Por David García Aristegui | 29/01/2021
A história de “¡A las barricadas!”, o hino da CNT (Confederação Nacional do Trabalho), é útil para reconstruir como era a cultura antes, durante e depois da ditadura de Franco. Muito tem sido dito sobre a censura, mas pouco sobre os mecanismos concretos de repressão pelos quais os artistas “descontentes com o regime” foram denunciados, julgados e expurgados em listas negras, o que os impediu de desenvolver qualquer atividade no setor cultural sob a ditadura.
“¡A las barricadas!”, uma Criação Coletiva feita na Prisão
Em agosto de 1936, em meio à Guerra Civil, “¡A las barricadas!” foi estreada em Barcelona, e tornou-se o hino da CNT anarco-sindicalista. Suas origens remontam a Varshavianka 1905, um hino revolucionário polonês escrito pelo poeta Wacław Święcicki enquanto ele estava preso por sua militância socialista. Święcicki escreveu a letra da Marcha dos Zuavos, uma obra cuja autoria ainda é incerta, mas que serviu como base para o poeta criar uma das composições revolucionárias mais populares de todos os tempos.
O sucesso da adaptação da Marcha dos Zouaves foi tal que logo transcendeu as fronteiras de Varsóvia e Polônia, e a Varshavianka 1905 – em espanhol, simplesmente La varsoviana – tornou-se o hino dos revolucionários russos. A adaptação russa é atribuída ao colaborador próximo de Lenin, o polaco Gleb Krzhizhanovsky, que, como Święcicki, compôs a letra enquanto estava na prisão. Na origem ¡A las barricadas! foi popularizada como A Marcha triunfal – ¡A las barricadas! é importante o papel de Valeriano Orobón Fernández, um anarco-sindicalista, como a maioria dos envolvidos em ¡A las barricadas!
Há pelo menos duas versões da origem da adaptação de La varsoviana. O primeiro relato dos eventos é que a ideia nasceu em um concerto dado por anarco-sindicalistas exilados nas instalações das Juventudes Libertárias em Madri. Durante esse concerto, o companheiro de Orobón, Hildegart Taege, traduziu simultaneamente a letra da música que foi apresentada em alemão. La varsoviana teve um impacto particular sobre o jornalista e fundador das Juventudes Libertárias, Jacinto Toryho, que sugeriu a Orobón que a canção deveria ser adotada como um hino revolucionário.
Há outro relato dos eventos, no qual Alfred Schulte, exilado por suas ideias anarco-sindicalistas, canta La varsoviana na banheira e Orobón Fernández irrompe no banheiro para descobrir que canção ele cantava. A letra foi traduzida por Hildegart Taege e tornou-se a base das ¡A las barricadas! Independentemente de sua origem, o fato é que a adaptação de La Varsoviana foi encomendada em 1936 ao músico Joan Dotras Vila e foi gravada no selo Odeon, com o Maestro Millet e o Orfeó Catalá. A partitura foi impressa e distribuída, e o nome de Joan Dotras aparece nela, o que levou à sua posterior prisão durante o regime franquista.
No interessante livro de Ferrán Aisa ECN 1 RADIO CNT-FAI Barcelona. La voz de la Revolución mostra que tanto ¡A las barricadas! como o hino irmão Hijos del Pueblo (Filhos do Povo) foram essenciais na programação da ECN 1, a estação de rádio CNT-FAI, onde Jacinto Toryho desempenhou um papel muito proeminente em sua organização.
A Comissão Depuradora dos Membros e Administrados da SGAE
Um estudo detalhado de ¡A las barricadas! foi realizado pela historiadora M. Encarnació Soler i Alomà. Ela esclarece a origem obscura do trabalho e a repressão sofrida por Joan Dotras Vila, pelo menos por um breve período de tempo, pela ditadura franquista. Encarnació Soler é, até onde sabemos, a única acadêmica que informou sobre a atividade da Comissão de Depuração dos Membros e Administrados da SGAE.
