[Reino Unido] O anarquismo integrado? As recentes tendências, desafios e oportunidades do anarquismo acadêmico

Por Giuseppe Maglione | 22/01/2022

Carissa Honeywell, Anarchism, Polity Press, Cambridge, 2021, 168pp. ISBN 9781509523917
Ruth Kinna, The Government of No One: The Theory and Practice of Anarchism, Pelican, London, 2019, 432pp., ISBN 9780141984667
Carl Levy and Saul Newman (Eds.), The Anarchist Imagination: Anarchism encounters the humanities and the social sciences, Routledge, London and New York, 2019, 278pp., ISBN 9781138782761

Do Occupy ao apoio mútuo em tempos de pandemia, de Rojava ao Invisible Committee [Comitê Invisível], ideias associadas à constelação cultural anarquista tiveram um pico de popularidade entre ambos estudiosos e ativistas (Rodgers Gibson, 2019). Nomeadamente, a última década testemunhou um aumento significativo da atenção acadêmica dedicada à teoria política anarquista. Um indicativo desse fenômeno é o número crescente de dissertações e antologias sobre o anarquismo publicadas por editoras tradicionais, na realidade, a produção editorial sobre o anarquismo sempre foi grande e incansável, mas confinada a tipos específicos de publicações e editoras especializadas.

Três exemplos recentes do desenvolvimento do interesse acadêmico nesse assunto são Anarchism [Anarquismo] de Carissa Honeywell,The Government of No One [O Governo de Ninguém] de Ruth Kinna e a edição de The Anarchist Imagination [A Imaginação Anarquista] de Saul Newman e Carl Levy. Os três abordam dimensões diferentes do anarquismo, apresentando o leitor e leitora à práxis anarquista (Honeywell), a debates histórico-conceituais (Kinna) e a usos analíticos para enriquecer ciências sociais e humanas (Newman e Levy). Em geral, geram uma imagem refinada dos desenvolvimentos contemporâneos e dos desafios característicos do anarquismo que provoca reflexão, demandando uma leitura atenta e crítica. Apesar de uma pequena tendência ao anglo centrismo e uma possível inclinação à apropriação epistêmica, têm o potencial de ajudar a impulsionar o interesse acadêmico no anarquismo.

O Anarchism de Honeywell fornece um engajamento crítico com temas específicos dentro do anarquismo, também enfatizando alguns dos lugares comuns que prosperam no assunto (por exemplo, sua natureza niilista, destrutiva e contraproducente). Cada capítulo lida com uma dimensão da práxis anarquista contemporânea e seus princípios adjacentes.

A introdução e o capítulo 1 primeiramente definem o anarquismo metateoricamente, apresentando então um breve histórico da anarquia. ‘Anarquismo’ é aqui definido como [em tradução livre] ‘uma série conectada de tentativas de resposta a [danos, violência, recursos em colapso] sob uma perspectiva igualitária e antiautoritária’ (p. 1), que coalesce em volta da ideia de que ‘a hierarquia política coercitiva […] é uma escolha’ (p. 3). Tendo definido esses limites conceituais amplos, o capítulo 1 apresenta um resumo de boa parte dos teóricos e teorias canonizadas do anarquismo do final do século XIX ao final do século XX.

Os capítulos 2, 3 e 4 consistem de três estudos de caso sobre a práxis anarquista contemporânea. Honeywell descreve alguns dos valores anarquistas fundamentais utilizando uma abordagem do básico ao complicado, ou seja, trazendo vários possíveis exemplos de práticas que dão corpo a esses valores. O primeiro foca na rede de apoio mútuo ‘Food Not Bombs’ (FNB) elevada a um paradigma da centralidade da dinâmica relacional (por exemplo, confiabilidade, interdependência e confiança, e suas ligações com a liberdade) dentro do anarquismo. O FNB é um movimento global voluntário de partilha de alimentos dedicado à ação direta não violenta. Seu horizonte normativo é promover uma transição para comunidades autogovernadas, enfatizando uma política de sobrevivência e resistência ao neoliberalismo através da ‘desmercantilização de alimentos e da politização da fome’ (p. 37).

