[Espanha] ‘La Novela Ideal’, contos cor-de-rosa da II República para ensinar anarquismo para as mulheres

O romance ‘Los colores del tiempo’ [As cores do tempo] de Ana Alonso conta a história de Adela, uma professora republicana do pós-guerra cuja vida mudou ao encontrar um destes livros cor-de-rosa.

Por Cristina Gómez| 14/10/2021

A arte e a literatura sempre foram meios de transmissão de ideias, sejam políticas, religiosas ou sociais. Da mesma forma, a propaganda foi difundida através de muitas técnicas e meios distintos. Durante a Segunda República, um destes meios foram os romances cor-de-rosa dirigidos a mulheres, que misturavam uma história romântica com uma mensagem política, fosse socialista, comunista ou, inclusive, anarquista. Ainda que tenham ficado no esquecimento, se tratavam de histórias muito bem recebidas pelas mulheres que sabiam ler, e centenas foram publicadas, com tiragens de mais de 50.000 exemplares (um fato importante naquela época).

Uma das mais lidas foi, sem dúvida, La Novela Ideal [O Romance Ideal], relatos que se publicavam em formato de revista e formavam parte da edição de La revista blanca (1923-1936), uma conhecida publicação editada pelas pessoas anarquistas Juan Montseny Carret e Teresa Mañé.

Quando Ana Alonso a descobriu, pareceu “uma história incrível”, e lhe deu a ideia de escrever Los colores del tiempo [As cores do tempo], da editora Espasa. Este romance de ficção é ambientado na Espanha do pós-guerra e conta a história de Adela, uma mulher republicana que era costureira e se tornou professora, a quem os relatos cor-de-rosa anarquistas mudaram a vida.

Tal e qual conta Alonso a MagasIN, a protagonista, uma viúva que deve criar sua filha sozinha, é uma mulher “que viveu a República e a guerra com uma militância anarquista e de repente se dá conta de que todo esse mundo se desmoronou. Tem que se reinventar e, como milhares de pessoas republicanas que ficaram na Espanha depois da guerra, encontrar a forma de manter sua dignidade sem renunciar a quem é realmente, aceitando a nova realidade”.

Um dia, Adela lê Una mancha de carmín e se dá conta de que é um daqueles livros anarquistas de que tanto gostavam, mas que foi modificado para passar pela censura do regime. A partir daí, sua vida dá um giro e entra em aventuras que nunca tinha imaginado. Deixou de dar aulas no pequeno povoado leonês de Pardesivil e passou a fazer parte de círculos culturais de Madrid, se aliando com mulheres muito diferentes, como Gloria Fuertes ou Federica Montseny.

O legado do romance cor-de-rosa

Esta última [Federica Montseny] era a filha, também anarquista, de Juan Montseny Carret e Teresa Mañé, e foi a primeira mulher a ocupar um cargo ministerial na Espanha durante a Segunda República. Além disso, escreveu mais de 60 títulos de A Novela Ideal. “Inventei Una mancha de carmín me inspirando em títulos reais que chegaram a minhas mãos”, explicou Ana Alonso.

“Eram livros cor-de-rosa, mas também instrumentos de propaganda, e há de se recordar que cada partido tinha sua coleção. Não destacaria nenhum em particular, porque era essa literatura popular que tinha essa função, sobretudo pedagógica. O curioso de todas elas é como uma típica história de amor pode ser contextualizada de maneira a transmitir uma mensagem com intenção de criar consciência social”.

Para a autora de Los colores del tiempo, estes livros são “mais uma curiosidade do que algo que há de ser resgatado desde o ponto de vista literário”, mas “não há de se desdenhar o trabalho pedagógico que realizaram”. “Como se conta no livro, também durante o pós-guerra, o romance cor-de-rosa foi, para muitas mulheres, a forma de sair desse ambiente opressivo em que se encontravam e descobrir outros mundos. Esse é o papel da literatura popular”.

Sua própria mãe, em quem também se inspirou para escrever o livro, tinha romances cor-de-rosa em casa, tanto da época franquista como La Novela Ideal. “É preciso pensar que as pessoas leitoras comuns, seguramente, não percebiam tanta mudança nas histórias desde a Segunda República ao franquismo. Quando comentei a minha mãe que queria escrever sobre La Novela Ideal, ela me disse que teve vários em sua casa. Tinha misturadas as novelas cor-de-rosa do pós-guerra com as anteriores, e nem percebia muita diferença”.

Além disso, em sua maioria eram escritas por mulheres, que muitas vezes não tinham oportunidade de se dedicar a outro tipo de literatura. “Muitas terminavam nesse mundo do romance cor-de-rosa porque outras portas não eram abertas com facilidade. Ao mesmo tempo, as mulheres tinham muitas leitoras, e inclusive se não tinham muita formação, a leitura formava parte de sua vida. Acredito que é algo que não nos devemos esquecer quando pensamos nas mulheres durante o pós-guerra”.

Cada trama destas novelas podia ser diferente, mas, no exemplo do caso das anarquistas, “quem simbolizava o heroísmo sempre refletia a luta de classes”. “É interessante porque sempre havia um contato como luta de classes. Talvez a jovem que era seduzida pelo proprietário de terras latifundiário, e logo vem um camponês consciente que cuida dela, quando ela fica grávida. Tinha baboseira, mas no ambiente dessa luta de classes”.

Fonte: https://www.elespanol.com/mujer/mujeres-historia/20211014/novela-ideal-cuentos-ii-republica-ensenar-anarquismo/619188442_0.html

Tradução > Caninana

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