Esta comissão estava encarregada de decidir quais autores poderiam se beneficiar da cobrança de royalties e quais não poderiam. Deve-se notar que se um autor não recebesse royalties, suas obras não entrariam no domínio público: o dinheiro gerado era simplesmente distribuído entre os outros membros, entre eles Francisco Franco sob o pseudônimo de Jaime de Andrade, nome sob o qual o ditador assinou o romance “Raza”, que inspirou o filme com o mesmo título.
O libretista Manuel Fernández Palomero estava encarregado de denunciar os sócios que ele considerava descontentes com o regime, como foi o caso de Dotras Vila por causa de suas ligações com a CNT, com o qual colaborou em diferentes produções devido a seu contato anterior com Toryho. O julgamento de Dotras Vila começou em 1939 e não foi concluído até 1941. Temendo a prisão, o compositor reconstruiu sua carreira e declarou que “em agosto de 1936, sob ameaça de elementos anarquistas, fui obrigado a harmonizar e instrumentar uma canção polonesa intitulada La Varsovienne, uma obra até então desconhecida para um filme documentário”.
Dotras acrescentou elementos a suas declarações até que se tornou credível que ele era de fato um quinto colunista (um espião para o lado de Franco). Para apoiar esta história, ele renunciou aos direitos de ¡A las barricadas!, dizendo que desde o início ele não havia buscado nenhum tipo de atribuição (lembre-se que seu nome é o único que aparece nas pontuações que foram publicadas), mas que a CNT-FAI não havia atendido a seus pedidos.
O estudo da historiadora Encarnació Soler termina em 1942, quando Dotras voltou a integrar a SGAE de Franco, renunciou aos direitos de qualquer trabalho produzido durante a Guerra Civil e foi nomeado professor e posteriormente diretor do Conservatório Municipal de Música de Barcelona. ¡A las barricadas! permaneceu uma obra de domínio público.
Mas a jornada de Dotras não termina aí, e felizmente outra historiadora reconstruiu parcialmente os passos de Dotras franquista este já perfeitamente integrado na ditadura e em suas peculiares indústrias culturais.
O Dotras Franquista
A historiadora Marta Ruiz Jiménez, responsável pelo site Trienio Liberal, consultou as edições do ABC da época para reconstruir os passos do arranjador que renunciou a seu papel em ¡A las barricadas! Dotras gozou de certa popularidade como um autor e à medida que ele se estabeleceu cada vez mais dentro da ditadura, algo muito desejado pelos autores da época veio naturalmente: a assunção de cargos de responsabilidade dentro da SGAE franquista, da qual ele foi inicialmente expurgado.
O fim para Dotras é o pior que se poderia imaginar: ele acabou envolvido em um dos numerosos casos de negligência e corrupção de que a SGAE sofreu em sua longa e acidentada história, com escândalos recorrentes e problemas econômicos de todos os tipos. Nada surpreendente quando se olha a história da entidade com uma certa perspectiva.
Tanto o funcionamento específico da Comissão de Depuração dos Membros e Administrados da SGAE, como também as entradas e saídas da SGAE no final do período franquista e seu descolamento após a dissolução do Sindicato Nacional do Espetáculo do qual fazia parte, ainda não foram escritos.
Mas o caso do hino anarco-sindicalista ¡A las barricadas! e todas as pessoas ligadas à sua criação nos lembram duas coisas: que a autoria é tudo menos simples. E que a história da SGAE franquista e sua maquinaria repressiva ainda não foi contada.
Fonte: https://www.nortes.me/2021/01/29/la-loca-historia-de-a-las-barricadas-en-la-sgae-franquista/
Tradução > Liberto
agência de notícias anarquistas-ana
Sol no girassol.
Sombra desenha outra flor
no corpo dourado.
Anibal Beça
nao existe comunidade anarquista em nenhum lugar do mundo, (no maxinmo sao experiencias limitadas em si mesmo com uma maquiagem…
ALEN = Ateneu Llibertari Estel Negre. Article tret d'Anarcoefemerides.
Defender o estado fascista ucraniano a soldo do imperialismo ocidental (tão mau ou pior que o russo) nada tem a…
Essa noticia e uma vergonha para a causa anarquista. Casos voces nao saibam, a comunidade das republicas separatistas que se…
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