Por Manon Pulver
A livraria Fahrenheit 451, de vocação anarquista e alternativa, constitui um verdadeiro desafio comercial. Pierre Wyrsch, antigo punk com visual comportado, compartilha aos passantes o ideal de que os livros têm a capacidade de revolucionar nossas vidas.
Um dia, uma ideia
Fahrenheit 451, livraria anarquista e alternativa. A vocação da pequena livraria genebrense localizada na rua Voltaire tem valor de manifesto. Seu nome faz referência ao romance de Bradbury (adaptado ao cinema por Truffaut) e à sociedade fictícia que proíbe a leitura e na qual uma pequena minoria de resistentes luta para salvar os livros do fogo. Na nossa realidade, nenhum auto da fé ameaça nossos leitores, ao contrário, é a massa de lançamentos que asfixia a produção literária na sua indecifrável profusão.
Estabelecida em 2009, ainda que numerosas livrarias independentes tivessem fechado as portas, Fahrenheit 451 está aberta. Admirável resistência para uma livraria especializada, aliás. E não é qualquer especialização.
Pierre Wyrsch, livreiro e libertário, propõe nas suas estantes um pouco de tudo o que se revela como uma outra maneira de pensar e de ver o mundo. O lugar vale o desvio, talvez para eliminar – com o apoio dos livros – a confusão habilmente construída em torno da anarquia.
Bem, a etimologia do termo indica a ausência de poder ou de autoridade, mas não é de maneira alguma o caos ou a desordem da qual ela, erroneamente, se tornou sinônimo. Como movimento do pensamento, a anarquia estima, ao contrário, que outras ordens são possíveis. Mais que uma organização imposta pelo poder, a anarquia tem como talante uma ordem nascida da liberdade, já que segundo Proudhon – presente nas estantes – a liberdade é a mãe da ordem e não a sua filha.
Uma vez cruzada a porta, o mestre do lugar o guiará através das diferentes temáticas que estruturam sua livraria. Ética, ecologia, economia, feminismo, mas também ficção científica e histórias em quadrinho. Há muito para fazer refletir sobre outros sistemas que não o atual.
Sobre as estantes, estes pensadores engajados estão lado a lado de outros filósofos, de textos já clássicos são vizinhos dos panfletos ou dos fascículos confidenciais com título evocadores: “O apoio-mútuo, um fator da evolução”, “Endereço a todos que não querem gerar os incômodos, mas os suprimir”, “Pela abolição da cédula de identidade”, etc. A gente colhe descobertas.
Pierre Wyrsch, antigo punk com visual comportado, é um passante discreto, animado pela crença na capacidade da leitura para revolucionar as nossas vidas e mais ainda na mudança iminente da nossa sociedade. Sua livraria é frequentada por leitores de todos os horizontes e se transforma também, às vezes, em espaço cultural para encontros com autores. Sem esquecer que podemos também comprar pelo site, muito completo. Fahrenheit 451, ou 232 graus Celsius, e, no entanto há com o que refrescar, com sabedoria, as ideias.
Livraria Fahrenheit 451. Rue Voltaire 24, 1201 Genebra
www.fahrenheit451.ch
agência de notícias anarquistas-ana
lua n’água
entre pétalas
alumbra o abismo
Alberto Marsicano
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!