Nós estamos em uma guerra diária com o status quo, com todas as formas de poder que devoram nossas vidas, e eu percebi qual é o meu lugar nesta guerra. Em um mundo onde o patriarcado nos estupra e mata, onde o capitalismo nos esmaga, empobrecendo o que chamamos de vida, um mundo onde a humanidade domina a natureza e os animais, perpetrando pensamentos antropocêntricos e especistas. Por isso escolhi meu lado. Já que a estrutura de poder não destruirá a si mesma, e nenhuma mudança virá sem que nossa ação transcenda as lógicas reformistas, tendo a convicção para acreditar, e compromisso para com nossas ideias, botamos nossa teoria em prática.
Eu orgulhosamente me declaro uma anarquista, orgulhosa de que nessa sociedade podre, nessa sociedade da submissão e do espetáculo, eu não curvei minha cabeça para a exploração e o poder, e escolhi resistir junto a minhas companheiras que, ao apoiar uma resistência multiforme, também escreveram suas próprias páginas na memória da história revolucionária. Até então, vivendo minha vida ao lado delas, em okupações, através de seus esforços diários por liberdade, eu aprendi o que solidariedade e camaradagem significam, o que significa dar tudo de si pelo que se acredita mesmo sob o risco de se perder a própria liberdade. Eu assumo a responsabilidade política dos meus atos, na cumplicidade dos ataques incendiários que aconteceram em 08/02/2022 na Fundação para a Reflexão Nacional e Religiosa. Uma ação isolada, que não foi feita por uma organização anarquista, nominalmente a organização Ação Anarquista da qual sou acusada de ser parte, mas que foi motivada pelos desejos e ódio de duas pessoas, contra o obscurantismo religioso, o patriarcado e o poder estatal.
Onde a aceitação social encontra o conservadorismo bem estabelecido na pessoa de um padre, um homem que mesmo nos dias de hoje continua tendo poder sobre nós, sobre o corpo de uma menina menor de idade que ele não hesitou em violar da maneira mais obscena, sabendo que entre sua supremacia masculina e sua prerrogativa de pessoa santa, não haveriam consequências. Como tantos outros como ele, racializados ou não, sabendo que possuem todo um sistema de poder para protegê-los e a cumplicidade do Estado, eles continuam a perpetrar violência de gênero, patriarcal e sexista, como resultado, todos os dias contamos mais mulheres em suas listas de vítimas. A ação foi escolhida para acontecer em um prédio de propriedade da igreja para ilustrar o fato e servir como mensagem para qualquer padre que pense que suas ações virão sem consequências.
Eu sou agora, uma prisioneira na prisão feminina de Korydallos, indiciada sob a 187A, terrorismo e associação com a organização Ação Anarquista, a qual a responsabilidade política foi assumida pelo companheiro Thanos Chatziaggelou. Um anarquista e orgulhoso revolucionário, ele não se curvou frente o aprisionamento nas celas da democracia e não recuou em momento algum.
Portanto, nós encaramos uma acusação, hoje conhecidas por aqueles que são perseguidos por suas atividades políticas e identidade, que precisa de 3 pessoas para ser acionada, o que foi demonstrado pela prisão do companheiro Panos Kalaitzis, que é nitidamente perseguido por sua relação de amizade e colaboração com Thanos. Nós estamos bem cientes das intenções e táticas da polícia antiterror, suas tentativas de nos aniquilar política e psicologicamente. Isso não vai acontecer. Nós três estamos unidos contra eles.
Sobre minha vida na prisão: Tem sido hábito deles, se imporem sobre mim, em alguns casos considerando minha correspondência como inaceitável por conta de seu conteúdo político. Eles pensam que vão quebrar nossa moral, mas acabam apenas por nos fortalecer. Força para todas companheiras aprisionadas, humanas e não-humanas, mantidas cativas nas fossas infernais deste mundo.
Pela libertação total e a anarquia.
Georgia Voulgari,
Prisão Feminina de Korydallos
Tradução > 1984
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!