O capítulo 3, sobre redução de danos, usa o ‘Prevent Point’ como um estudo de caso. A iniciativa de base almejava parar a disseminação da AIDS na década de 1980, propondo um modelo de cura e prevenção da doença que é agora conhecido como ‘redução de danos’. Essa abordagem não estigmatizada e não punitiva é considerada por Honeywell uma expressão não dominante de se relacionar (pp. 66–67). Honeywell destaca a ressonância entre o antigo movimento de redução de danos, que emergiu como um conjunto de práticas ativistas de cooperação ilegais e voluntárias, e o conceito-chave anarquista de prefiguração (p. 67). As políticas prefigurativas insistem em como ações do presente definem resultados futuros, no alinhamento normativo entre fins e meios. Honeywell defende um entendimento de prefiguração que combina reforma no presente com transformação radical no futuro, usando dependência química como um exemplo de efeitos políticos do deslocamento de relações sociais (p. 75).

O próximo capítulo trabalha a ideia de justiça-além-da-punição, baseando-se na premissa de que a punição não convém às necessidades sociais daqueles que se envolvem em crimes enquanto funciona como uma das justificações primárias do monopólio da violência pelo Estado (p. 97). Aqui o estudo de caso é o ‘Empty Cage Collective’ [Coletivo da Jaula Vazia], um grupo anarquista que trabalha com apoio aos encarcerados e com uma agenda maior de abolicionismo penal. O coletivo argumenta rumo a formas não violentas de garantir a segurança de indivíduos e comunidades e maneiras mais ‘restaurativas’ para responder aos danos do que infligir novos danos (p. 98), e que essas opções alternativas estão ligadas a lutas mais amplas que W.E.B. Dubois chama de ‘democracia da abolição’. Honeywell se lembra das contribuições da criminologia anarquista que são integrais a aspirações transformativas mais amplas – aumentando a gama de conflitos e danos que uma comunidade pode resolver através do diálogo, enquanto reconhece que um quadro de resolução de conflitos nem sempre é aplicável (por exemplo, abuso e assédio sexual) (p. 123). As conclusões terminam a argumentação enfatizando o ponto principal da desmilitarização das nossas vidas a nível granular e de repensar nossas relações em um jeito prefigurativo.

O The Government of No One de Ruth Kinna é essencialmente um livro didático contemporâneo sobre anarquismo, ambos pelo estilo (uniforme e factual) e pelo conteúdo (denso e amplo). Similar a Honeywell, funciona como uma introdução aos mitos e realidades do anarquismo, focando na teoria e na prática (p. 7).

O primeiro capítulo discute as tradições anarquistas, em uma tentativa de encontrar um meio-termo entre a ideia do anarquismo como um monólito ideológico com limites bem definidos e como um hospedeiro de coisas distintas frouxamente conectadas por determinados valores. Descreve então a principal finalidade do Estado como um aparato para preservar a distribuição desigual da propriedade privada através da polícia e das prisões e a demonização e criminalização subsequentes da dissidência anarquista.

O capítulo 2 muda do mapeamento histórico aos desafios conceituais ao catalogar críticas culturais anarquistas para explicar a consistência da subjugação (p. 56), um clássico tema anarquista. Os dois objetos principais dessa análise cultural são a crítica anarquista da dominação e uma de suas réplicas – a educação. A dominação é ‘um tipo difuso de poder, cravado na hierarquia – estruturas piramidais, ordens de prioridade e cadeias de comando – e em acesso desigual a recursos econômicos e culturais’ (pp. 59–60). Kinna vê a rejeição da dominação como o elemento unificador das lutas anarquistas e da educação transformativa, compreendido como ‘uma abordagem à vida, tocando nas convenções há muito estabelecidas que enfatizam os processos de socialização e desenvolvimento moral, bem como o aprendizado ou aquisição de conhecimento’ (p. 84), como uma ferramenta chave para superar a dominação.

O capítulo 3 até certo ponto continua o anterior, discutindo práticas diferentes da educação para desafiar a dominação ligadas com os dois debates anarquistas, o primeiro já razoavelmente batido (violência e organização), enquanto o outro é mais recente (classe e interseccionalidade). Kinna argumenta que, no século XIX, anarquistas viam a violência como às vezes integral à ideia de ‘propaganda pela ação’, outros como um produto da brutalização muito capitalista da resistência (p. 121). Essa seção fornece uma análise histórica perceptiva dos vários desdobramentos no anarquismo que se originaram em volta da discussão sobre o papel da violência. Ainda assim, a história sempre influencia o presente e, na verdade, anarquistas ainda discutem sobre a violência, e debates sobre a diversidade tática ou black blocs são expressões desse tema recorrente (p. 133).

