“O anarquismo, ao longo do tempo, foi sabendo se adaptar às novas circunstâncias”

A seguir, entrevista de Eduardo Nunes concedida ao Instituto de Estudos Libertários (IEL).

Instituto de Estudos Libertários > Quem é Eduardo Nunes?

Eduardo Nunes < Um ser humano como outro qualquer que se indigna com a injustiça, a pobreza, o autoritarismo, as ditaduras, a devastação ambiental, com esse mundo em crise. É um ser humano que gosta de amigos, da liberdade, da natureza, das artes, de ser colaborativo, solidário com as pessoas. Embora tenha tido uma educação conservadora na família e nas escolas autoritárias por onde passei, acabei, em minha consciência e prática de vida, na medida do possível, me distanciando desses ensinamentos, me tornando uma pessoa com outra visão de mundo e aprendendo a gostar, a partir da literatura, das artes, da música, principalmente depois com as outras artes, me direcionado, em um determinado momento, ao pensamento anarquista. Nasci em 1955, em Salvador, trabalho como Professor numa universidade pública daqui. Na formação acadêmica, fiz bacharelado e mestrado em ciências sociais na UFBA e o doutorado em geografia na Universidade de Barcelona.

IEL > Em que circunstância entrou em contato com o pensamento anarquista?

Eduardo < Foi nos anos 1975, tinha 20 anos, através de um amigo que estava na Faculdade de Filosofia e conheceu algumas pessoas que se reuniam para discutir sobre esse tema. Eu ainda não estava em ciências sociais, já tinha concluído o ensino médio (na época se chamava científico) e me interessava sobre artes, literatura, teatro, cinema e a música dos anos 1960, as bandas de rock e o seu estilo de vida, os festivais e as propostas comunitárias de uma vida alternativa. Fazia teatro amador, conheci um grupo de teatro marxista, cheguei a participar de alguns ensaios, mas não me afinei devido à rigidez que essa ideologia emanava. Nesse ano, esse amigo falou desse grupo e marcamos um encontro para ele me passar um texto, num lugar movimentado. Na rua, passamos um pelo outro, conversamos um pouco. Eu levava um jornal comum e ele me passou a revista. Depois de algumas semanas, participei da primeira reunião com 4 a 5 pessoas. No ano seguinte já estava na universidade e passamos a formar grupos nos cursos em que cada integrante fazia, daí surgiram, inicialmente, grupos em filosofia, ciências sociais, comunicação e economia na UFBA.

IEL > Você se identifica com alguma linha histórica do anarquismo?

Eduardo < Me identifico com as teses centrais do pensamento anarquista: a crítica ao estado, à propriedade privada, e a todas organizações que querem subjugar os indivíduos. Penso que cada época tem suas estratégias de luta para se confrontar com essas questões e o anarquismo, ao longo do tempo, foi sabendo se adaptar às novas circunstâncias. Houve períodos em que as organizações anarcossindicalistas eram a principal forma de luta, mas não era apenas a única. Os anarquistas investiam em escolas, nos bairros, na cultura, mais recentemente, sobretudo a partir dos anos 1960, outros elementos e ações libertárias foram surgindo, o anarquismo foi se reinventando, no campo da ecologia, dos movimentos estudantis, da luta pelos direitos civis, dos movimentos antimanicomiais, do abolicionismo penal, de gênero, contra o racismo e também nas organizações de bairro.

>> Para ler a entrevista na íntegra, clique aqui:

https://ielibertarios.wordpress.com/2022/03/15/entrevista-de-eduardo-nunes-ao-instituto-de-estudos-libertarios/

agência de notícias anarquistas-ana

Em nosso mundo, até
as borboletas estão cansadas,
estão cansadas de viver.

Issa