Como fome vivida no útero e na infância prejudica o corpo por décadas

PorPaula Adamo Idoeta

Uma tragédia humanitária vivida sob o nazismo, em um dos países atualmente com um dos melhores indicadores de desenvolvimento humano do mundo, tem desde então trazido lições ao mundo a respeito dos impactos da fome extrema sobre bebês que ainda nem tinham nascido.

Era o inverno de 1944 na Holanda, que na época estava parcialmente ocupada pela Alemanha nazista.

Durante meses, as tropas alemãs bloquearam o suprimento de comida para grandes partes do território holandês, deixando 4,5 milhões de pessoas em situação de fome extrema.

“As pessoas comiam os cachorros, os gatos e os ratos. Era simplesmente desesperador”, contou um sobrevivente à BBC em 2013. “Os padeiros não tinham trigo, então, faziam pães aguados, que grudavam na boca.”

Alguns estudos estimam que cada holandês dispunha de comida equivalente a 370 calorias por dia — lembrando que as normas de saúde vigentes hoje sugerem a ingestão diária de 2 mil calorias por dia para mulheres e 2,5 mil para homens.

Foi um dos mais graves episódios de fome ocorridos durante a Segunda Guerra Mundial, que deixou 20 mil mortos e só terminou com a derrota da Alemanha, em maio de 1945, e a libertação da Holanda.

É um desastre que permanece na memória coletiva dos holandeses até hoje, explica à BBC News Brasil a pesquisadora Tessa Roseboom, professora de Desenvolvimento e Saúde na Primeira Infância na Universidade de Amsterdã.

“A memória coletiva do povo holandês sobre a Segunda Guerra é dramática”, relata. “Claro que os números de sobreviventes estão diminuindo, mas todos conhecemos histórias de pessoas que tiveram de comer bulbos de tulipa, que tiveram que andar centenas de quilômetros para achar comida.”

Ao mesmo tempo, o fato de a fome extrema ter ocorrido apenas durante um breve intervalo de tempo (a escassez acabou quando o abastecimento de comida foi normalizado, e a Holanda caminhou para ser um país extremamente próspero) deu aos cientistas um cenário ideal para estudar o que a falta de nutrientes faz com o corpo de uma pessoa — em particular, uma pessoa ainda em formação, dentro do útero da mãe.

E as pesquisas sobre o “inverno da fome” (ou hongerwinter, no original) mostram que as consequências são sentidas até hoje por pessoas que estão na casa dos 70 e 80 anos, e provavelmente serão sentidas por seus descendentes.

>> Para ler o texto na íntegra, clique aqui:

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-59158631

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