Sobre a opressão de classes, Kinna afirma que a crítica dentro do anarquismo é apenas parcialmente alinhada com a análise marxista, já que esta é vista como adjacente a uma ingênua ‘tese de progresso’ e a um determinismo histórico (p. 151) e aquela ideia de classes é totalizante e não inclui todos os oprimidos (p. 154). Essa discussão é então combinada com a interseccionalidade. Grande parte do pensamento e da prática anarquista recentes adotou, principalmente a partir do feminismo preto, uma abordagem interseccional à opressão. Contudo, há opiniões diferentes sobre como teorizar as relações entre opressões de classe e outros tipos e sobre o tipo de ação que deveria se seguir à crítica interseccional (p. 157). A aposta do livro aqui é que todas as formas de opressão estão no mesmo nível de intensidade e que focar apenas na classe socioeconômica significa se render a uma estratégia burguesa de distração.

O capítulo 4 discute as ‘constituições anarquistas’, ou seja, esforços anarquistas para solidificar seus valores ao traduzi-los em estatutos constitucionais. O capítulo descreve então algumas visões anarquistas utópicas, como visões menos sólidas de formas anárquicas da vida comunitária. Refletem então em considerações anárquicas sobre a democracia, ambos em termos de crítica de concepções meramente procedimentais de democracia e em termos de visões democráticas anarquistas/comunalistas. Finalmente, inclui uma pequena discussão sobre consenso e tomada de decisão, seus valores de base, regras e aplicações.

O último capítulo explora ‘perspectivas’ futuras para o anarquismo. Começa com a abordagem de ideias anarquistas sobre sucesso e falha, reposicionando-as como questões de capacidade, resiliência e resistência. Kinna reflete então sobre a suposta impossibilidade de superar o Estado, propondo uma alternativa à ideia de ‘anarquização’, o que consiste em ideias de mudança que têm como objetivo a alteração, embora parcial, de arranjos sociais de acordo com princípios anarquistas, como por exemplo, através da construção de relações entre anarquistas e não anarquistas, ou por atos de transgressão e desobediência (p. 265). O livro não tem uma conclusão, mas uma seção final para biografias de anarquistas, um tributo para aqueles que frequentemente sacrificam suas vidas pelos ideais anarquistas.

O The Anarchist Imagination de Levy e Newman é significativamente diferente dos livros de Honeywell e Kinna por duas razões principais. Primeiramente, por ser uma antologia editada, em segundo lugar, por ter um objetivo altamente específico: redescobrir as raízes anarquistas conceituais e normativas de certos domínios disciplinares, ou oferecer algumas ferramentas analíticas anárquicas que são usadas, ou que poderiam ser usadas, por acadêmicos das ciências sociais e humanas.

A introdução de Levy começa com uma breve reflexão do significado do construto teórico chave ‘imaginação anarquista’. Referenciando o conceito conhecido de C. Wright Mills, ‘imaginação sociológica’, Levy descreve a imaginação anarquista como um âmbito fluido de ‘metodologias e construtos teóricos anarquistas [que] influenciaram as humanidades e as ciências sociais’ (p. 4). O elemento anarquista se refere aos ‘momentos de loucura’, contingência e imaginação na realização da pesquisa acadêmica, destacando o impulso normativo dessas atividades político-intelectuais. O anarquismo aparece aqui como um tipo de invariável histórica epistêmica, na medida em que representa o amigo ou o inimigo de cientistas sociais tão distintos entre si quanto Marx, Spencer, Weber, Gramsci e Mills.

A primeira metade do livro aborda principalmente a imaginação anarquista na teoria política e na ciência política, amplamente concebida. O capítulo de Bamyeh demarca o anarquismo autoconsciente e o anarquismo orgânico, usando a derrubada do regime de Mubarak no Egito como um estudo de caso (p. 30). A imaginação anarquista é aqui mobilizada para dar um sentido sociológico à Primavera Árabe, fornecendo uma abordagem do zero para formas estruturais de resistência e mobilização que podem ser aplicadas ao estudo sociológico de outros movimentos sociais. O próximo capítulo (por Kazimi) é uma crítica anarquista do conceito de ‘anarquia’ dentro das Relações Internacionais, aqui, a imaginação anarquista funciona como uma crítica do campo disciplinar (p. 42). Isso se encaixa com o capítulo de Rossdale, que contém uma crítica anarquista de estudos críticos de segurança e, nomeadamente, do conceito restritivo de segurança, sugerindo uma extensão de seu escopo para além da perspectiva anarquista através da conexão entre segurança e redes de apoio mútuo, não com agências violentas do Estado (p. 62).

