Por M. Ricardo de Sousa| 25/02/2022
“Não existe distinção possível entre guerras ofensivas e guerras defensivas […] Só existe uma guerra de libertação: aquela que em todos os países é feita pelos oprimidos contra os opressores, os explorados contra os exploradores. Nosso papel é chamar os escravos à rebelião contra seus mestres. Propaganda e ação anarquista devem ser aplicadas com perseverança para enfraquecer e desagregar os diversos Estados, cultivar o espírito de rebelião e criar o descontentamento nos povos e nos exércitos.” – Manifesto Anarquista Contra a Guerra, 1915
A posição tradicional dos anarquistas em relação aos conflitos internacionais é do anti-militarismo e da oposição às guerras entre os Estados. Foi assim na Primeira Guerra Mundial e na Segunda Guerra Mundial. Dito isto também sabemos que nos dois casos ocorreram algumas divisões nos meios libertários, incluindo em Portugal, pois alguns militantes conhecidos, e alguns grupos, decidiram apoiar um dos lados do conflito. No caso da II Guerra Mundial, transformada em luta contra o nazi-fascismo, houve até um forte envolvimento dos anarquistas italianos, franceses e espanhóis na resistência armada e nas forças militares convencionais.
Podemos dizer hoje que são compreensíveis os motivos que levaram a isso, mas não altera o fato que foi uma escolha política do mal menor, com todas as implicações que essas escolhas têm. Essas divisões tiveram até consequências negativas por muitos anos no movimento libertário, principalmente no caso da Grande Guerra.
Mais uma vez desencadeou-se um conflito militar internacional na Europa, antes tivemos o da Iugoslávia, e sabemos que os interesses dos Estados e das potências não coincidem com os dos Povos. O discurso histórico e nacionalista russo é uma retórica política para justificar as ações militares; o discurso ocidental da legalidade e do direito internacional serve igualmente para dar cobertura, com algum cinismo, aos interesses geoestratégicos dos EUA e da UE.
Que a OTAN se manteve após o fim da União Soviética e do Pacto de Varsóvia é um fato, que se expandiu para Leste é inquestionável. Que o governo da Ucrânia quer aderir à OTAN ninguém o pode negar…Quanto à natureza autocrática e reacionária do regime de Putin só os idiotas úteis da esquerda leninista o podem negar.
Dito isto repito: os Povos, pior ainda, os anarquistas, têm de escolher um campo? Nem ao diabo lembraria, pois os interesses das classes dominantes e das elites políticos não são comuns com os interesses dos Povos. Temos de ficar firmes na nossa análise crítica e autônoma e não ceder ao debate político, e geoestratégico, e menos ainda à escolha do mal menor.
Fonte: https://colectivolibertarioevora.wordpress.com/2022/02/25/os-libertarios-e-a-invasao-da-ucrania/
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