de Kelly Butte, escreveu que a agência deve seguir o Título 20 (regulamentação de eficiência), que proíbe a construção de estruturas, permanentes ou temporárias, em parques públicos. Qualquer intervenção no local seria conduzida pelo Programa de Redução de Impacto dos Moradores de Rua e dos Acampamentos Urbanos da cidade, e as pessoas que não cumprirem voluntariamente as regras do parque podem ser excluídas do parque.

A declaração de Collier observou que a agência está preocupada com os moradores de Portland morando ao ar livre na área natural de Kelly Butte, reconhecendo que a crise habitacional nacional, exacerbada pelos impactos econômicos da pandemia COVID-19, continua a aumentar o número de pessoas sem-teto em Portland.

“O PP&R (agência de parques e recreação) reconhece que há uma interseção clara entre o terreno que a agência é responsável por manter e nossa crise habitacional nacional”, disse um porta-voz ao Street Roots por e-mail. “O relacionamento atual é um equilíbrio entre a redução de danos e a segurança dos campistas e da comunidade, relacionada a coisas como risco de incêndio florestal, materiais perigosos, etc.”

Embora se recusem a sair, por preocupação com a sustentabilidade do acampamento os membros do coletivo dizem que trabalharam para manter o impacto ambiental do acampamento mínimo por meio do uso de banheiros químicos, que têm manutenção profissional regular, e coleta de lixo frequente. Em conformidade com o protocolo de segurança COVID-19, eles espaçaram as tendas do acampamento com pelo menos 6 pés de distância.

Enquanto a ameaça de uma varredura permanece sempre presente, os campistas estão jogando o jogo longo.

“Minha visão de longo prazo é que haverá lugares mais sustentáveis fora da sociedade, onde as pessoas que desejam abandonar o sistema podem ir e viver separadas dele”, disse Fantasmo.

Fonte: https://www.streetroots.org/news/2021/07/14/look-inside-anarchist-city-portland-s-kelly-butte

Tradução > abobrinha

agência de notícias anarquistas-ana

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André Duhaime