O capítulo de Newman examina teóricos políticos e sociais pós-estruturalistas, em suas contribuições indiretas ao anarquismo, em direção a uma política ética que contesta a soberania por ângulos diferentes (p. 81), enquanto a obra de Kinna muda levemente o foco da teoria política europeia para a ciência política anglo-americana (p. 95). O ponto principal aqui são as escolhas metodológicas integrais à emergência do campo disciplinar, que estão em desacordo com os valores anarquistas, e o fato de que um esforço intelectual significativo é necessário para anarquizar não apenas o campo amplo de ciência política anglo-americana (Kinna), mas também teorias políticas específicas do anarquismo desenvolvidas sobre essa questão (Newman). O capítulo de Jeppesen destaca como anarcofeministas contribuíram com a redefinição dos parâmetros de entendimento do poder e da opressão, quebrando a divisão do público-privado (p. 110). Heckert fecha idealmente essa parte homogênea do livro, provendo uma meditação sobre ‘políticas amorosas’ e sobre a política como um relacionamento. Esse é um profundo esforço intelectual transdisciplinar para fertilizar a teoria política usando principalmente um conceito ontológico de anarquismo como um catalisador por mudanças (p. 132).

A segunda parte do livro inclui contribuições de uma variedade de disciplinas, principalmente no domínio das ciências sociais. O capítulo de Ince agrega a geografia sob uma perspectiva anarquista (p. 146), com foco na conceitualização de espaços como padrões de rede de autonomia na luta contra a desregulação neoliberal, enquanto se trabalha em direção aos espaços comunitários. Aproximadamente nas mesmas linhas disciplinares, Ranmath fornece uma crítica simpática aos estudos pós-coloniais, trazendo uma orientação normativa anticolonialista e sugerindo que ela deveria ser adotada por estudiosos pós-colonialistas (p. 163). O capítulo de Loizidou entra em uma crítica anarquista à lei, questionando as concepções de lei do Estado em uma perspectiva crítica anarquista (p. 181), fornecendo uma crítica similar à análise de Suissa da deterioração normativa da educação fornecida pelo Estado. Christoyannopoulos foca em estudos da religião, refletindo nos emaranhamentos reais possíveis entre religião, estudos da religião e anarquismo (p. 210), enquanto o capítulo final de Antliff se preocupa com o papel da estética nas políticas do anarquismo (p. 229). A conclusão do livro, escrita por Levy, encara alguns dos desafios recorrentes levantados e/ou experienciados pelos autores e autoras, particularmente em torno da apropriação cultural do anarquismo (p. 240).

As três tentativas de explorar, mapear e redescobrir o anarquismo criticamente revisadas acima deveriam contribuir com o estímulo do interesse acadêmico em torno desse assunto por várias razões. Primeiramente, todos fornecem uma análise sustentável dos mitos negativos que rondam o anarquismo através de um engajamento intenso, ainda que equilibrado, com suas fontes, temas e desafios. Argumentam persuasivamente que não há espaço para o humanismo ingênuo na antropologia anarquista contemporânea que caracteriza o anarquismo clássico, enquanto contestam o pessimismo antropológico hobbesiano ao apelar à primazia das conexões e interconexões sociais; que anarquismo não é sinônimo de violência, mas de cooperação e solidariedade; que o anarquismo não é uma utopia, mas um horizonte normativo encenado diariamente no mundo inteiro por uma gama diversa de ativistas, acadêmicos e pessoas no geral. Os três livros combinam a filosofia anarquista com o anarquismo como uma forma de ativismo político enquanto adotam uma postura cultural-epistêmica antifundacionalista, problematizando os limites entre ação e pensamento políticos em âmbito micro e macro. Desse ângulo, demonstram como os princípios anarquistas são relevantes às lutas políticas globais contemporâneas que envolvem a distribuição de recursos e a combinação de engajamento ético com a luta política.

