Boa noite a todos, menos aos soldados de Putin.
Por Yaugén Zhuráuski *
Depois de todas as deslocações para ações claramente fracassadas e perigosas, a fuga da Bielorrússia, e o que vivi durante os meus 29 anos, não foi assim tão difícil viajar para a Ucrânia devastada pela guerra, embora fosse assustador.
Não estava totalmente claro para onde eu ia, o que me esperava, se me seria permitido passar na fronteira. Não tinha a certeza se chegaria ao meu destino, pois o meu passaporte atraía a atenção nos postos de controle e havia também um ataque de aviões inimigos.
Mais o medo de que a primeira batalha fosse também a minha última. Mas o maior medo era desiludir os meus camaradas de armas.
Apesar de todos os meus receios, tinha um forte desejo de estar no centro dos acontecimentos e de participar na luta contra o próprio sistema ditatorial que, no Outono de 2020, me expulsou da minha casa, aprisionou mais de mil pessoas, incluindo os meus amigos e conhecidos, e transformou a minha cidade natal na base a partir da qual os bastardos de Putin bombardeavam Kiev e outras cidades.
Estou convencido de que os acontecimentos que hoje ocorrem na Ucrânia estão a decidir o destino não só da própria Ucrânia, mas de toda a Europa.
A democracia europeia é horrível, mas o que é muito mais horrível é o que o chamado “mundo russo” está a trazer do Leste. Os resquícios de liberdades e direitos que a classe trabalhadora conseguiu na Europa, depois de uma longa luta, serão completamente destruídos pela distopia russa, transformando tudo em redor num campo de concentração, como já fizeram na Bielorrússia, na Rússia e, em parte, no Cazaquistão.
Mikhail Bakunin na sua obra “Federalismo, Socialismo e Antiteologia” escreveu o seguinte: “Estamos firmemente convencidos de que a república mais imperfeita é mil vezes melhor do que a monarquia mais esclarecida, pois numa república há momentos em que o povo, embora eternamente explorado, pelo menos não é oprimido, enquanto nas monarquias é constantemente oprimido“.
Assim, a Rússia de hoje é essa monarquia insanamente agressiva.
Leio frequentemente que esta é uma guerra imperialista, embora não seja claro qual é o segundo império – e que não há nada que os anarquistas possam lá fazer.
Que os nazis, que lutam em qualquer exército, estão a lutar pela Ucrânia. Que os soldados de ambos os lados devem virar as suas armas contra os governos, etc., mas ainda não ouvi dizer que isso também acontece do lado das tropas dos “libertadores”.
E existem muitas outras críticas, com algumas das quais posso até concordar, mas o problema é que ficar à margem e assumir uma posição de classe correta significa tornar-se uma testemunha silenciosa dos bombardeamentos de Kiev, Kharkiv, Chernigov e Mariupol. E a minha consciência não me permite simplesmente ficar à margem.
Por isso, estou hoje na Ucrânia, que vai enfrentar todas estas dificuldades e tornar-se finalmente livre da influência de Moscou, e com ela a Bielorrússia tornar-se-á livre, e esperemos que, depois disso, a própria Rússia se torne finalmente uma verdadeira federação de nações livres.
* Anarquista bielorrusso, refugiado na Polónia, agora combatente voluntário na Ucrânia
(através de P. M. para a #redelibertaria)
agência de notícias anarquistas-ana
Ainda há pouco
o vento sussurrava no arroz selvagem
agora está numa fúria invernal
Buson
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!