Alguns possíveis problemas associados a esses esforços intelectuais também são dignos de nota. Os dois principais são uma apropriação epistêmica e um anglo centrismo ameaçadores. Sobre o primeiro, aplica-se aos exemplos de prática anarquista política e acadêmica discutidas nos três livros. Parece haver uma tendência compartilhada a rotular como ‘anarquista’ uma variedade de organizações, grupos e estudiosos distintos, baseando-se em sua ampla ressonância com valores anarquistas. Como resultado, o universo anárquico parece estar em incansável expansão, estar de alguma forma sem fronteiras. Embora essa operação possa exemplificar a criatividade do pensamento anarquista, não o é sem riscos. O primeiro risco é que as propriedades que conotam anarquismo se tornam mínimas, ao ponto em que ‘anarquismo’ parece uma palavra de efeito para capturar uma gama extensa de forças progressistas: tudo que não é dominante é anarquismo. Dessa forma, parece que se busca um tipo de legitimação: o anarquismo está em todos os lugares e em todos os momentos, e não em um nicho sombrio como é às vezes descrito de forma derrogatória. Ainda assim, essa operação epistêmica tem o custo da clareza conceitual.

Um segundo risco é ético: imagina-se se ações, conceitos, interpretações, histórias geradas por tais atores/organizações rotulados de anarquistas que acabam sendo separadas de seu contexto como resultado dessa rotulação. Esse ‘desapego epistêmico’ pode causar a expansão do saber anarquista ao incorporar esses novos recursos epistêmicos, porém há um risco remanescente de reduzir o papel singular e específico ao contexto dos colaboradores e colaboradoras ‘no processo do conhecimento’ (Davis, 2018, p. 705). As vozes desses grupos, atores e estudiosos, embora elevadas aos paradigmas do anarquismo, às vezes aparecem limitadas por sua incorporação instrumental em um horizonte epistêmico formal (como por exemplo, o anarquismo).

Quanto ao anglo centrismo, embora os autores e autoras se apoiem em histórias ou colaboradores e colaboradoras de fora da anglosfera, uma ênfase em experiências, escritores, escritoras e conceitos anglófonos persistem, como por exemplo, o de comunidade. Não são descritores neutros, mas construtos culturalmente sensíveis com frequência embasados em modelos cognitivos específicos (Levisen, 2018) que necessitam de problematizações e autocríticas mais abertas.

Essas obras possivelmente poderiam representar uma tendência à expansão das fronteiras do anarquismo como uma combinação de teoria política e prática. Por essa razão, torna-se urgente refletir sobre ‘qual anarquismo’ é adotado por esses autores e autoras, apesar de seus esforços para honrar a diversidade integral de dentro do cosmos anarquista. Em geral, parece haver uma preferência por um anarquismo ‘menor’, apenas normativamente clássico, mas antropologicamente um pós-anarquismo, grandemente social-comunista e certamente anticapitalista. O anarquismo emerge fortemente como um estilo de raciocínio normativamente pesado, representado em práticas divergentes rumo à anarquização. Aqui, o anarquismo tradicional significa tradicionalizar este anarquismo.

Estamos muito longe da institucionalização real do anarquismo acadêmico, e é difícil dizer se isso será possível (ou desejável) futuramente. Enquanto essas empreitadas intelectuais que chamam a atenção para esse fluido universo podem ser favoravelmente recebidas por teóricos políticos anarquistas, existem riscos integrais a essa possível integração. O dilema é equilibrar esses riscos contra um espaço alternativo sombrio ao qual o anarquismo acadêmico se relegou (ou talvez fosse relegado) há muito tempo – uma marginalidade contraproducente. Que as tentativas de engajamento com experiências de base, o mapeamento do desenvolvimento histórico a longo prazo e a redescoberta de conexões culturais inéditas (como fizeram Honeywell, Kinna, Newman e Levy) contribuam para um desenvolvimento retrorreflexivo e prefigurativo do anarquismo dentro da academia.

Fonte: https://link.springer.com/article/10.1057/s41296-021-00532-7

Tradução > Sky

agência de notícias anarquistas-ana

O clarão da Lua
guiando o caminhoneiro.
Saudades de casa.

Antônio Seixas